Musk terá acesso a plano secreto de guerra contra China – 20/03/2025 – Mundo


O Pentágono irá informar Elon Musk nesta sexta-feira (21) sobre o plano militar dos Estados Unidos para uma guerra eventual que possa eclodir com a China, afirmaram dois funcionários do governo nesta quinta-feira (20).

Outro funcionário disse que a reunião terá a China como foco, sem fornecer mais detalhes. Um quarto funcionário confirmou que Musk estaria no Pentágono nesta sexta, mas também não deu mais detalhes.

Dar a Musk acesso a alguns dos segredos militares mais bem guardados do país seria uma expansão dramática de seu já extenso papel como conselheiro do presidente Donald Trump e líder do esforço da gestão republicana para reduzir gastos e expurgar o governo de servidores e políticas públicas às quais os dois se opõem.

Esse acesso dado ao bilionário também reforçaria questões a respeito de conflitos de interesse envolvendo Musk, enquanto ele se movimenta através da burocracia federal ao mesmo tempo em que continua a administrar empresas que possuem grandes contratos com o governo. Neste caso, Musk, CEO da SpaceX e da Tesla, é um dos principais fornecedores do Pentágono e tem muitos interesses financeiros na China.

Os planos de guerra do Pentágono, conhecidos no jargão militar americano como “O-plans” ou planos operacionais, estão entre os segredos mais bem guardados do Exército. Se um país estrangeiro descobrisse como os EUA planejam lutar contra eles, poderia reforçar suas defesas e solucionar suas fraquezas, tornando os planos muito menos propensos ao sucesso.

O briefing ultrassecreto para o plano de guerra com a China tem cerca de 20 a 30 slides que explicam como os EUA lutariam em tal conflito. Cobre o plano desde os indícios e alertas de uma ameaça da China até várias opções sobre quais alvos chineses atacar e em que momento, que seriam apresentados a Trump para tomada de decisões, de acordo com funcionários com conhecimento do plano.

Um porta-voz da Casa Branca não respondeu a um e-mail do New York Times solicitando comentários sobre o propósito da visita, como ela foi planejada, se Trump estava ciente dela e se a visita levanta questões de conflitos de interesse. A Casa Branca não disse se Trump assinou uma dispensa de conflitos de interesse para Musk.

Após o New York Times publicar esta reportagem, Sean Parnell, o principal porta-voz do Departamento de Defesa, disse em um comunicado: “O Departamento de Defesa está animado para receber Elon Musk no Pentágono na sexta-feira. Ele foi convidado pelo secretário [Pete] Hegseth e está apenas visitando.”

A reunião reflete o papel extraordinário e duplo desempenhado por Musk, que é tanto o homem mais rico do mundo como recebeu de Trump ampla autoridade.

Musk tem uma autorização de segurança, e o secretário de Defesa pode determinar quem precisa saber sobre o plano. A escolha de compartilhar muitos detalhes técnicos com Musk, no entanto, é outra questão.

Hegseth; o almirante Christopher Grady, presidente interino do Estado-Maior Conjunto; e o almirante Samuel Paparo, chefe do Comando Indo-Pacífico do Exército, estão previstos para apresentar a Musk detalhes sobre o plano dos EUA para enfrentar a China em caso de conflito militar entre os dois países, disseram os funcionários.

Planos operacionais para grandes contingências, como uma guerra com a China, são extremamente difíceis de entender para pessoas sem experiência extensa em planejamento militar. A natureza técnica é a razão pela qual os presidentes geralmente são apresentados aos contornos gerais de um plano, em vez dos detalhes reais dos documentos. Não está claro quantos detalhes Musk desejará ou precisará ouvir.

Hegseth recebeu parte do briefing sobre o plano de guerra com a China na semana passada e outra parte na quarta-feira (19), de acordo com funcionários familiarizados com o plano.

Não está claro qual foi a motivação para fornecer a Musk um briefing tão sensível. Ele não está na cadeia de comando militar, nem é um conselheiro oficial de Trump em assuntos militares envolvendo a China.

Mas há uma possível razão pela qual Musk pode precisar conhecer aspectos do plano de guerra. Se Musk e sua equipe de cortadores de custos do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) quiserem reduzir o orçamento do Pentágono de maneira responsável, eles podem precisar saber quais sistemas de armas o órgão planeja usar em uma luta com a China.

Tome, por exemplo, porta-aviões. Reduzir futuros porta-aviões economizaria bilhões de dólares, dinheiro que poderia ser gasto em drones ou outras armas. Mas se a estratégia de guerra dos EUA depender do uso de porta-aviões de maneiras inovadoras que surpreenderiam a China, desativar navios existentes ou interromper a produção de futuros navios poderia prejudicar esse plano.

