diz viúvo de Zé Celso sobre desfile na Vai-Vai – 02/03/2025 – Mônica Bergamo


A Vai-Vai tinha menos de 60 segundos para concluir dentro do tempo permitido o último desfile de Carnaval do Grupo Especial de São Paulo neste sábado (1º). A plateia gritava a palavra que dá nome à escola em looping, em uma mistura de exaltação e ordem para que a agremiação passasse pela porta e encerrasse a celebração em homenagem ao diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso.

Morto em julho de 2023 após um incêndio no apartamento onde morava, o fundador do Teatro Oficina não chegou a vislumbrar a possibilidade de virar enredo da veterana do Bixiga. A ideia nasceu justamente durante seu funeral, quando o pavilhão do Vai-Vai foi colocado sobre seu caixão, dada a ligação entre o dramaturgo e a agremiação.

Era como se o cortejo fechasse um ciclo de despedidas iniciado há quase dois anos. Na concentração antes do desfile, parentes e amigos próximos do diretor se reuniram em torno do carro alegórico onde desfilariam e compartilhavam abraços, beijos, risadas e alguns momentos de silêncio.

“Tem uma semana que acordo saltando da cama. Estou nervoso como se fosse a estreia da primeira peça da minha vida”, disse à coluna Marcelo Drummond, viúvo do dramaturgo.

“Comecei a olhar cada coisa, a referência ao Oficina”, diz, apontando para o carro alegórico projetado pelo carnavalesco Sidney França que reproduz o teatro em formato de alegoria.

“Mas também tem coisas que nem sei o que é e me emocionam mesmo assim. É inexplicável. É uma emoção parecida com o casamento [entre Zé Celso e Marcelo].”

O ator Ricardo Bittencourt, outro companheiro do Oficina, conta que lidou durante todo o dia com uma ambiguidade de sentimentos. “Pensei muito se viria”, diz.

“Ele teria merecido receber essa homenagem em vida. Mas não contamos a história que não existiu, contamos como ela é. Então tem um misto de alegria entusiasmada em mim e uma angústia.”

“É muito louco pensar como ele já esteve exatamente aqui”, comenta Daniel Sebastião Júnior, componente da escola, referindo-se à participação de Zé Celso em desfile do Vai-Vai no final dos anos 1980. “E, hoje, estará de novo. Assim que o desfile começar você vai entender”, seguiu.

Pouco depois de a escola iniciar seu percurso no final da madrugada, um sol intenso atingiu o Sambódromo do Anhembi. Raios diretos se refletiam nas fantasias, carros e em uma chuva de prata espalhada pelo ar.

A luz chegava também aos corpos semi-nus exibidos pelas fantasias, fieis à estética do Teatro Oficina. Em um carro, contava-se mais de 20 pares de seios completamente à mostra —em outras alas, quando não eram reais, eram representados em adereços que compunham as fantasias.

A Vai-Vai apostou na potência da vida e obra de Zé Celso para interromper um ciclo de rebaixamentos e voltas à primeira divisão de São Paulo que enfrenta desde 2020. Fechou a segunda noite de desfiles com um sambódromo lotado e ecoando os versos: “Quem nunca viu o samba amanhecer? Vai no Bixiga pra ver”.


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