Millie Bobby Brown: as meninas estão amadurecendo rápido? – 11/03/2025 – Joanna Moura


Na festa de oito anos da pequena Maria Luiza não teve palhaço nem princesa, nem brigadeiros, nem brincadeiras. A festa que nem parecia festa não tinha bexigas para serem estouradas ao final e fazer chorar os irmãos mais novos que ainda se surpreendiam com aqueles estrondos. Aliás, mal se ouvia qualquer barulho. O que se via eram dez meninas, sentadas em poltronas grandes demais para seus pequenos corpos.

Ao redor delas, mulheres mais velhas arrumam-lhes os cabelos, pintavam-lhes as unhas, os olhos, a boca. Maria Luiza sorria feliz, mas sem se mexer para não borrar o esmalte e a maquiagem. O desejo da festa no salão de beleza foi ideia sua, inspirada pelos vídeos que assiste no Tiktok, das influencers de maquiagem e skincare que ela segue. Tudo conteúdo inocente, controlado de perto pela mãe que se preocupa muito com a segurança da filha na internet.

Aos dez anos, Luiza virou cliente fiel da Sephora, onde ia com as amigas aos sábados procurar os produtos que estavam bombando nas redes sociais. Sua rotina de skincare passou a incluir séruns, ácidos, hidratantes, máscaras e, claro, protetor solar fator 50 que ela aplicava religiosamente. “Sabia que a luz fluorescente também causa envelhecimento da pele?”, ela pregava em casa enquanto a mãe a apressava para não chegar atrasada na escola.

Quando fez 12 anos, pediu de presente de aniversário uma harmonização facial. Queria o maxilar de Bruna Marquezine e a boca de Kylie Jenner, mas sua mãe foi contra. “Mexer no rosto, só com 16 anos!” Luiza fez cara feia e tentou negociar: “então quando eu fizer 13!” Ao que a mãe respondeu: “Vamos ver”.

Enquanto não ganha de presente o rosto desenhado e a boca carnuda dos sonhos, Maria Luiza usa truques de maquiagem para aumentar os lábios e contornar as maçãs do rosto. No ano passado, comprou na Shein um maiô modelador que marca a cintura e aumenta os seios.

Semana passada, enquanto passeava pelas redes sociais, viu o relato de uma atriz da qual gosta. Millie Bobby Brown ficou famosa aos dez anos de idade, quando participou da série Stranger Things, da Netflix.

Luiza teria pulado o vídeo depois dos cinco primeiros segundos como faz com 99% do conteúdo que consome na internet, mas algo a prendeu ali. Talvez tenha sido o tom sério ou a pele natural de Millie, sem maquiagem nenhuma, com espinhas aparentes, que tenha-lhe causado estranhamento. O que importa é que, por qualquer motivo, Luiza parou e ouviu.

Millie desabafava sobre as críticas que vinha recebendo. Segundo a mídia, Millie mudou demais, amadureceu demais, se tornou mulher demais, ficou sensual demais rápido demais.

“Eu cresci diante das câmeras e, por algum motivo, as pessoas querem que eu permaneça congelada no tempo, que eu continue sendo aquela menina de dez anos que apareceu na primeira temporada de Stranger Things.”

Mas Millie não é mais uma criança. É uma jovem mulher bem-sucedida, eloquente, dona de sua própria empresa, embaixadora do Unicef. E do alto dos seus 21 anos se veste como quer e como gosta.

Luiza termina o vídeo confusa. Millie é como ela gostaria de ser, como ela sente que deveria ser, como ela se sente pressionada a ser. Como Millie pode sofrer por ser exatamente quem Luiza aspira a ser?

A pergunta ecoa em sua cabeça ainda muito jovem para compreender a armadilha na qual caímos todas nós e da qual não há saída. Nos ensinam cedo a sermos adultas, depois nos condenam por termos amadurecido.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Source link

Adicionar aos favoritos o Link permanente.