Jornalista polêmico, fez da vida a luta contra injustiças – 16/03/2025 – Cotidiano


Difícil resumir a vida do jornalista Gilberto Gonçalves. Assim como dividir o perfil de uma pessoa polêmica, sem moderação na voz para defender seus princípios, mas metódico na gentileza de levar café na cama para a família.

Nascido em Santos (SP), era um peladeiro de praia habilidoso. Tanto que jogou nas categorias de base da mesma Vila Belmiro onde Pelé dava seus dribles. A carreira no futebol só não foi para frente porque o pai, um comunista perseguido político, não deixou o filho caçula de seis irmãos ser contratado por um clube do Rio de Janeiro.

Sem a bola, Gilberto fez cursos técnicos de torneiro mecânico e de enfermagem. Ensaiou engrenar um trabalho estável quando foi aprovado na década de 1970 em concurso na Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia, na região de Campinas.

Foi nessa época que cursou jornalismo. Formado, não pensou duas vezes em trocar a estabilidade e os benefícios do emprego público por estágios em jornais do interior.

Rodou por Redações de Campinas, sempre como repórter raiz. Durante uma década, foi professor na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas.

“Tinha senso jornalístico muito grande e falava que tentava passar a sua experiência a futuros profissionais”, diz a mulher Cibele Vieira, 67, também jornalista.

Com ela, montou uma agência de comunicação e criaram um jornal de bairro em Campinas, o Alto Taquaral. Também presidiu a unidade local do Sindicato dos Jornalistas.

Do pai, Gilberto herdou a vocação para a esquerda e o inconformismo com as falcatruas e diferenças. “Sempre batalhou para diminuir as injustiças, fazia disso a vida dele”, conta a companheira.

O homem que não baixava o tom na defesa de suas posições era o avesso no seu anonimato. Sensível e emotivo, chorava quando assistia a um filme triste e levava café na cama para mulher e filhos nos aniversários de casa.

Fã de motos, ia com sua Yamaha visitar a família no litoral e “jogava um ar nas ideias”. Colecionava troféus das cavalgadas anuais em Botelho (MG), terra da mulher, onde ganhou título de “Cidadão Botelhense”.

Também gostava de cães —acordar cedo para levar o dobermann Trool para passear após o café era rotina diária.

Numa pequena área no quintal colocava para tocar LPs de samba e grupos como Bee Gees, Abba, Creedence, e dançava com eles.

Há oito anos tratava um câncer da mesma forma que discutia política. “Intensidade, alegria e transparência foram suas principais características”, diz a mulher.

Folião de blocos de Carnaval, Gilberto Gonçalves morreu aos 74 anos numa Quarta-Feira de cinzas, no último dia 5 de março. Deixou a mulher Cibele, os filhos Lucas e Marina, e os netos Maurício e Mel.

Durante décadas, atuou pela criação de uma praça no fim da rua de casa e ajudou a transformar aquele matagal. A associação de moradores do bairro vai protocolar um pedido na Câmara Municipal de Campinas para que o local leve seu nome.

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