O xadrez político para Eduardo Paes concorrer a governador do RJ



Eduardo Paes (PSD) nunca escondeu a vontade de ser governador do Rio de Janeiro, tendo se candidatado ao cargo nos anos de 2006 e 2018. Diferente do cenário das eleições municipais de 2024, quando foi reeleito logo no primeiro turno e com 60% dos votos, a corrida eleitoral de 2026 tende a ser mais complexa. Paes tenta evoluir nas costuras dentro do xadrez político que precisa ser definido até abril do ano que vem, data-limite para a decisão pelo afastamento do cargo de prefeito em caso de disputa pelo governo estadual.

Com apoio consolidado na capital, Eduardo Paes precisará alterar a preferência do eleitorado do interior do estado, onde o nome dele sofre resistência nos maiores colégios eleitorais. Na eleição de 2018, contra Wilson Witzel (à época do extinto PSC), o prefeito carioca venceu por uma pequena margem na capital e amargou uma expressa derrota na Baixada, região que reúne 13 municípios, incluindo Duque de Caxias e Nova Iguaçu, terceiro e quarto maiores colégios eleitorais, respectivamente.

Para começar a pensar no Palácio Guanabara, Paes precisará de uma chapa eleitoral com partidos fortes que possuem grandes redutos eleitorais. O número 1 da lista é o Partido Progressistas (PP).

Entre conversas, aproximações e distribuição de cargos no município, a legenda presidida por Ciro Nogueira tem um porém: é da base governista de Cláudio Castro (PL) e tem rejeição à ideia de uma chapa conjunta com o PT, partido da coligação de Paes nas eleições do ano passado. Somado a isso, Dr. Luizinho, líder do PP no Rio, não esconde o desejo de contar com o governador em seu partido.

Paes precisa também virar o jogo no debate sobre segurança pública, tocando em temas espinhosos como o apoio de partidos de sua coligação à ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, uma ação que recentemente entrou em julgamento no STF sob a alegação de reduzir a letalidade das operações policiais no Rio de Janeiro, impondo restrições às forças de segurança e ações da inteligência policial.

O apoio de partidos identitários de esquerda, que possuem forte rejeição no estado, é outro fator no xadrez eleitoral de Paes, além da falta de popularidade de seu partido – o PSD – no Rio de Janeiro. Nas eleições municipais de 2024, o PSD elegeu apenas três prefeitos nos 92 municípios. Além da capital, a sigla conquistou a cadeira municipal em Porciúncula e em Carmo, cujos colégios eleitorais figuram entre os menores no estado fluminense.

As principais legendas que tiveram bom desempenho nas urnas – PL, com 22 prefeituras; Progressistas, com 16; União Brasil, com 12; e MDB, com 9 – não apoiaram a coligação do PSD encabeçada por Paes. As quatro siglas estão, de alguma forma ligadas, a Cláudio Castro.

Entretanto, enquanto Paes vai em busca de articulações políticas, o grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador ainda não definiu o nome para concorrer ao Executivo estadual. Flávio Bolsonaro, com quem Eduardo Paes tem mantido desavenças pelas redes sociais, deve disputar o Senado para tentar garantir um segundo mandato. Mesmo caminho a ser seguido por Castro que, como Paes, teria que renunciar ao cargo em abril caso queira tentar uma cadeira no Senado Federal.

A reportagem da Gazeta do Povo apurou que, até o momento, o nome preferido entre os membros  cariocas do PL para a disputa do governo é Rodrigo Bacellar (União), deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo membros do PL, a ideia central é tentar uma chapa conjunta com o União Brasil, semelhante à eleição de 2022 – quando Cláudio Castro concorreu à reeleição com Thiago Pampolha (MDB) de vice, que à época era do partido presidido por Antonio Rueda.

Eduardo Paes vê apoio do PP como fundamental para projeto de governador

O prefeito do Rio não esconde a vontade de contar com o Progressistas na chapa eleitoral, sendo a sigla mais cobiçada por Paes visando 2026. Não apenas pelo desempenho nas eleições municipais – o segundo partido que mais conseguiu eleger prefeitos – mas também por ter popularidade em zonas em que Paes tem dificuldades. O PP conseguiu cadeiras municipais em 4 das 11 cidades com mais de 200 mil eleitores e manteve o reduto eleitoral em Nova Iguaçu.

Embora não tenham firmado um acordo na eleição de 2024, as lideranças conversam sobre uma possível aliança para o pleito estadual. As aproximações vão além de reuniões: no sexto dia da nova gestão municipal, Paes levou para o secretariado Felipe Michel, vereador pelo PP e seu ex-crítico contumaz.

No anúncio, ele fez questão de agradecer às lideranças do partido. “Agora o time está completo: o vereador do Progressistas Felipe Michel assume a secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida! Agradeço aos meus amigos deputado Doutor Luizinho  (executiva estadual)  e ao senador Ciro Nogueira (presidente nacional do PP)  pela liberação do passe desse craque”.

Para afastar a ideia de que o partido teria entrado de vez na gestão Paes, Felipe Michel pediu afastamento do cargo de vereador, do partido e alegou que a situação foi previamente acordada. “O prefeito conversou com o senador Ciro Nogueira e o Dr. Luizinho antes do anúncio. E a carta com o pedido de licença do partido entrou nesse contexto”, disse ele então.

Por mais que tenha tentado não gerar um terremoto em sua base política, a nomeação de Michel repercutiu mal entre figurantes do Progressistas e aliados mais próximos de Cláudio Castro. A base do governador entende que ele deveria ter tentado minar a nomeação a fim de evitar que outros nomes representantes da direita embarquem na gestão municipal.

