Trump começa discurso ao Congresso em clima de campanha – 04/03/2025 – Mundo


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou nesta terça-feira (4) o maior palco desde sua posse em 20 de janeiro para defender os principais aspectos da agenda radical que tem implementado, contestada dentro e fora do país.

Trump falou no plenário do Congresso americano, diante de uma plateia de parlamentares dos partidos Republicano e Democrata e em um discurso televisionado em horário nobre dos EUA. No discurso, o presidente defendeu a imposição de tarifas, seus cortes —que incluem demissões em massa—, sua política de imigração e a relação com nações estrangeiras.

Em fala que se assemelhou aos seus discursos de campanha, Trump iniciou dizendo que “a América está de volta”. “Em 43 dias, tivemos mais realizações do que a maioria dos presidentes acumula em quatro ou oito anos, e estamos só começando”, disse.

“Nosso espírito está de volta. Nosso orgulho está de volta. Nossa confiança está de volta. E o sonho americano está crescendo, maior e melhor do que antes. O sonho americano não tem limites”, disse Trump. Ele fez referência ao seu discurso de posse quando disse que os EUA estão numa nova era de ouro, voltando a pintar um país fraco sob Biden —o antecessor, aliás, voltou a ser alvo de ataques no discurso desta terça.

Mesmo com maioria republicana na Câmara e no Senado, a fala não passou incólume e foi alvo de protestos de deputados e senadores democratas —o deputado Al Green, do Texas, interrompeu a fala de Trump, gritando “você não tem mandato” ao presidente. Green foi ordenado a se retirar pelo presidente da Câmara, Mike Johnson —é a primeira vez que isso acontece em um discurso como esse.

“Mais uma vez, olho para os democratas na minha frente e vejo que não há nada que eu possa fazer que vá fazer com que eles sorriam ou aplaudam”, disse Trump logo depois. “É a quinta vez que estou aqui, e é sempre a mesma coisa. Posso curar a pior doença que existe, e essas pessoas aqui não vão bater palmas, não vão se levantar e me apoiar. É muito triste, e não deveria ser assim.”

As parlamentares democratas vestiram-se com roupas rosas ou roxas chamativas como forma de protesto a Trump, e muitos membros do partido permaneceram sentados quando o presidente chegou.

O vice-presidente J.D. Vance, que acumula a presidência do Senado, entrou antes do chefe. Ao ser anunciado no microfone, recebeu aplausos de republicanos. A maior parte dos democratas, porém, não se manifestou.

O bilionário Elon Musk chegou ao plenário por volta de 21h, bem antes da entrada de Trump e dos membros oficiais do gabinete presidencial —o dono do X não está à frente de nenhuma pasta, apesar de comandar o Doge, a iniciativa de cortes de gastos radicais do governo federal.

Ele foi aplaudido por algumas poucas pessoas e não foi autorizado a ficar no piso inferior junto com os parlamentares e onde Trump falou. Ele ficou sentado perto de familiares do presidente, entre eles Donald Trump Jr.

Foi o primeiro discurso ao Congresso do segundo mandato de Donald Trump. Esta mensagem aos parlamentares é tradicionalmente feita pelos presidentes da República anualmente, sob o nome de discurso de Estado da União, mas desta vez não recebeu oficialmente essa alcunha —é tradição que presidentes recém-empossados só se refiram ao discurso anual dessa forma a partir do segundo ano do mandato.

Desde que assumiu a Casa Branca, Trump tomou uma série de medidas que visam ampliar o próprio poder, desmantelar instituições e bagunçar a relação com antigos aliados. Suas ações têm sido contestadas em tribunais americanos, que impediram algumas de ir adiante, mas muitas outras tem tido efeito profundo nos EUA e no mundo.

Inicialmente, segundo jornais americanos, o republicano pretendia aumentar a pressão sobre o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, com quem teve um ácido bate-boca público na semana passada, mas negociações recentes desta terça mudaram o plano.

Em vez de escalar o tom, Trump anunciou a assinatura de um acordo para a exploração de minerais estratégicos do país europeu com Zelenski, cuja ideia era ter acontecido na sexta-feira (28), antes da reunião entre os líderes descambar para um dos momentos diplomáticos mais constrangedores da história.

O trato foi assinado depois de o presidente ucraniano ter lamentado a discussão com Trump na Casa Branca e ter dito estar pronto para trabalhar sob a “forte liderança” do americano. O gesto de Zelenski ocorreu em reação à decisão de Trump de bloquear a ajuda militar à Ucrânia na segunda-feira (3), o que deve afetar a compra de mais de US$ 1 bilhão em armas e munições que já estão em processo de aquisição ou encomendadas.

O acordo de minerais é a principal esperança de Zelenski e da diplomacia ucraniana de reverter o corte ao auxílio militar, manter o apoio americano ao esforço de guerra do país contra a Rússia e conseguir suporte diplomático dos EUA para negociar uma paz em termos que não sejam desastrosos para Kiev.

Nesta terça, Zelenski foi às redes sociais para lamentar, novamente, a briga pública que protagonizou com Trump e seu vice, J. D. Vance, na Casa Branca. O presidente ucraniano disse estar pronto para trabalhar sob a “forte liderança” do americano.

“Nenhum de nós quer uma guerra interminável. A Ucrânia está pronta para ir à mesa de negociações o mais rápido possível para aproximar a paz duradoura. Ninguém deseja a paz mais do que os ucranianos”, afirmou Zelenski na publicação.

Se não foi o pedido de desculpa que alguns republicanos mais alinhados a Trump exigiam do ucraniano, foi o mais próximo disso que Zelenski parecia estar disposto a fazer. Horas depois, o presidente americano anunciou a conclusão do acordo de minerais.



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