Beija-Flor emociona Sapucaí com despedida de Neguinho – 04/03/2025 – Cotidiano


A Beija-Flor fez as pazes com um de seus heróis nesta segunda-feira (3), durante a segunda noite de apresentações do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Laíla, diretor de Carnaval da escola por anos, morto em 2020, vítima de Covid-19, foi homenageado pela agremiação.

Laíla saiu brigado com a Beija-Flor. Em 2018, foi campeão na escola em um desfile com influência de Gabriel David, com quem travou embates à época. Em 2019, Laíla foi diretor de Carnaval da Unidos da Tijuca, em 2020 coordenou a União da Ilha, ambos desfiles com resultados não muito bons.

A escola fez um desfile que arrebatou a Sapucaí, neste ano. O público, engajado pela despedida de Neguinho da Beija-Flor, cantou o samba de ponta a ponta e comemorou as alegorias. A mais celebrada foi a reprodução do Cristo Mendigo.

A alegoria trazia a faixa “Do Orum, olhai por nós”. A original era “Mesmo proibido, olhai por nós”, referência à proibição da igreja católica à época. A alegoria de 1989 é considerada a maior cena dos desfiles.

Com chão forte e alegorias e fantasias perfeitas, a Beija-Flor desponta como uma das favoritas ao título.

O carro abre-alas da Beija-Flor fez referência a Xangô, regente de Ori de Laíla. O termo “Ori”, na língua iorubá, significa “cabeça”, o local que abriga os Orixás, as divindades sagradas.

Segundo o enredo da escola, Laíla herdou diversas características de seu Orixá de cabeça, como a determinação inabalável, o comportamento autoritário, a fama de ser temperamental e o ímpeto explosivo, que se manifesta com força diante de qualquer forma de injustiça.

O setor 1 ovacionou a Beija-Flor na entrada da escola na Sapucaí. O desfile marcou a última apresentação de Neguinho da Beija-Flor, após 50 carnavais interpretando as musicas da escola.

Neguinho cantou três sambas durante o esquenta – 2018, 1989 e o samba-exaltação – e precisou se recompor antes de começar a cantar o samba deste Carnaval.

Baianas, bateria e comissão de frente se emocionaram durante o breve agradecimento do intérprete no microfone. Personalidades da escola, como o casal Selminha Sorriso e Claudinho e a passista Pinah, também foram exaltados pelo público.

Os fãs presentes gritaram o nome de Neguinho, enquanto o intérprete dava entrevistas à imprensa.

“Estreei campeão e quero encerrar campeão”, disse.

O intérprete estreou em 1976, ano em que a Beija-Flor foi campeã com o enredo “Sonhar Com Rei Dá Leão”.

Além da Beija-Flor, a noite teve outras três escolas. A Unidos da Tijuca abriu o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio com um samba-enredo que tem a cantora Anitta entre os compositores.

“Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita” homenageou o orixá filho Oxum e Oxóssi. O desfile refletiu a vitalidade, ousadia e fartura que a divindade representa.

O carro abre-alas trouxe mulheres grávidas que expressavam a fertilidade de Oxum, orixá que aparecia gigante sobre o veículo, balançando os braços diante de búzios que se mexiam logo abaixo, na frente do carro, como se estivessem sendo jogados, prevendo o futuro do filho.

O segundo carro, colorido em verde, vermelho, azul e amarelo, simbolizava Logun Edé e suas representações animais, como o tigre e o camaleão -animal considerado mutável, como o próprio orixá. O carro entrou na avenida apagado.

O uso de esculturas humanas e animais é característica do carnavalesco da escola, Edson Pereira.

No enredo, a escola destacou a juventude do morro do Borel, favela localizada na Tijuca. A comunidade esteve representada no desfile pelo último carro, que transformou a avenida em um baile funk, com a escultura de um grande DJ e dançarinos fazendo o passinho carioca.

O Salgueiro foi a terceira escola a desfilar na segunda noite do Grupo Especial do Rio. Com o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, a escola colocou na avenida uma série de rituais e símbolos de proteção religiosa.

O abre-alas apresentou um preto velho pilando uma erva. A escultura soltava uma densa fumaça enquanto atravessava a Sapucaí. Na lateral da escola, mulheres carregavam turíbulos, instrumentos próprios para rituais de defumação.

O Salgueiro fez um desfile à altura para brigar pelas primeiras posições. O ponto forte da escola foi o samba de fácil assimilação. As fantasias das alas e alegorias contavam bem o enredo. O ritmo da escola começou forte, mas acabou morno.

No meio do desfile, a escola colocou na Sapucaí um tripé -carro alegórico no qual podem ir somente duas pessoas- com 30 mil litros de água.

O tripé representava o processo de iniciação no candomblé, conhecido como “fazer o santo”, envolvendo rituais corporais, oferendas e a construção de altares.

Mas foi o último setor que levantou o público ao colocar na Sapucaí representações de entidades da umbanda, como Zé Pelintra e Maria Padilha.

O Salgueiro atravessou a Sapucaí com boa evolução, principal problema recente da escola. O público reagiu positivamente ao desfile, cantando o samba.

Viviane Araújo, rainha de bateria da escola, e Flávia Alessandra, que entrou vestida de Maria Bonita, foram destaques do desfile.

A Unidos de Vila Isabel encerrou a segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio apresentando um enredo sobre medo, assombrações e ícones do terror.

A escola fez um desfile frio e as tentativas de Paulo Barros de impactar o público não funcionaram. O carnavalesco abusou de elementos da cultura pop – vampiros, zumbis, Monstros SA -, mas não causou alvoroço. Nem mesmo as soluções de tecnologia, como o trem fantasma e uma rampa em que uma abóbora se deslocava, empolgaram.

A Comissão de Frente encenou a lenda de Jack Lanterna, que deu origem às abóboras iluminadas tradicionais do Halloween.

Na performance, o ator Amaury Lorenzo, 40, interpretou Jack, que na história engana o diabo, interpretado por José Loreto, 40.

O abre-alas foi um grande trem fantasma, que teve como maquinista o humorista Rodrigo Santana, 43. À frente do carro, o cantor e compositor Martinho da Vila, 87, presidente de honra da escola, desfilou sobre a escultura de uma caveira.

A rainha de bateria Sabrina Sato, 44, entrou fantasiada de vampira.

Lendas brasileiras, como a cobra gigante boitatá, o saci e curupira, entraram na sequência.

A escola enfrentou problemas. O quarto carro alegórico, que representava o castelo mal-assombrados de Conde Drácula, demorou para entrar na avenida. A alegoria precisou manobrar diversas vezes na curva e entrou com falhas de acabamento.

Uma das pilastras do castelo descolou, obrigando a equipe técnica a subir em escadas já durante o andamento do desfile, em frente ao setor 1. O setor, contudo, ainda não é considerado desfile oficial e está fora da vista dos jurados.

A alegoria que representava a lenda do bicho-papão não empolgou, mesmo com referências à animação “Monstros S/A”. No início do desfile, onde ficam os torcedores mais fervorosos, a reação dos presentes foi assistir passivamente.



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