Homens recuperam autoestima com prótese capilar afro – 09/03/2025 – Cotidiano


“Sou um novo homem. É ter minha personalidade de volta”, diz o economista e produtor musical Guilherme Gan, 26, depois de aderir ao uso de prótese capilar específica para homens negros.

Ele passou a perder cabelo por volta dos 20 anos. O incômodo era grande e ele usava bonés para esconder as falhas no cabelo.

“Como produtor musical, não tinha problema usar boné, mas como economista, muitas vezes, eu era cobrado de estar numa vestimenta um pouco mais formal. Trabalhei em corretora de investimento, então não podia ir de boné”, relata.

Sem e com a prótese capilar afro

Um homem está sentado em uma cadeira preta. Ele usa uma camiseta azul e um short azul, ambos com detalhes em vermelho. O homem tem cabelo curto e uma aparência relaxada, olhando para a câmera. O fundo é cinza.

Um homem está sentado em uma cadeira preta, vestindo uma camiseta azul e shorts. Ele tem um sorriso no rosto e está gesticulando com as mãos, como se estivesse explicando algo. O fundo é cinza, e a iluminação é suave.

O economista Guilherme Gan antes, com a calvície à mostra, e depois da aplicação da prótese capilar afro

Karime Xavier/Folhapress

Assim como ele, muitos homens negros afetados pela calvície se viam sem opções e passavam a raspar a cabeça ou usar alternativas para disfarçar as falhas, como maquiagem.

Pensando nesse público, o empresário Oberdã Luz, de Florianópolis, que atua no ramo há 17 anos, afirma que introduziu no mercado brasileiro a prótese capilar afro.

Diferentemente das próteses de cabelos lisos, as de cabelo crespo ainda não são tão conhecidas no Brasil. Oberdã pesquisou e, no final de 2021, descobriu uma profissional nos Estados Unidos que divulgava a prótese e a forma de utilizá-la.

“Eu fiz o curso online dela, fui vendo várias vezes, bem devagarinho porque não sou fluente em inglês, e depois fui aperfeiçoando a técnica”, diz.

Elas são feitas de cabelo orgânico ou humano. Cabelo orgânico é feito de uma fibra bio-vegetal ou outros materiais naturais que não passam por processos químicos. A de cabelo humano dura ao menos um ano, dependendo dos cuidados, enquanto a orgânica não passa dos 30 dias. Para a confecção da prótese, os fios são costurados em um material de silicone chamado micropele, em uma máquina específica.

E são feitas de acordo com a necessidade e o desejo do cliente. Podem ser de cabelo estilo black power, tranças, dreads, longas, curtas e nas mais variadas cores, inclusive grisalho.

As próteses são importadas de Estados Unidos, China e Índia.

Elas são diferentes das perucas, estruturas removíveis que imitam cabelo. A prótese, por sua vez, tem essa base de silicone que emula também o couro cabeludo e fica fixada na pele.

Para aplicação, o couro cabeludo precisa estar liso. É aplicada uma cola especial na cabeça, além de tiras de fita na pele e também na prótese, que depois é fixada na cabeça.

O custo da versão de menor duração parte de R$ 460, enquanto pela outra custa são cobrados, em média, R$ 2.700 —além da manutenção mensal necessária.

Ao voltar ao salão, a peça é removida e higienizada, assim como o couro cabeludo. Cada manutenção custa R$ 180 e pode envolver outros custos se houver a necessidade de hidratação, cauterização ou tonalização dos fios.

“Se a pessoa cuidar, usar um creme, um leave-in, para manter os fios hidratados, ela dura muito, de um ano a um ano e meio. Também deve lavar com produtos neutros e com água fria ou morna. É vida normal, pode entrar na piscina, mar, fazer esportes”, afirma Oberdã.

Guilherme Gan diz que sua autoestima mudou depois da prótese.

“Eu me via velho, igual ao meu pai, quando perdi cabelo. Até o comportamento ficava diferente, e com o estilo meio comum, simples. Para mim, ter essa possibilidade de mudar de cabelo, mudar o estilo, isso muda muito minha autoestima, minha confiança”, conta.

Para o economista, que usa o acessório há dois anos, o mais importante é a naturalidade do resultado.

“Meu medo era parecer peruca, mas quem não me conhece nem imagina que estou usando prótese. E mesmo quem sabe, porque eu coloco nas redes, fica olhando tentando encontrar onde está, se tem alguma marca, mas não encontra porque fica natural”, afirma.

Essa naturalidade era o que o técnico de enfermagem Caio Vinicius, 28, também buscava para esconder as falhas no cabelo que começaram a aparecer há cinco anos.

“Eu vim colocar pela primeira vez e achei excelente. Tem a naturalidade que a gente procura. A autoestima sobe, não tem nem comparação. Eu estou feliz demais, felicíssimo”, disse ao terminar o procedimento de aplicação.

Oberdã conta que sua clientela é 70% de homens e 30% de mulheres.

A prótese e o salão de Oberdã viralizaram a partir de 2023, quando ele passou a mostrar o antes e o depois dos clientes nas redes sociais, onde acumula milhões de visualizações e curtidas. Assim, passou a receber muitos pedidos para atender em outros lugares além de Florianópolis.

“Tive muitos pedidos para vir a São Paulo. Aluguei um espaço em Campos Elíseos [bairro no centro da capital paulista] e, no primeiro final de semana, atendi 40 pessoas, só eu e minha esposa. Deu muito certo”, diz. “Mas, por mais que tenha viralizado, ainda é um trabalho muito novo, muito recente”, pondera.

Hoje, além do salão inicial, ele se alterna entre os espaços que mantém em São Paulo e no Rio de Janeiro. Atende em média mil pessoas por mês, e o faturamento fica entre R$ 100 mil e R$ 300 mil, afirma.

Também comercializa um kit de R$ 500 com produtos para quem não consegue fazer a manutenção mensal no salão, como clientes de outros estados e até de outros países.

“Tenho planos de expandir para outros estados, como a Bahia, e futuramente outros países também”, conta.



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