Silenciadas: Mulheres que sofreram violência obstétrica

Muitas mulheres anseiam e planejam intensamente a gravidez. Elas aguardam com expectativa esse momento especial, organizando cuidadosamente todos os detalhes para a chegada do filho, inclusive consultas regulares com médicos, obstetras e enfermeiras, para decidirem juntos a melhor opção de parto.Porém, o momento do parto também pode gerar muitas inseguranças para as mulheres, principalmente, para as mães “de primeira viagem”, devido ao desconhecimento sobre como será a experiência, preocupações com a saúde do bebê e da própria mãe, o medo da dor e, também, da intervenção médica.A intervenção médica em muitos casos pode acabar gerando traumas e problemas tanto para a mãe quanto para a criança. Os casos de violência obstétrica são mais comuns do que se imagina, e muitas mulheres carregam sequelas para toda a vida de um momento que deveria ser o mais especial.Conteúdos relacionados:Violência obstétrica o que é e como identificar Denúncias de violência obstétrica: responsáveis são punidos?Direitos das mulheres em casos de violência obstétrica RelatosCarolina Bentes, de 29 anos, relatou que durante a primeira gestação sofreu violência obstétrica. Na época, ela não tinha consciência do que estava enfrentando, mas, atualmente, ao assistir aos vídeos do parto, sente profunda angústia por tudo que passou.A vítima relata que sempre sonhou em ter um parto normal. Durante o acompanhamento médico, todos os indicativos apontavam para um parto tranquilo e natural, mas infelizmente, essa não foi a realidade que enfrentou.“Na hora do parto eu sofri muito, já sentindo dores o médico fazia toques sem nem avisar o que estava fazendo, me aplicaram ocitocina porque estava demorando demais, eu nem sabia se precisava disso, eles só disseram que iam aplicar e aplicaram” começou a contar Carolina Bentes.Ela continuou dizendo que, após a bolsa estourar e ser encaminhada para a sala de parto, enfrentou uma série de violências obstétricas. Hoje, jamais permitiria passar por isso novamente.“Me deitaram em posição de cesárea, colocaram minhas pernas pra cima e ali começou o caos né. Me obrigaram a fazer força em uma posição que não era confortável pra mim, uma posição que eu não tinha apoio nem na cabeça e eu senti muita câimbra, e eles começaram a segurar minhas pernas e eu já estava entrando em desespero”, contou ela.Carolina relatou que viveu momentos angustiantes durante o parto. Além do desconforto e das medicações desconhecidas que recebeu, ela se sentiu impotente no momento mais especial da sua vida, que acabou sendo completamente diferente do que havia imaginado.“Eu fiz tanta força de uma forma errada que meus ouvidos inflamaram todos, minhas mãos onde tava o soro com a ocitocina, fiz tanta força que minha mão ficou extremamente tufada porque o remédio começou a sair da veia, foi um caos total”, relatou Carolina.Diversos casos como esse ocorrem diariamente no Brasil. A falta de informações sobre violência obstétrica faz com que muitas mulheres passem por essa experiência e sejam silenciadas.Outra mulher que passou por violência obstétrica, relatou o momento difícil que viveu na hora de ter o primeiro filho, com quem sonhou e esperou ansiosamente.Nahéli Assunção, 33 anos, na época do parto tinha 25 anos, e contou que a maior vontade era conseguir ter o filho via parto normal, e estava com 40 semanas quando começou a ter contrações muito fortes e foi ao hospital, durante o atendimento mandaram ela de volta pra casa pois segundo os médicos ela não tinha dilatação.Uma semana após a primeira ida ao hospital, já com 41 semanas ela voltou ao hospital para realizar outro atendimento e novamente a mandaram pra casa e disseram pra voltar às 20h da noite, para que então fosse realizada uma cesárea.“Nem tentaram induzir o parto, não fizeram nenhum exame além do toque, eu estava em choque e assustada porque não era o que eu havia planejado, o médico só disse que era o melhor a ser feito. Fui pra casa e voltei no horário marcado para a internação. Fui anestesiada para a cesária e começou meu momento de horror, o médico abriu minha barriga e disse que meu bebê estava muito pra cima e fez um sinal para o anestesista, ele subiu em uma escada por cima da minha cabeça e empurrou no meu estômago com toda força do seu corpo, eu pensei que ia desmaiar, virei meu rosto para que meu marido não visse minha expressão de dor”, relatou Nahéli.Além do momento de horror vivido, Nahéli também não conseguiu ver o filho, o que causou ainda mais angústia, após o procedimento abusivo ela estava com muitas dores e foi destratada por profissionais.“Fui levada para o quarto e depois levaram ele, quando a enfermeira veio colocar ele em cima de mim eu não aguentava de dor na barriga, e a enfermeira brigou comigo por ainda não ter descido meu leite para amamentar, dizia que não tomei líquido o bastante durante a gravidez, que eu não ia conseguir amamentar meu bebê”, contou a mãe.Um momento de felicidade que acabou virando de muita dor, mesmo após alta médica, Nahéli continuou sentindo dores devido a força que o anestesista fez.“Inicialmente eu era grata aos médicos pois achava que aquela manobra era realmente necessária para o meu filho nascer, com o tempo fui aprendendo e entendi que na verdade havia sofrido violência obstétrica”, disse Nahéli.O momento traumático fez com que Nahéli perdesse a vontade de ter filhos, pois não queria reviver aquela situação de novo.Outro caso extremamente chocante é o de Victória Caroline, atualmente com 25 anos, mas que tinha apenas 19 quando passou por uma cesárea e viveu momentos de horror após ter sua filha. Em 26 de novembro de 2021, ela passou por uma cesárea, onde a filha nasceu prematura de oito meses.Após três dias, recebeu alta médica, mas retornou ao hospital devido a febre e dores. Foi então detectado um abscesso de dez centímetros na área da cirurgia. Victória foi encaminhada para a sala de cirurgia, onde o médico informou que seria necessário remover o útero para evitar que ela entrasse em óbito em pouco tempo. Essa cirurgia, uma histerectomia, foi realizada em 11 de dezembro.Depois da cirurgia, ela continuou sentindo dores e foi levada para uma sala onde só ficam os técnicos. Nessa sala, ela ficou com uma sonda quebrada, que só foi identificada 24 horas após a cirurgia, levando à necessidade de uma terceira cirurgia, uma laparotomia, realizada no dia 22. Este é um caso marcado por uma série de absurdos cometidos por erros médicos. Veja o relato da jovem e a opinião dos profissionais sobre o ocorrido.Muitas mulheres optam por levar doulas para o momento em que dará à luz, pois elas são profissionais treinadas para oferecer suporte físico e emocional a mulheres antes, durante e após o parto, fazendo um papel crucial ao fornecer encorajamento, conforto e assistência prática durante o trabalho de parto e o parto.A doula Bárbara Lourenço relata como é importante se preparar para este momento e como a busca por informações pode ajudar a mulher na hora do parto.Veja vídeo:Como relatado por Vitória Marinho no vídeo, ela continua sofrendo até hoje devido à violência obstétrica que enfrentou em 2021. Quatro anos depois, ela ainda precisa passar por outra cirurgia devido às complicações decorrentes do parto cesárea.Nenhum médico obstetra aceitou conceder entrevista sobre o assunto.
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