Outro caso que repercutiu mal nas lideranças estaduais do PL foi o convite público feito por Dr. Luizinho a Cláudio Castro para que ele se filiasse ao Progressistas. O presidente municipal do PL, Bruno Bonetti, publicou uma indireta sobre o caso: “Na política não se convida mulher casada para jantar”.

A sensação nos corredores da Alerj e da Câmara dos Vereadores da capital é que o PP está com um pé em cada canoa. O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino vê com dificuldade um apoio frontal do PP na campanha de Eduardo Paes a governador, mas ele sinaliza que, em situações como essas, não é incomum que líderes municipais façam esse movimento de maneira oficiosa.

“Há no Brasil uma falta de disciplina, do ponto de vista eleitoral, muito forte entre os partidos, em que setores acabam abdicando da posição oficial e migram para uma candidatura que eles veem como favorita. Quanto mais o Paes exibir forças nas pesquisas, mais ele terá a oportunidade de contar com lideranças que não vão seguir a orientação oficial do partido”, analisa ele.

Aliado em 2024, PT pode atrapalhar planos de Eduardo Paes a governador

Com a premissa de apoiar uma “construção da frente contra o fascismo”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abdicou de uma candidatura partidária própria para apoiar Paes nas eleições municipais de 2024. O apoio desarticulou a ideia de uma candidatura identitária de esquerda, normalmente proposta pelo Psol, que nesta eleição obteve 4,2% de votos.

Além da aliança com a federação “Brasil da Esperança”, composta por PT, PCdoB e PV, a candidatura de Paes foi apoiada por outros dois partidos da esquerda, o PDT e o PSB. Entretanto, as recentes alianças de Paes com o identitarismo de esquerda podem prejudicá-lo na corrida eleitoral de 2026 – tanto na busca por fortes aliados quanto na campanha.

A primeira razão se justifica pela rejeição da ideia de o PP de formar uma chapa conjunta com o PT. Ex-ministro do governo Bolsonaro, Ciro Nogueira diz manter com o ex-presidente uma relação de lealdade e respeito.

Além disso, nos últimos anos o Rio de Janeiro rejeitou o lulopetismo e candidaturas identitárias de esquerda, tanto no município quanto no estado. Parte dessa rejeição se explica às visões contrárias de parte do eleitorado de direita quanto às ideias sobre segurança pública propostas pelo bloco oposto. Outro fator atenuante dessa questão é a rejeição popular do governo federal.

Mesmo que não haja um apoio direto, Paes terá que lidar com as críticas e tentar explicar, sem polarizar, a nomeação de integrantes de esquerda em sua gestão – como Elias Jabbour, ex-assessor de Dilma que defendeu pena de morte para inimigos do socialismo.

A última vez que um candidato do PT esteve à frente da gestão na cidade do Rio de Janeiro foi em 1998, quando Benedita da Silva (PT) foi eleita vice na chapa com Anthony Garotinho, que renunciou ao cargo para disputar a Presidência. Na eleição posterior, a petista tentou a reeleição e ficou em segundo lugar, com menos de 25% dos votos.

O cientista político Consentino enfatiza que quanto menor um elo de ligação entre Paes e o partido do presidente da República, mais o prefeito conseguirá alegar que os apoios são em nome de uma governabilidade.

“Vai depender muito do tamanho do palanque. A aliança está posta, mas quanto mais essa aliança for ‘lavrada em cartório’, como uma indicação de vice, eventualmente apoio aos candidatos ao Senado, mais fácil será para a direita fazer essa associação”. Além disso, ele analisa que no cenário atual do Rio, “o PT precisa mais do Eduardo Paes do que ele precisa do partido”.

Ultrapassar o limite da capital fluminense é o desafio central para Paes, conforme evidencia Consentino. “Ele precisa dessa vitória nesse momento. Talvez seja mais fácil que 2018 porque não tem aquela onda que atingiu os políticos tradicionais. Mas em caso de derrota, ele passa a impressão de que o grande poder eleitoral está ligado meramente à cidade do Rio de Janeiro e não ao estado”.

Segurança pública renovará prioridade no debate eleitoral

Nos últimos anos, a direita tomou para si o discurso da defesa das forças policiais e o debate contra a violência contribuiu para as eleições de Wilson Witzel e Cláudio Castro. E é esse jogo que Paes tentará mudar.

Um dos temas centrais será a ADPF 635 sobre a letalidade das operações policiais. O PSB, um dos partidos que esteve com Paes em 2024, é a sigla por trás da ação, junto a setores da sociedade civil. O prefeito defende que a implementação dessa medida fez com que o crime organizado se expandisse em comunidades no Rio de Janeiro. Ele também culpa as políticas omissas do governador do PL.

Para além disso, na tentativa da implementação do que considera um marco para as políticas de segurança pública, e com a promessa de reduzir roubos e crimes de menor potencial ofensivo, Paes enviou à Câmara Municipal o projeto de criação da Força de Segurança Municipal. A ideia é criar uma nova corporação, armada. Em tempo: a cidade do Rio de Janeiro e Recife estão entre as únicas capitais que têm Guarda Municipal que não usa armas.

O projeto da criação da nova forma municipal tem potencial para enfrentar problemas jurídicos. O partido de Cláudio Castro se posiciona a favor do armamento da Guarda Municipal, mas é contra a criação da nova força – que representaria um custo de R$ 462 milhões por ano aos cofres públicos.



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