Trump e política externa influenciam na alta da Selic no Brasil

Pela quinta vez seguida, sendo a segunda já na gestão de Gabriel Galípolo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa de juros do país. Com aumento de 1 ponto percentual, a Selic alcançou a marca de 14,25% ao ano – que representa o maior patamar atingido desde a crise financeira que o Brasil atravessou no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). 

O anúncio aconteceu na última quarta-feira (19). No comunicado, o BC justifica que a alta dos preços da energia e dos alimentos contribuem para a alta da Selic. “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”, diz um trecho do documento.

Além disso, é citado as incertezas externas como uma das causalidades do aumento da taxa básica de juros . “O ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos. Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Federal Reserve, Banco Central americano] e acerca do ritmo de crescimento nos demais países”.

Para a economista Adriana Pereira, professora no curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a relação da alta da Selic com a política externa é pelos custos de produção. “O aumento de preços no Brasil está relacionado com o custo da nossa produção que está relacionado diretamente com o dólar. Além do aumento de custo de produção interna, a elevação do valor do dólar aumenta as exportações, ou seja, os produtos são vendidos para o exterior e sobram menos produtos internamente”, garantiu ela, em conversa com a reportagem do O HOJE.  

Na sequência, a economista diz que a alta do dólar resulta na queda de importações. “Quando nós temos menos oferta de produtos no mercado interno, há uma tendência à elevação dos preços e isso tem forçado o aumento da inflação no Brasil e automaticamente o Banco Central tem se comportado elevando as taxas de juros”. Pereira ainda explica que o aumento da demanda, ocasionado pelo aumento do nível de empregos, é um fator que contribui para o aumento da inflação no país – mas não o principal. 

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A constatação do Copom sobre a influência da política externa na taxa Selic é acompanhada de um momento delicado do país comandado pelo republicano Donald Trump. Nos últimos dias, o debate sobre o risco de recessão da economia norte-americana ganhou força mundo afora. Recentemente, Trump tratou das dificuldades de conseguir uma diminuição dos preços e que os estadunidenses precisavam se preparar para algumas “pequenas perturbações”. O presidente promete, desde os tempos de campanha, retomar a economia do país. 

Uma das medidas tomadas por Trump são as tarifas sobre as importações de aço, ferro e alumínio em 25%. Para Adriana, o Brasil “ainda não sofreu impacto direto dessa taxa”, mas a economista tratou de uma possível consequência. “A possível consequência não é a elevação do preço desses produtos, pelo contrário, poderá haver queda interna no Brasil. Vai ter um excesso de ofertas se não encontrarmos outros compradores no mundo que cubram a parte que os Estados Unidos vai deixar de comprar ou que irá taxar”. 

A docente garante que “inicialmente, há uma tendência de queda no preço desses produtos no mercado internacional”, porém, como são “produtos específicos para a indústria, acredito que essa demanda não reduz”, completa a economista. (Especial para O Hoje)

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