Pesquisador polivalente, encantava colegas e alunos – 17/03/2025 – Cotidiano


A decisão de se tornar um matemático não espantou a família de Sérgio Muniz Oliva Filho graças ao caminho previamente trilhado pelo tio Waldyr Muniz Oliva, 94, que chegou a ser reitor da USP. Sérgio dizia que a paixão do tio pela disciplina certamente o influenciara.

Sérgio foi contratado como professor do IME ainda no começo do mestrado, em 1987, sendo responsável por aulas para alunos da Escola Politécnica, a Poli-USP, tendo quase a mesma idade dos estudantes.

O doutorado, com sistemas de reação-difusão (que explicam, entre outras coisas, o surgimento de padrões, por exemplo as manchas na pele de animais, como na onça-pintada) foi cursado nos EUA, no Instituto de Tecnologia da Georgia, sob orientação de Jack Hale, um amigo de seu tio.

Mesmo com o trabalho duro intrínseco a essa etapa de formação acadêmica, já nessa época mostrava seu interesse por colaborações. Ajudou um engenheiro que investigava por que rotores de helicópteros apresentavam o problema conhecido como “rotating stall”, que fazia a turbina parar de funcionar. O piloto, então, aumentava a potência: a turbina funcionava menos ainda, aquecia e explodia. Como resultado da parceria, surgiu um modelo matemático que ajudava a descrever e explorar o problema. “Não tinha nada a ver com a minha tese, mas foi divertido”, segundo relatou.

Sérgio demonstrava prazer em colaborar, em conhecer e interagir com pessoas.

Fora da vida acadêmica, era chefe escoteiro, papel que lhe rendeu até um casamento, de 16 anos, com Mariana Resnik, sua segunda esposa. “Ele sempre soube ouvir e dar o que cada um precisava, fosse palavra, abraço, mão ou silêncio. Era ótimo ouvinte”, ela conta.

Entre as atividades favoritas do casal estavam cozinhar, comer com os amigos e fazer caminhadas. Fizeram até o Caminho do Sol, no qual caminhavam mais de 20 km por dia entre as cidades de Santana de Parnaíba e Águas de São Pedro, totalizando 241 km.

Na USP, lembra o amigo Cláudio Possani, muitas realizações tiveram participação direta de Sérgio, como a criação de um bacharelado noturno de matemática aplicada e computacional, a expansão dos ônibus circulares, que atendem a Cidade Universitária da USP (o que envolveu um trabalho acadêmico de estatística) e a coordenação de relações com instituições estrangeiras. Sérgio, além de diretor do Instituto de Matemática e Estatística, ocupava a posição de diretor-adjunto de relações internacionais da Agência USP.

“Ele tinha habilidade de conversar, explicar, aparar arestas e evitar conflitos”, diz Possani.

Sérgio também era conhecido pela capacidade de acolher e de transformar a vida de seus alunos. “Serginho não dava apenas conselhos, ele se importava de verdade. E essa diferença salvou minha vida” lembra Stephanie Blum, ex-orientanda e amiga de Sérgio, que saiu de uma depressão e de um relacionamento abusivo com o auxílio do professor.

Sérgio morreu no último dia 12 de março, aos 59 anos, durante o tratamento de uma leucemia. Institutos da própria USP e de outras instituições, além de entidades como a SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) e a SBMAC (Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional) renderam homenagens a Sérgio. Ele deixa a esposa, Mariana, as filhas, Rebeca e Isabel, os enteados, Giovanna, Moreno e Antonio, os irmãos, Victor e Ricardo, e os pais, Sérgio e Tereza, além de amigos, alunos e admiradores nas mais diversas áreas do conhecimento.

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