Um abraço para Linn da Quebrada – 20/03/2025 – Todas as letras


Tenho pensado muito em Linn da Quebrada desde que soube de sua internação a partir do agravamento de uma depressão. Assim como ela também sou afeito ao jogo de palavras. E penso que seu sobrenome conta de um despedaçamento, não só de sua origem periférica.

Linn está numa grande fase na vida pública. Ainda goza (e padece) da fama alcançada pelo canhão que é a TV Globo, ao aparecer no Big Brother Brasil. Sua carreira como compositora e cantora é reconhecida, suas músicas já frequentaram as listas de mais ouvidas. Atualmente, ela divide a telona com o maior nome vivo da teledramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro, no filme “Vitória”, em cartaz nos cinemas.

Porém, quando digo que penso em Linn, a imagem que me vem não é essa descrita acima, a pública. Penso na Linn da coxia. Lá não tem holofote, é um lugar escondido dentro do peito dela. E do meu também e todas as letras da sigla da nossa comunidade, suponho.

No fim do dia, depois do “corta” gritado pelo diretor, ela volta a ser mais uma travesti no Brasil que espanca e mata travestis. O Brasil, país que expulsa travestis dos lares. O Brasil que só aceita ver travestis nas esquinas e nos sites de conteúdo pornográfico.

Nos últimos tempos, nós, da comunidade LGBTQIAPN+, viramos novamente alvo. Nossa busca por direitos virou identitarismo, explicação simplista. É nossa culpa o avanço da extrema-direita, a precarização do trabalho também cai na nossa conta. Dizem que fragmentamos as lutas por uma “busca narcísica”.

Todo dia quando saímos do armário nos expulsam também do mundo. E quando decidimos cair fora de mala e cuia para procurar nossa turma voltam a nos apontar o dedo. Ninguém sabe de onde viemos, mas todos dizem saber para onde vamos: para a rua, para o inferno, para a demissão, para o abate.

A busca por direitos em que estamos empenhados é também por acesso à saúde. Saúde que fale a nossa língua. Penso em Linn e me questiono se alguém tem conseguido entender o que a angustia. Ela administra bem as palavras, tem caneta pesada, mas quase nada no mundo cisgênero, binário e heteronormativo alcança o que nos angustia.

O perfil de Linn no Instagram agora se chama Linnda que brada. Brada mesmo, Linn. Brada, a gente quer ouvir, e gritaremos juntos com você, um grito rouco, mas eloquente.

Um abraço para você, Linn.


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