Desconexão social: como a ausência de vínculos afeta o equilíbrio emocional

A solidão tem se tornado um dos maiores desafios da sociedade contemporânea, afetando diretamente a saúde física e mental. Em um vídeo recente, o médico Drauzio Varella alertou sobre o impacto das amizades de ‘baixa manutenção’ e a dificuldade de criar conexões reais em um mundo cada vez mais virtual. Segundo ele, a ausência de convivência com pessoas de confiança pode desencadear ansiedade, medo e até doenças cognitivas, como a demência. Essa realidade revela a importância de cuidar da saúde social, um pilar importante para o bem-estar humano que, quando negligenciado, pode trazer consequências para o equilíbrio emocional e físico.

A psicóloga Gabriele de França destaca que o ser humano é, por natureza, um ser social. A saúde social, portanto, envolve a capacidade de construir e manter relações saudáveis em diferentes âmbitos — seja na família, no trabalho, em grupos religiosos ou em círculos de amizade. “É a partir das relações que podemos ser reconhecidos, amados e apoiados. Isso faz parte das nossas necessidades psicológicas básicas”, explica a especialista, reforçando que o isolamento e a desconexão social podem comprometer o bem-estar mental e físico.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado completo de bem-estar físico, mental e social. Dessa forma, estar saudável vai muito além da ausência de doenças. Quando o aspecto social está comprometido, os outros pilares da saúde tendem a ruir. A pandemia de covid-19, por exemplo, evidenciou esse desequilíbrio. O isolamento forçado, o trabalho remoto e a redução dos encontros sociais impactaram diretamente a saúde emocional das pessoas, gerando um aumento nos casos de depressão, ansiedade e distúrbios psicossomáticos.

Kasley Killam, autora de The Art and Science of Connection, destacou durante o evento SXSW que a falta de conexões sociais pode se transformar em uma ‘epidemia de solidão’. Estudos mostram que são necessárias cerca de 50 horas de contato para transformar conhecidos em amigos casuais, e mais de 200 horas para criar elos profundos e de confiança. Em um mundo onde as redes sociais deveriam facilitar essas conexões, a realidade é que elas muitas vezes intensificam o distanciamento, criando um ambiente de interações superficiais e temporárias.

Drauzio Varella reforça que essa desconexão tem efeitos diretos na saúde. A falta de convivência com pessoas confiáveis não apenas gera sofrimento emocional, mas também impacta o sistema cognitivo, aumentando os riscos de doenças neurodegenerativas, como a demência. “Precisamos reaprender a valorizar o contato humano, a conversa sem pressa, o encontro sem um propósito imediato. Isso é o que fortalece nossas redes de apoio e nossa saúde mental”, ressalta o médico.

A psicóloga Gabriele aponta dois sinais claros de que a saúde social precisa de atenção: a dificuldade em se relacionar com outras pessoas e o isolamento completo. A resistência em conversar, a falta de interesse em interações sociais e a sensação de que não é necessário socializar são indicativos preocupantes. Em muitos casos, esse comportamento está associado a quadros depressivos ou transtornos de ansiedade.

Para restaurar e fortalecer a saúde social, é necessário investir em momentos de conexão genuína. Estar com pessoas, rir, compartilhar experiências e participar de atividades coletivas são formas de nutrir esse pilar da saúde. “Projetos sociais, encontros em família, ligações e mensagens fazem diferença. O importante é criar e manter esses vínculos”, sugere Gabriele.

 

 

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