Márcio França reafirma disputa ao governo de São Paulo em 2026



Na contramão de sondagens de intenção de voto e também das últimas eleições que disputou, o ministro da Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França (PSB), está animado para disputar o governo de São Paulo nas eleições de 2026. Pelos levantamentos divulgados nas últimas semanas*, França não é tão popular na escolha do eleitor quanto o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que declara publicamente a intenção de concorrer à reeleição no estado, em quase todos os cenários testados por institutos de pesquisa com o nome dos dois.

“Se o presidente Lula concordar, sairei candidato a governador”, afirmou o ministro à reportagem da Gazeta do Povo. O aval presidencial é importante para o projeto político, já que a presença de um candidato mais à esquerda apoiado por Lula poderia inviabilizá-lo na disputa. Sem isso, França acredita que atrairia os votos da esquerda por gravidade e falta de opção, sem perder o eleitorado de centro e centro-direita que vota nele em São Paulo.

As projeções não são animadoras para França. De acordo com o levantamento mais recente, do instituto Paraná Pesquisas, divulgado no último dia 25, o ministro do governo Lula aparece bem atrás de Tarcísio nos dois cenários em que o nome dele foi testado contra o do governador. Tarcísio lidera em um cenário contra Pablo Marçal (PRTB), França, Alexandre Padilha (PT) e Paulo Serra (PSDB).

Neste recorte, haveria segundo turno entre Tarcísio e Marçal, considerando os votos válidos. Tarcísio teria 40,3% das intenções de voto, Marçal  17,6%, França 12,7%, Padilha 7,1% e Paulo Serra 5%. Outros 11,1% votariam branco ou nulo e 6,2% não sabem ou não responderam.

No outro cenário em que ministro e governador se enfrentam, sem Marçal, Tarcísio seria eleito no primeiro turno. O governador ficou com 48,6% das intenções de voto, França 16,6%, Padilha 8,5% e Paulo Serra 5,9%. Outros 13% votariam branco ou nulo e 7,3% não sabem ou não responderam.

“Perdi por 1%”, diz Márcio França sobre disputa contra Doria em SP

Apesar disso, o ministro minimiza estes resultados. “Na sondagem do Paraná Pesquisas, sou o primeiro em três cenários”, afirma ele sobre resultados da pesquisa quando excluído o nome do atual governador paulista.

“Tem pesquisa que me coloca em segundo e o Tarcísio em terceiro… está tudo aberto ainda”, pondera Márcio França. “Lembra do Doria?”, diz em alusão ao ex-governador de São Paulo, João Doria. “Na única vez que fui candidato a governador [contra Doria, em 2018], perdi por 1%”.

França diz ainda que não acredita que Tarcísio vá concorrer à reeleição em São Paulo, caso no qual ficaria “uma avenida aberta” para o ministro na eleição estadual, na avaliação de seu grupo político. “Acho que não terei a oportunidade de enfrentá-lo. Hoje, 100% do mundo da política e da Faria Lima acham que ele será empurrado para a eleição presidencial.”

“Caso tente mesmo a reeleição, adoraria enfrentá-lo em debates duros, vamos ver como se sai”, diz França. “Tarcísio representa um pensamento, eu, outro”, diz o ministro. Apesar disso, França é alinhado historicamente a diversas políticas da direita em São Paulo, assim como o seu principal aliado político, o ex-governador e atual vice-presidente da República Geraldo Alckmin, que entrou no PSB por causa dele após deixar o PSDB e pontuou bem nas sondagens do Paraná Pesquisas para o estado de São Paulo.

A principal marca da curta gestão de França como governador em São Paulo, quando assumiu no lugar de Alckmin, foi justamente o apoio à linha dura da polícia contra a criminalidade, uma bandeira histórica da direita.

Caso Tarcísio tente mesmo a reeleição, adoraria enfrentá-lo em debates duros, vamos ver como se sai.

Ministro Márcio França (PSB)

Em 2018, por exemplo, ano em que tentava a reeleição como governador de São Paulo, França não só saiu em defesa como condecorou a cabo da Polícia Militar Kátia Sastre, que disparou um tiro fatal contra um suspeito armado na porta de uma escola em Suzano, na região metropolitana da capital, quando ele tentou assaltá-la. Com a repercussão do caso, Sastre foi eleita deputada federal em 2018 pelo PR, mas não se reelegeu em 2022.

“Nesse quesito o Márcio França tem um trunfo: é um nome que agrega votos de um setor conservador no qual ele não encontra rejeição, como é o caso dos evangélicos” afirma Vinícius do Valle, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). “Tarcísio é o amplo favorito. Nessa condição, acho muito difícil ele deixar de concorrer ao governo do estado para se lançar em uma disputa muito mais arriscada que é a disputa presidencial”, afirma o cientista político.

“No âmbito nacional, ele ainda encontra alguns desafios: se fazer conhecido no Brasil inteiro, angariar apoios e vencer resistências regionais, além de lutar contra quem tem a máquina do governo federal na mão”, acrescenta ele.

Do lado do governador Tarcísio de Freitas, não há receio de derrota dele contra França ou qualquer outro adversário na tentativa de reeleição. Aliados próximos citam os números sólidos de aprovação do governador, para além das sondagens eleitorais auspiciosas. Segundo pesquisa da Quaest divulgada no dia 27, o governo Tarcísio é aprovado por 61% da população paulista.

Os mesmos aliados admitem, no entanto, a hipótese crescente de Tarcísio ser arrastado para a corrida presidencial contra Lula, no caso de ser confirmada a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não haver outro nome competitivo. Nesse cenário, os aliados temem que a perda do governo estadual para França passe a ser um risco real.

“Se o Tarcísio concorrer, está reeleito. Se ele sair para presidente, pode dar certo ou não, e ficamos sem uma opção clara e competitiva em São Paulo. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) é um bom nome, nosso aliado, mas a verdade é que deixa a disputa em aberto, tenho minhas dúvidas da capacidade de penetração do Nunes no interior e litoral”, diz um aliado do governador Tarcísio na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que prefere falar em anonimato para não melindrar o prefeito com sua análise.

Para viabilizar seu nome na disputa estadual, no entanto, França precisa cumprir uma missão difícil, que é garantir o apoio do PT em São Paulo, para além do apoio explícito do presidente Lula. Os petistas locais costumam fazer questão de uma candidatura própria, e só a muito contragosto engoliram o nome de Guilherme Boulos (Psol) como candidato único da esquerda à prefeitura de São Paulo em 2024.

Com a derrota para o prefeito reeleito Ricardo Nunes, fica mais difícil convencer os petistas a abrir mão da disputa, mesmo sem eles terem um nome competitivo próprio. “Na eleição passada, o presidente Lula me pediu e eu então abri para que [Fernando] Haddad fosse o candidato”, lembra França. Agora, ele diz que o ministro da Fazenda não tem intenção de disputar o governo em 2026, então contaria com o apoio dos petistas para o pleito.

Metodologias das pesquisas citadas:

  • Paraná Pesquisas: 1.650 entrevistados em 86 municípios de São Paulo, entre os dias 20 e 23 de fevereiro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2,5 pontos percentuais.
  • Quaest: ouviu 1.644 pessoas em São Paulo. As entrevistas foram realizadas entre os dias 19 e 23 de fevereiro.



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