‘Fuga’ de Eduardo Bolsonaro tem motivações políticas e eleitorais, avalia cientista

A fuga inesperada do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) para os Estados Unidos da América (EUA) ressoou os tambores de guerra na Esplanada dos Três Poderes entre ativistas bolsonaristas e a esquerda lulista. Em um vídeo do parlamentar divulgado no X (antigo Twitter), intitulado de “A decisão mais difícil que tomei na minha vida”, Eduardo acusa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de orquestrar um plano com a Procuradoria Geral da República (PGR), liderado por Paulo Gonet, com a bancada do PT para a tomada do passaporte do parlamentar. 

A justificativa, segundo ele, seria as constantes viagens para o país norte-americano que teriam preocupado as autoridades brasileiras de uma suposta investida do republicano Donald Trump contra a nação. Em uma linha parecida, o pai de Eduardo e ex-presidente da república, Jair Bolsonaro, ventilou sobre um suposto regime “nazifascista” no Brasil em uma coletiva de imprensa. “Um filho que se afasta mais do que por um momento de patriotismo, se afasta para combater algo parecido com o nazifascismo, que cada vez mais avança em nosso país.” 

Por outro lado, fontes ligadas de dentro do PL confirmaram ao O HOJE que o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, teria barrado Eduardo de ingressar na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Segundo o entendimento do líder partidário, um afrontamento direto com o judiciário poderia vir a desfavor da sigla em um momento inflamado entre os dois poderes. 

Por causa destes fatores, o cientista político Guilherme Carvalho avalia que a saída de Eduardo do país é uma jogada estratégica para revitalizar o discurso bolsonarista, uma vez que o deputado federal teria imunidade parlamentar, o que dificultaria uma ação legal contra ele. “Ele [vai para os EUA] para voltar a calorar [o debate político] e a tentar chamar a militância dele de volta para o embate [com o PT].”

Outro fator que facilita esta avaliação é uma abordagem de Eduardo que deve vir ainda mais incisiva e vitimismo com embates às instituições sem medo de represálias, o que pode, segundo Carvalho, pode “incomodar muito mais as instituições”, afirma. 

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Por outro lado, o cientista político aponta que essa fuga pode sinalizar uma possível visita ou ida de Bolsonaro para a embaixada americana com apoio do governo Trump. Em março de 2024, Bolsonaro já havia se hospedado na embaixada da Hungria após ter o passaporte apreendido pela Justiça. Além disso, ministros do STF da Primeira Corte também avaliam esta possibilidade, conforme apurou a CBN. Com isso, o ex-presidente pode encarar um pedido de prisão preventiva caso o líder de honra da legenda mostre intuito de escapar do julgamento. 

Além disso, o especialista Lehninger Motta compartilha com a visão de Carvalho em apontar os interesses políticos por trás da viagem de última hora. Por outro lado, também aponta seguindo  uma avaliação política de que o ato de Eduardo pode significar uma tentativa de embate ideológico diante de uma possível prisão ao ver a formação da Primeira Corte do STF. “Bolsonaro e a sua cúpula deve ter visto que não há condições de não ser condenado, então agora têm que ter um enfrentamento ideológico onde [a família Bolsonaro] coloca a corte como uma corte viciada, que independente das provas que seja representadas eles vão julgar contra Jair”, relata.

Este embate ideológico deve vir por meio das redes sociais com um confronto e uma militância mais aberta contra as lideranças políticas. Como afirma o cientista político Luiz Signates, Eduardo planeja articular uma resistência política com outras lideranças da direita dos EUA. “A ambição dele é articular internacionalmente a extrema-direita, visando ambições políticas futuras no Brasil. Ele sabe hoje que a ala dessa vertente mais poderosa é justamente a que se acotovela junto de Trump.”

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