Carros podem ficar mais caros nos EUA se Trump impor tarifas


As tarifas sobre as importações canadenses e mexicanas se aproximam novamente. E isso pode fazer com que os preços dos carros subam, mesmo os montados nos Estados Unidos.

Isso ocorre porque o setor automotivo operou por décadas como se toda a América do Norte fosse um mercado único, movendo peças de automóveis e veículos entre as fronteiras dos três países.

Como resultado, não existe um carro totalmente norte-americano, construído com peças fabricadas exclusivamente nos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta semana que as tarifas de 25% sobre o valor de todas as importações do México e as importações do Canadá, exceto produtos energéticos, entrarão em vigor na terça-feira (4).

Na última vez que Trump anunciou essas tarifas, ele reverteu o curso e adiou a entrada em vigor por um mês.

Mas, a menos que haja outro adiamento ou que a ameaça de tarifas seja abandonada, o setor automotivo e os preços dos carros devem sofrer um choque.

“Provavelmente, não há nenhum veículo no mercado hoje que não seja afetado de alguma forma pelas tarifas”, disse Peter Nagle, economista automotivo da S&P Global Mobility, à CNN.

“Eu acredito que os preços começarão a mudar em uma ou duas semanas após as tarifas entrarem em vigor.”

O governo dos EUA controla a porcentagem de peças de cada carro que é fabricada no país. Mas, de acordo com a lei comercial atual, tanto as peças fabricadas no Canadá quanto as peças fabricadas nos EUA são contadas como provenientes de um único país.

Mesmo com a definição mais ampla de fabricação americana, nenhuma supera 75%.

Há apenas dois veículos que são considerados 75% fabricados nos EUA pelo governo dos EUA — o Tesla Model 3 e o Honda Ridgeline, uma picape montada em uma fábrica da Honda na cidade de Lincoln, no estado do Alabama.

E, mais uma vez, esse número de 75% inclui peças vindas do Canadá.

Quase todos os veículos que têm 50% ou mais de suas peças provenientes de fornecedores americanos ou canadenses são fabricados pela Tesla ou por marcas que são ostensivamente estrangeiras, mas montadas nos Estados Unidos — Honda, Hyundai, Kia, Nissan, Mazda, Subaru e Toyota.

O Ford F-150, o veículo mais popular dos Estados Unidos há mais de 40 anos, tem a maior quantidade de peças produzidas internamente em comparação com qualquer outro veículo fabricado por uma das três montadoras de Detroit, símbolo do setor automobilístico norte-americano.

Embora todas as peças sejam montadas em uma picape produzida nos estados de Michigan ou Missouri, apenas 45% dessas peças vêm de fábricas americanas ou canadenses.

Muitas das versões maiores de seus motores são fabricadas no México.

“Sim, é a caminhonete dos Estados Unidos, montada nos Estados Unidos, mas não com peças americanas”, disse Ivan Drury, diretor de insights do site automotivo Edmunds, à CNN.

Isso significa que, além das tarifas programadas para entrar em vigor, os carros montados em fábricas canadenses ou mexicanas — até mesmo os montados nos Estados Unidos — também terão um aumento de preço de milhares de dólares por unidade.

E se espera que esses custos sejam repassados aos consumidores.

Esses veículos incluem o Chrysler Pacifica e alguns Chevrolet Silverados, que são montados em fábricas canadenses, e o Ford Mustang Mach-E e o Honda HR-V, que são montados em unidades mexicanas.

“Sejamos honestos: a longo prazo, uma tarifa de 25% sobre as fronteiras do México e do Canadá abriria um buraco na indústria dos EUA como nunca vimos”, disse o CEO da Ford, Jim Farley, em comentários aos investidores em fevereiro.

Choque de preços se aproxima

As concessionárias de automóveis dos EUA têm uma média de dois meses de estoque de veículos em seus lotes e showrooms, variando de um estoque de 36 dias na Toyota e na Lexus a um estoque de 92 dias na Ford e na Lincoln, de acordo com dados da Edmunds.

No entanto, mesmo os preços dos carros fabricados antes da entrada em vigor de qualquer tarifa provavelmente sofrerão um aumento, pois as concessionárias tentarão preservar esse estoque.

