Campanhas alertam para câncer do colo do útero e endometriose

Duas doenças que afetam mulheres têm o mês de março como um marco de prevenção e conscientização. O Março Lilás alerta sobre o câncer do colo do útero, o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde, no último relatório do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O Março Amarelo, por sua vez, busca ampliar o conhecimento sobre a endometriose, uma condição ginecológica que pode comprometer a fertilidade e a qualidade de vida de quem sofre com ela.A enfermeira Michele Monteiro, técnica da Coordenação Estadual de Atenção Oncológica da Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), explica que o câncer do colo do útero é causado, em sua maioria, pelo papilomavírus humano (HPV), um vírus transmitido sexualmente.A partir da Política Nacional do Controle do Câncer do Colo do Útero, ela frisa a importância de “trabalhar sexo e sexualidade; educação e saúde; e a vacinação contra o HPV”. “Essa é uma das políticas mais antigas e tem uma eficácia de 98% a 99% na prevenção da doença. A principal é a vacinação contra o HPV, que está em uso há mais de 10 anos disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para quem tem entre 9 e 14 anos, e agora é em dose única”, destaca.Conteúdos relacionados:Dr. Responde: saiba os tipos de medicamentos e diferençasDr. Responde: veja por que ter cuidado ao descartar remédiosNo Pará, “em 2024, os dados são de 830 casos e a estimativa para 2025 é que cerca de 830 novos casos da doença sejam diagnosticados”, aponta a enfermeira, com base, também nos dados das estimativas das taxas para cada ano do triênio 2023-2025 revelados pelo Inca.Além da vacina, o exame preventivo, conhecido como papanicolau, deve ser realizado periodicamente por mulheres de 25 a 64 anos, já que, lembra Michele, são as mais acometidas pela doença. Sintomas como corrimento, ou dor e sangramento vaginal anormal podem indicar a presença da doença. O exame permite a detecção precoce de lesões pré-cancerígenas, aumentando as chances de tratamento bem-sucedido. “O vírus pode causar câncer não apenas no colo do útero, mas também pode acometer a vulva, vagina, cavidade oral e nasal”, continua.Para reforçar o diagnóstico precoce, o Ministério da Saúde (MS) está implantando a testagem do DNA do HPV, que identifica a presença do vírus durante o exame preventivo. “Se houver detecção do vírus de alto risco, a paciente é encaminhada para biópsia. Caso o câncer seja confirmado, o tratamento é feito nos serviços de alta complexidade, como o Ophir Loyola e o Barros Barreto, além de unidades em Santarém, Tucuruí, Castanhal e Paragominas”, detalha, sobre onde recorrer no Pará.“Nos últimos seis anos houve um aumento nos diagnósticos em estágio inicial, permitindo tratamento apenas com cirurgia, sem necessidade de quimioterapia ou radioterapia”, acrescenta.Quer saber mais notícias de saúde? Acesse nosso canal no Whatsapp

ENDOMETRIOSEA endometriose é uma doença ginecológica inflamatória em que, muitas vezes, as pacientes demoram a receber o diagnóstico porque normalizam a dor. Segundo o médico ginecologista e obstetra Ricardo Quintairos, diretor da Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgias Minimamente Invasivas (SBE) e presidente da Comissão Nacional de Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), estima-se que 7 milhões de brasileiras convivam com a condição e 186 milhões de mulheres no mundo.“É uma doença crônica caracterizada quando o endométrio – tecido que reveste o útero – se desloca para fora da cavidade uterina, alcançando a cavidade abdominal por meio das trompas. Algumas células têm a capacidade de se implantar e são eliminadas, mas neste caso elas não são fagocitadas pelo sistema imunológico, que possui uma alteração genética que impede sua destruição, retardando a apoptose (morte celular programada)”, esclarece.“Como resultado, essas células conseguem se implantar em locais inadequados, crescendo de forma ectópica, ou seja, fora do útero”, pontua. Ele alerta para a prevenção secundária pois, diferente do câncer do colo do útero, a endometriose não tem uma prevenção primária, uma vez que está ligada a fatores genéticos e imunológicos. No entanto, a prevenção secundária, baseada no diagnóstico precoce, pode impedir que a doença avance para estágios mais graves.“O primeiro passo é identificar os sintomas, como cólicas menstruais incapacitantes, fluxo menstrual aumentado, dor pélvica crônica e dificuldade para engravidar. A partir daí, exames como ultrassonografia transvaginal (para quem já mantém relações sexuais) e ressonância magnética (para quem não mantém relações sexuais) podem confirmar a presença da doença”, afirma Quintairos. Ainda sobre a prevenção primária, ao identificar que os sintomas não são normais, o primeiro passo no tratamento é a história clínica, onde entra a anamnese.O tratamento varia conforme a gravidade, podendo ser clínico, com uso de hormônios para inibir a progressão da endometriose, ou cirúrgico, nos casos em que a doença compromete outros órgãos, como lesões no reto, na bexiga, ovário, por exemplo. Além do tratamento medicamentoso, o especialista indica que mudanças no estilo de vida podem ajudar no controle da endometriose.“Adotar uma dieta anti-inflamatória, manter uma boa hidratação, consumir antioxidantes como cúrcuma, vitamina D, além de praticar atividades físicas regularmente, são estratégias que podem melhorar significativamente a qualidade de vida da mulher”, aconselha.SeisO médico evidencia os “6 Ds” relacionados à dor na endometriose:Dispareunia – dor durante a relação sexualDisquesia – dor ao evacuarDismenorreia – cólica menstrual intensaDisúria – dor ao urinarDificuldade de engravidar – infertilidade associada à endometrioseDor pélvica crônica – dor persistente na região pélvicaENDOMETRIOSE Gisele Teixeira, ginecologista e sexóloga, explica que a endometriose é uma doença ginecológica crônica que ocorre quando o tecido endometrial cresce fora do útero, ou seja, ao invés das células do tecido que reveste o útero (endométrio), serem expulsas durante a menstruação, elas se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar. A ginecologista salienta que sintomas da doença como cólica intensa durante a menstruação e fluxo intenso não devem ser normalizados. “Começa geralmente com esses sintomas, com uma dor incapacitante que não melhora com remédio, onde as pacientes precisam até ir ao hospital. Dores de profundidade durante a relação sexual com penetração, dores na evacuação com sangramento não são normais e precisam ser investigados”, diz. Gisele Teixeira diz que a doença não chega a ser rara, mas mal diagnosticada. Ela comenta ainda que a endometriose está entre as principais causas de infertilidade e o desenvolvimento da doença pode ter cunho genético, histórico familiar e inflamatório. A ginecologista afirma que maus hábitos alimentares e falta de exercícios físicos podem prejudicar o controle da doença. É importante que a paciente aposte em uma dieta anti-inflamatória, frisou Gisele Teixeira.“Alguns métodos que podem ser utilizados no tratamento são a suspensão da menstruação, além de DIU hormonal. É preciso ter um olhar integral para a saúde feminina para melhorar a qualidade de vida e tratamento mais eficaz”, ressalta.

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