Oscar com jeitinho de Copa – 03/03/2025 – Sandro Macedo


Domingo, 2 de março de 2025. Foi um dia histórico. No meio do Carnaval, o Brasil finalmente ganhou o Oscar de melhor filme internacional com “Ainda Estou Aqui”, do botafoguense Walter Salles, desencadeando uma comoção quase no estilo de Copa do Mundo. Quase.

Não chegaram a pintar as ruas, mas deu tempo de levarem máscaras de Fernanda Torres para os blocos e fazerem bonecão da atriz em Olinda.

Na mesma noite, teve também a primeira estatueta para a Letônia, com a animação “Flow”. Paul Tazewell se tornou o primeiro homem negro a vencer um Oscar de figurino. E Pedro Raul marcou um gol em sua estreia pelo Ceará, após apenas dez minutos em campo, contra o Maracanã. Se você não pode marcar um gol no Maracanã, que seja contra o Maracanã, jovem time de Maracanaú. O feito de Pedro Raul, que já igualou sua campanha do Paulistinha, passará despercebido pela maioria diante do quadro geral —não por esta coluna.

Em um ano em que os cinemas não deram pelota para a transmissão do Super Bowl, o Oscar ganhou exibição em algumas salas. E este humilde escriba esteve presente no Cinesystem Frei Caneca para acompanhar a cerimônia e a torcida dos populares.

Para chegar ao cinema, tive que descer do carro e atravessar um bloco a pé. Foi a chance de bater o olho na TV dos bares e checar quem estaria ganhando a batalha das transmissões, o Oscar (já começando) ou o Santos de Neymar, que enfrentava o Bragantino. Nem um nem outro. As TVs estavam com o Carnaval.

Já vi jogo de futebol em sala de cinema: um horroroso Brasil 0 x 0 Portugal, na Copa de 2010, no qual os espectadores mal gritaram. Apenas alguns “ui” e arrepios quando o ginasta Felipe Melo cravou nota 9,5 em um carpado esticado quase na cara do zagueiro Pepe. Foi um jogo tão sem graça quanto “Um Completo Desconhecido”. Se fosse em sala VIP, renderia sonecas.

Desta vez, não. Os jovens espectadores levaram vuvuzela (outra maldição de 2010) e vibravam como se estivessem no estádio. A noite tinha um vilão definido. A cada menção a “Emilia Perez”, vaias e xingamentos na sala. Nem a coitada, e talentosa, coadjuvante Zoe Saldaña foi poupada —aliás, algum dia alguém vai me explicar porque Saldaña era a coadjuvante, e não a atriz principal.

Recebi óculos de plástico com armação em verde e amarelo e pulseirinha da mesma cor. Falei para a moça animada que me presenteou que estava tenso. Achava difícil bater “Emilia” entre os estrangeiros.

Ela tentou me motivar. “Vai dar certo, vamos torcer.” Fernanda, então… Apesar do meu amor, no bolão fui de Demi Moore (não disse isso para a moça da pulseira).

Quando chegou o momento, a tensão era de decisão por pênaltis. E quando Penélope Cruz apitou gol, o estádio, quer dizer, o cinema pulou e gritou como em vitória de Copa. Pessoas se abraçavam e choravam —menos o moço atrás de mim, que continuava soprando a maldita vuvuzela.

Me senti o torcedor do pequeno Leicester vencendo a Premier League de 2016 diante dos poderosos Arsenal (uhu), Manchesters e Chelsea.

Mas não tinha acabado. Pouco depois veio o Oscar de melhor atriz. Na hora, a vitória em filme internacional me fez pensar no bolão. Mas Fernanda estava tão deslumbrante… Chegou a juíza Emma Stone. Demi ou Fernanda?… E deu Mikey Madison, por “Anora”, o que me fez rir alto, e sozinho. Parecia um gol com claro impedimento. As pessoas não souberam reagir.

No fim, todos saíram felizes com os três pontos. Agora só temos um Oscar a menos que a Argentina, e duas Copas a mais. Papa não entra na conta.


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