“O estoque disponível se tornará mais valioso, e os revendedores tentarão estender o fornecimento de suprimentos sem tarifas o máximo possível, na esperança de que isso seja resolvido rapidamente”, disse Nagle.

É provável que um corte na produção faça os preços subirem, como aconteceu no primeiro ano da pandemia de Covid-19. Naquele período, a escassez de chips de computador causou outra redução na disponibilidade de veículos, porque os carros não podem ser fabricados se faltar um número pequeno de peças.

Como resultado, os compradores acabaram pagando preços recordes. Até mesmo os preços dos carros usados subiram em um ritmo sem precedentes, não porque precisassem de novos chips de computador, mas porque havia um número limitado de carros novos disponíveis.

“Poderíamos ver um retorno do que aconteceu durante a crise dos chips, quando a maioria das pessoas estava pagando acima do preço de etiqueta”, disse Nagle. “A acessibilidade pode estar em risco rapidamente.”

O preço médio de venda de um carro novo adquirido por compradores norte-americanos atingiu o recorde de US$ 49.327 em dezembro e caiu apenas US$ 1.200 em janeiro, de acordo com dados da Edmunds.

Mas se espera que os carros novos sejam vendidos por mais de US$ 50 mil, em média, até março, início de um período tradicionalmente aquecido para as montadoras, à medida que as restituições de impostos se tornam disponíveis.

“Haverá choque nos preços”, disse Nagle.

“Muito custo e caos”

As montadoras tentam se preparar para as tarifas estocando peças mexicanas e canadenses e aumentando os estoques de veículos desses países. Mas essas medidas só ajudarão por um curto período de tempo.

O custo de produção de carros em toda a América do Norte aumentará entre US$ 3,5 mil e US$ 12 mil, de acordo com a análise de dados públicos e privados do Anderson Economic Group.

E como não será viável fabricar alguns dos modelos com esses custos mais altos, principalmente carros com pacotes de opcionais mais baratos, é provável que haja cortes na produção e redução de empregos em todo o setor, disse Patrick Anderson, CEO do grupo.

“Os produtores deixarão de fabricar alguns dos modelos”, previu Anderson.

O executivo disse que a sugestão de Trump de que as montadoras voltarão a produzir nos Estados Unidos como resposta não é realista.

“Não vejo como é possível transferir uma planta de produção para o outro lado da fronteira em meses ou mesmo em um ano”, disse ele. “É um processo de vários anos para transferir uma fábrica. Não há um caminho para se mudar de Ontário [Canadá] para Indiana [EUA].”

A ameaça de tarifa anterior de Trump, há um mês, causou problemas financeiros e logísticos para as montadoras, apesar de não ter entrado em vigor.

“Até agora, o que estamos vendo é custo e caos”, disse Farley, da Ford, em 11 de fevereiro, em uma conferência da Wolfe Research.

Demissões também se aproximam

No curto prazo, os cortes na produção podem significar demissões temporárias nas fábricas dos Estados Unidos.

Há cerca de 1 milhão de pessoas construindo carros e fabricando peças automotivas, de acordo com o Departamento do Trabalho. Cerca de 300 mil trabalham em fábricas de montagem de automóveis nos EUA.

Trabalhadores da indústria automobilística na General Motors, Ford e Stellantis são sindicalizados e têm algumas proteções quando demitidos — como pagamento suplementar para cobrir a maior parte da diferença entre os benefícios de desemprego e seu salário normal.

Mas cerca de metade dos 300 mil trabalhadores de fábricas dos EUA não têm essas proteções negociadas pelo sindicato.

E a maioria desses milhões de trabalhadores de fábrica está em montadoras de peças, grandes e pequenos, e os cortes de empregos nesses fornecedores podem ser severos.

“O efeito disso vai muito além das pessoas que são empregadas pelas montadoras”, disse Anderson. “Fabricantes de peças, aqueles envolvidos no transporte, até mesmo na publicidade, os cortes serão um custo enorme. Vai ser um choque para todo o mercado.”

Quais os produtos e países que Trump ameaçou tarifar até agora?



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