72% da população brasileira sofre com problemas no sono

A correria do dia a dia, o uso excessivo de telas e o estresse acumulado têm tornado o sono um bem cada vez mais negligenciado. Mas, para além do simples descanso, dormir bem é essencial para manter o corpo e a mente saudáveis.

Os dados preocupam: segundo a Associação Brasileira do Sono, cerca de 72% da população sofre com distúrbios do sono, como insônia e apneia, mas muitas vezes não busca tratamento adequado. E as consequências disso vão muito além do cansaço. De acordo com Paulo Henryque, professor de psicologia da Estácio FAPAN, a privação de uma boa noite de descanso, pode causar alterações no humor, dificuldades cognitivas e aumentar o risco de transtornos como ansiedade e depressão.

“A falta de um descanso adequado também compromete o sistema imunológico, tornando o corpo mais vulnerável a infecções e doenças”, afirma Henryque. Além disso, dormir mal está relacionado ao aumento do risco de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares. Um estudo publicado na revista Sleep revelou que menos de seis horas de sono por noite pode elevar em até 48% as chances de desenvolver doenças cardíacas.

O estilo de vida moderno tem grande influência nesses números. O uso prolongado de celulares, computadores e televisores antes de dormir prejudica a produção de melatonina, hormônio que regula o ciclo do sono. Além disso, a rotina acelerada e a pressão por produtividade fazem com que muitas pessoas durmam menos do que o necessário, afetando diretamente a recuperação do organismo.

Sono
Uso prolongado de celulares, computadores e televisores antes de dormir prejudica a produção de melatonina, hormônio que regula o ciclo do sono

O cérebro também sofre com a privação do sono

Os impactos de uma rotina sem descanso adequado não se limitam ao corpo. O cérebro também precisa do sono para funcionar bem. Durante a fase profunda do sono, ocorre um processo de “limpeza” no cérebro, eliminando toxinas e resíduos que podem contribuir para o surgimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

“Quando dormimos pouco, essa ‘faxina’ natural é prejudicada, favorecendo o surgimento de doenças que afetam a cognição”, explica Henryque. Estudos indicam que pessoas que dormem pouco ao longo da vida têm maior risco de desenvolver demência na velhice, pois o cérebro não consegue eliminar substâncias prejudiciais de forma eficiente.

Outro efeito preocupante da privação do sono é a redução do tempo passado na fase REM, responsável pelos sonhos. “Os sonhos ocorrem principalmente durante a fase REM do sono, que desempenha um papel fundamental na consolidação da memória, na regulação emocional e na criatividade. No entanto, quando dormimos menos ou temos um sono fragmentado, passamos menos tempo nessa fase”, ressalta o professor.

A falta de sonhos pode prejudicar o processamento emocional e aumentar o estresse, a ansiedade e as dificuldades na tomada de decisões. Pesquisas apontam que indivíduos privados da fase REM tendem a apresentar maior irritabilidade, dificuldades de concentração e menor capacidade de resolver problemas. “A ausência dos sonhos não é apenas um sintoma da privação do sono, mas um sinal de que o cérebro não está passando por processos essenciais para o equilíbrio mental e cognitivo”, reforça Henryque.

Como melhorar a qualidade do sono?

A boa notícia é que algumas mudanças na rotina podem ajudar a garantir noites de sono mais reparadoras. Manter horários regulares para dormir e acordar, evitar cafeína e álcool à noite e criar um ambiente escuro e silencioso são algumas medidas recomendadas pelos especialistas.

“Reduzir o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir e incluir atividades relaxantes na rotina noturna, como leitura ou meditação, também faz muita diferença”, aponta Henryque. Ele também destaca a importância de uma alimentação equilibrada, evitando refeições pesadas à noite, e da prática de exercícios físicos – desde que não sejam feitos em excesso no período noturno.

Criar um ritual de sono, como ouvir músicas suaves ou tomar um banho morno antes de dormir, pode ajudar o corpo a entender que é hora de descansar.

 

 

 

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