O planejamento para uma guerra com a China tem dominado o pensamento do Pentágono por décadas, bem antes de uma possível confrontação com Pequim adentrar o senso comum no Capitólio. Os EUA construíram suas Forças Aéreas, Marinha e Forças Espaciais —e mais recentemente de Fuzileiros Navais e Exército— com uma possível luta contra a China em mente.

Críticos dizem que o Exército investiu demais em grandes sistemas caros, como jatos de combate ou porta-aviões, e muito pouco em drones de médio alcance e defesas costeiras. Mas para Musk avaliar como reorientar os gastos do Pentágono, ele gostaria de saber o que o Exército pretende usar e para qual propósito.

Musk já pediu ao Pentágono para parar de comprar certos itens de alto preço, como os jatos de combate F-35, fabricados por um de seus concorrentes de lançamento espacial, a Lockheed Martin, em um programa que custa ao Pentágono mais de US$ 12 bilhões por ano.

No entanto, os extensos interesses comerciais de Musk tornam seu acesso a segredos estratégicos sobre a China um problema sério na visão de especialistas em ética. Funcionários afirmaram que as revisões dos planos de guerra contra a China se concentraram em atualizar os planos para defesa contra a guerra espacial. A China desenvolveu um conjunto de armas que podem atacar satélites dos EUA.

As constelações de satélites Starlink de Musk, que fornecem serviços de dados e comunicações do espaço, são consideradas mais resilientes do que os satélites tradicionais. Mas ele poderia ter interesse em saber se os Estados Unidos poderiam defender seus satélites em uma guerra com a China.

Participar de uma reunião secreta sobre a ameaça da China com alguns dos mais altos funcionários do Pentágono e militares dos EUA seria uma oportunidade tremendamente valiosa para qualquer contratante de Defesa que busque vender serviços ao Exército.

Musk poderia obter conhecimento sobre novas ferramentas que o Pentágono poderia precisar e que a SpaceX, da qual ele continua sendo o CEO, poderia vender.

Musk tem também sido o foco de uma investigação pelo inspetor-geral do Pentágono sobre questões relacionadas ao uso da autorização de segurança de alto nível que o bilionário possui.

As investigações começaram no ano passado, depois que alguns funcionários da SpaceX reclamaram a agências governamentais que Musk e outros na empresa não estavam relatando adequadamente contatos ou conversas com líderes estrangeiros, uma exigência deste nível de acesso.

Oficiais da Força Aérea, antes do fim da gestão de Joe Biden, iniciaram sua própria revisão, após senadores democratas questionarem a respeito Musk e afirmarem que ele não estava cumprindo os requisitos de autorização de segurança.

De fato, a Força Aérea negou um pedido de Musk para um nível ainda mais alto de autorização de segurança, conhecido como Programa de Acesso Especial, que é reservado para programas classificados como extremamente sensíveis, citando potenciais riscos de segurança associados ao bilionário.

A SpaceX se tornou tão valiosa para o Pentágono que o governo chinês afirmou considerar a empresa uma extensão das Forças Armadas dos EUA.

“Militarização do Starlink e Seu Impacto na Estabilidade Estratégica Global” foi a manchete de uma publicação lançada no ano passado pela Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa da China, de acordo com uma tradução do documento preparada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

Musk e a Tesla, a empresa de veículos elétricos que ele controla, dependem fortemente da China, que abriga uma das fábricas principais da montadora em Xangai. Inaugurada em 2019, a instalação de última geração foi construída com permissão especial do regime chinês e agora responde por mais da metade das entregas globais da Tesla. No ano passado, a empresa informou em documentos financeiros que tinha um acordo de empréstimo de US$ 2,8 bilhões com credores na China para despesas de produção.

Em público, Musk tem evitado criticar Pequim e sinalizado sua disposição de trabalhar com o Partido Comunista Chinês. Em 2022, ele escreveu uma coluna para a revista da Administração do Ciberespaço da China, a agência responsável pela censura no país, exaltando suas empresas e suas missões de melhorar a humanidade.

Nesse mesmo ano, o bilionário disse ao Financial Times que a China deveria ter algum controle sobre Taiwan, criando uma “zona administrativa especial para Taiwan que seja razoavelmente aceitável”, uma afirmação que irritou políticos da ilha. Na mesma entrevista, ele também observou que Pequim buscou garantias de que ele não venderia o Starlink na China.

No ano seguinte, em uma conferência de tecnologia, Musk chamou Taipé de “uma parte integrante da China que arbitrariamente não faz parte da China” e comparou a situação Taiwan-China ao Havaí e os Estados Unidos —Pequim vê Taiwan e a China continental como partes de uma única China.

No X, rede social da qual Musk é dono, o bilionário há muito tempo usa sua conta para elogiar a China. Ele disse que o país é “de longe” o líder mundial em veículos elétricos e energia solar, e elogiou seu programa espacial por ser “muito mais avançado do que as pessoas percebem”. Ele incentivou mais pessoas a visitarem o país e especulou abertamente sobre uma aliança que chamou de inevitável entre Rússia e China.


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