Educação Midiática no combate à desinformação

A mentira atingiu proporções epidêmicas no Brasil. Com a indústria das fake news instalada por aqui com objetivos político-partidários e também econômicos, para manipular a realidade objetiva com narrativas inventadas, a desinformação confunde a percepção dos acontecimentos por parte de crianças e adultos.

Quase 90% dos brasileiros admitem ter acreditado em fake news, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. Isso significa que oito em cada dez brasileiros já deu credibilidade a alguma desinformação. Porque não tem bases culturais para se antepor intelectualmente ao que são expostos nas diversas mídias. É um fenômeno com bases criadas por agências profissionais pagas por políticos inescrupulosos que almejam o poder e a derrubada do estado de direito, empresários corruptos que atacam marcas concorrentes e reputações, fanáticos religiosos em busca de mais adeptos e também todo tipo de rackers e criminosos que objetivam enganar para roubar dinheiro, principalmente nos meios digitais. O excesso de informação, ou a infotoxicação do ambiente digital, aliado a queda no nível cultural e de ensino da população também contribuiu para isso.

Adultos de todas das classes sociais fortalecem a desinformação, por preferir defender uma realidade paralela conveniente com seus interesses e crenças ou porque são enganados – não importa – e retransmitem para familiares e amigos e também seus filhos. Com a dificuldade de governos e da sociedade em reprimir as big techs, que oferecem o ambiente digital propicio para abrigar e divulgar mentiras, só nos resta combater a desinformação com a informação verdadeira e a educação. E isso é importante especialmente para defendermos o futuro de nossas crianças e jovens, pois estamos no liminar de promovermos uma nova geração de alienados, que terão suas emoções, sentimentos, comportamentos – e também a saúde física e mental – coaptadas numa teia de interesses escusos.

Muito se tem falado sobre educação midiática para combater essa onda de desinformação. É uma alternativa, mas o melhor seriam leis para coibir esses criminosos. Como a própria noção de liberdade é colocada em cheque por esses espertinhos, ficamos com poucas alternativas de soluções.

A educação midiática, portanto, faria o trabalho de prevenção e também combate a narrativas que podem nos causar prejuízos econômicos, políticos, sociais e de saúde. Basta lembrar o ataque às vacinas e os 700 mil mortos na pandemia da Covid no Brasil e a volta de doenças que estavam controladas pelas imunizações. Ou os ataques constantes à democracia pelos partidários de regimes ditatoriais, que defendem a tortura e a violência como solução de divergências políticas.

Educação midiática consiste em ensinar na escola princípios básicos de ciência, de direitos humanos, de democracia e cidadania. De estimular o bom senso e o espírito crítico, conhecer fontes fidedignas de informação e pesquisa, diferenciar opinião de notícia, e reconhecer a importância de veículos profissionais de jornalismo.

E essa capacitação não é uma palestra para professores ou uma aula extra para alunos. Deveria ser um processo onde professores de todas as disciplinas incluam a importância de combater a desinformação na grade curricular; mostrem diariamente as principais mentiras difundidas nas redes e estimulem a leitura de livros, jornais, revistas e noticiário na TV e eletrônicos fidedignos porque são baseados em protocolos profissionais, sem perder, evidentemente o espírito crítico, pois a desinformação está presente também em muitas linhas e entrelinhas mascaradas de fatos nesses veículos de comunicação. E ajudem os estudantes a cruzar dados, consultar fontes de informação de pesquisadores acadêmicos, especialistas e institutos de pesquisas, criando um espírito de checagem e discernimento. Para isso é necessário acesso a essas fontes de informação, que estudantes, principalmente da rede pública, estão limitados pela falta de material didático diversificado, de livros, jornais e revistas nas precárias bibliotecas escolares e até de rede de wifi adequada, de computadores e outros equipamentos eletrônicos.

A escola, portanto, pode e deve ser uma importante trincheira na desinformação e ajudar os estudantes a contrapor o espírito delirante de realidades paralelas, incluindo a terra plana e os chips em vacinas, que circulam em nossas ruas e lares. Se falta estrutura nas escolas, o professor tem uma grande responsabilidade para fazer a diferença nesse processo.

Autor:

João Marcos Rainho, jornalista e professor

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