Estudo diz que resistir a desejos é possível e frequente – 21/03/2025 – Deborah Bizarria


Outro dia me peguei encarando um pacote de biscoitos no armário da cozinha às oito da noite. Sabia perfeitamente que comer aquilo não era o ideal, muito menos necessário. Ainda assim, não faria mal, pensei. Mas por que raios é tão difícil simplesmente fechar o armário e seguir em frente?

Quem responde essa pergunta é Roy Baumeister e seus colegas em um estudo sobre desejo e autocontrole. Durante uma semana, mais de duzentas pessoas carregaram um aparelho que, aleatoriamente, perguntava várias vezes ao dia se elas estavam sentindo algum desejo naquele momento ou nos últimos trinta minutos. Caso estivessem, precisavam relatar a intensidade desse desejo (em uma escala que ia de leve até “irresistível”). Também precisavam relatar se entrava em conflito com seus objetivos pessoais, se haviam feito algum esforço consciente para resistir e, por fim, se cederam à tentação ou não.

Os participantes relataram sentir desejos em cerca de metade das vezes que eram abordados pelo aparelho —não só por comida, mas também por redes sociais, descanso, compras impulsivas ou aquela cervejinha depois do expediente. Quase metade desses desejos entrava em choque direto com suas metas pessoais, criando um conflito interno.

Mas aqui vem o ponto crucial do estudo: resistir não é apenas possível, como também bastante frequente. Na maioria das ocasiões em que tentaram resistir, as pessoas conseguiram evitar a tentação com sucesso. Mesmo quando classificavam o desejo como “irresistível”, ainda assim conseguiam dizer não em aproximadamente 75% das tentativas. Isso desmonta aquela velha desculpa de que certos desejos são simplesmente “incontroláveis”.

Em outro estudo, Baumeister e seus colegas mostraram que pessoas com maior autocontrole têm melhor desempenho acadêmico, melhores relacionamentos interpessoais, menos comportamentos impulsivos, e menor incidência de problemas psicológicos, como ansiedade e depressão. Eles também descobriram que não existe “excesso” de autocontrole —quanto mais, melhor.

Além disso, participantes com maior autocontrole não apenas resistiam mais facilmente às tentações, mas também tinham estratégias mais eficazes para evitar situações difíceis desde o início, mostrando que prevenir conflitos é uma parte essencial da equação.

Claro que nem tudo são flores. Resistir exige esforço consciente, especialmente em momentos de vulnerabilidade emocional ou física. O estudo também revelou situações específicas que reduzem drasticamente nosso autocontrole, como o consumo de álcool —quanto maior o nível de intoxicação, menor a eficácia do autocontrole. Outro agravante é o ambiente social: estar rodeado por pessoas que já estão se entregando ao desejo aumenta bastante a probabilidade de cedermos também.

Mas então, se resistir é possível, por que fracassamos tanto? Pessoas com alto autocontrole não são, necessariamente, aquelas que resistem bravamente a desejos intensos o tempo todo. São, na verdade, as que evitam criar ou entrar em situações de conflito desde o início. Elas gerenciam o ambiente, antecipam situações de risco e assim minimizam a necessidade de lutar contra impulsos constantemente.

O segredo, portanto, não está só em resistir bravamente quando a tentação surge. Está, principalmente, em se conhecer suficientemente bem para não cair nas próprias armadilhas. Talvez o primeiro passo seja simplesmente guardar os biscoitos um pouco mais longe da cozinha —ou melhor ainda, não comprá-los em primeiro lugar.


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