Preço do café dispara e encarece a cesta básica do brasileiro

O café foi o produto que mais subiu de preço dentre os 12 produtos que compõem a cesta básica paraense. A informação é do novo levantamento realizado pelo Dieese-PA, que aponta que o quilo do pó da bebida foi comercializado, em média, a R$ 59,17, em fevereiro. O produto ajudou a encarecer o custo total do conjunto de alimentos básicos, que alcançou o valor médio de R$ 700 pela primeira vez no mesmo período.A pesquisa revela que a trajetória do quilo do café foi a seguinte nos últimos doze meses: em fevereiro de 2024, o produto foi comercializado, em média, a R$34,76, enquanto em dezembro do mesmo ano já estava a R$ 50,02. Em janeiro de 2025, foi comercializado a R$ 54,57, em média. Seguindo a mesma tendência, em fevereiro deste ano, o produto contou com nova alta, sendo encontrado a R$ 59,17. A diferença de preço em um ano foi de R$ 24,41, em média.De acordo com o superintendente técnico do Dieese-PA, Everson Costa, a alta do café foi registrada no segundo semestre de 2024, acentuada entre os meses de outubro e novembro. Os motivos envolvem as condições de produção no Brasil e no mundo, afetada pelas variações climáticas. Dessa forma, o produto brasileiro sofreu uma pressão do mercado externo, aumentando a demanda de exportação, mas dificultando a comercialização interna.Conteúdos relacionados:Por que ovos e café estão mais caros? EntendaCafé e leite estão mais caros em Belém; veja os preços“A gente sabe que o Brasil é o maior produtor de café do mundo, mas ele não fornece só para o país, mas para o mundo inteiro. E outras lavouras mundo afora também tiveram problemas. O resultado disso foi que o café brasileiro passou a ter uma pressão e uma busca maior de fora. A exportação entrou pressionando ainda mais esses preços, nós sofremos com perdas por conta das questões climáticas e a oferta do produto diminuiu fortemente no varejo, dentro do mercado interno”, esclareceu.A consequência desse cenário deixou o café consumido pelos paraenses 8,43% mais caro em fevereiro em relação ao mês anterior. Sendo assim, nos dois primeiros meses deste ano o produto acumulou alta de 18,29%, alcançando um reajuste de 70,22% no comparativo dos últimos doze meses. O percentual supera em mais de 15 vezes a inflação, que gira em torno de 4,50% para o mesmo período.Dessa forma, o pó da bebida não fica mais caro apenas nos supermercados, mas nas padarias, cafeterias e demais locais de consumo. “A própria cesta básica tem o café como item básico, mas ele está virando artigo de luxo. As pessoas estão tendo dificuldade de comprar, o pacote de 250 gramas em supermercados da capital chega a mais de R$ 17, R$ 18, dependendo da marca. O impacto disso é na cesta básica e, principalmente, para os trabalhadores de menor renda. Ele tem um comprometimento de 50% do que ganha só com a cesta básica. E quem ajudou a inflacionar essa cesta foi o café”, afirmou Everson Costa.Quer saber mais notícias do Pará? Acesse nosso canal no Whatsapp

Alta continuaA expectativa é que o preço do café continue subindo, com possível queda ou equilíbrio no final do primeiro semestre. Essa realidade já é observada nas pesquisas em andamento realizadas pelo Dieese-PA, que não apontam recuo do preço do café no mês de março. Isso se deve ao fato de que o Brasil, além de principal produtor do grão no mundo, agora também segue como um importante fornecedor do café para os demais países.“A gente tem uma expectativa que o preço do café continue sendo pressionado e se elevando um pouco mais. Até quando, vai depender da produção fora do país para poder equilibrar a demanda, a pressão e a busca pelo grão aqui dentro do Brasil. Automaticamente, a própria flutuação da moeda americana interfere. O mercado é livre. Quem produz café vai primeiro colocar os seus custos, apreciar o melhor preço e, logicamente, estamos falando de um cenário que, nesse momento, coloca o Brasil não só como principal produtor, mas agora como principal fornecedor de café visto que em outros locais do mundo essa produção foi afetada”, conclui Everson Costa.Quem trabalha com a venda do produto teve de se adaptar a uma realidade complicadaA autônoma Kelly Silva, de 52 anos, trabalha há 10 anos com a venda de café da manhã na travessa Perebebuí com a avenida Almirante Barroso. Segundo ela, essa é a primeira vez que presencia o aumento significativo no preço do pó do café, alta que tem impactado na receita mensal e nos custos de funcionamento do seu carrinho.Para manter os clientes, a trabalhadora optou por manter a qualidade da bebida, comprando uma marca específica de café. No entanto, esse movimento é o responsável pela diminuição da quantidade de compra dos pacotes, além da redução da margem de lucro. Sendo assim, na barraca, o preço também foi congelado, sendo R$ 4 o copo de café preto; e R$ 2,50 o café com leite. Essa foi a estratégia de Kelly para manter a venda para a clientela fiel.“Hoje em dia tá meio difícil a gente comprar o café e manter o preço, mas é o que tenho feito. O meu lucro está mais baixo a cada dia. Atualmente, tenho comprado uns seis ou sete pacotes de café, antes comprava treze, isso a R$ 15. Aqui eu trabalho com uma marca específica porque não adianta comprar outra e a qualidade não ser a mesma, o pessoal logo percebe e não gosta. Prefiro manter o preço para manter a clientela do que aumentar e perder meus clientes”, disse a autônoma.Com o preço nas alturas, Alda Maria Domingues, 59, já tentou repassar os reajustes aos clientes, que reclamam muito do aumento no preço do café da manhã. Há 19 anos no ramo, ela relatou que tem sido difícil trabalhar com produtos de qualidade com um preço estabilizado. Porém, essa tem sido a única estratégia para manter a venda e o dinheiro para o sustento, mesmo que reduzido.“Nós já tentamos repassar para o cliente, mas teve muita reclamação e a gente teve que estabilizar o preço. Os clientes sempre querem um café bom, só que isso fica muito pesado para a gente que trabalha diariamente com isso. Hoje, o meu completo tá saindo a R$ 8, só o copinho do café está a R$ 2, enquanto o copo maior está a R$ 4 do café preto e café com leite. Mesmo em alta, o pessoal vem atrás do café”, contou.CONSUMIDORESO produto faz parte da rotina de Márcio Silva, 53 anos, que costuma beber café de manhã, à tarde e à noite. Desembolsando cerca de R$ 60 por mês, o produto ficou pesado e deve ser cortado em alguns horários. “Eu comprava café por semana, só que agora aumentou muito e vai ter que ser por mês. Eu ia comprar o quilo do São Cristóvão, mas tá muito caro, tá pesado no orçamento. Como eu vim numa consulta, precisei tomar esse café na rua, mas até isso vou ter que cortar. Eu usava mais ou menos um quarto do quilo por semana, tava dando de R$50 a R$60 por mês”, revelou.Trabalhando à noite, Naldo Santos, de 40 anos, costumava tomar a bebida para se manter acordado durante o ofício de vigilante. Com a alta do preço do café, ele disse que já tem pensado em outras alternativas, como o consumo de achocolatado. “Está bastante caro, aumentou muito. De um ano para cá a diferença é grande, pulou de oito reais para R$ 14, é praticamente um aumento de 50%”, disse.

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