Ronaldo diz que ‘sistema não deixa ninguém entrar’ na CBF – 22/03/2025 – Esporte


O ex-jogador Ronaldo criticou as federações estaduais de futebol, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e Ednaldo Rodrigues, atual presidente da entidade, no Charla Podcast, nesta sexta (21).

A entrevista foi a primeira desde que o empresário anunciou, há dez dias, a retirada de sua pré-candidatura à presidência da CBF. Ele ainda detalhou algumas das propostas de sua campanha para os campeonatos estaduais e a questão dos gramados sintéticos, e falou sobre Neymar e a possibilidade de um técnico estrangeiro na seleção brasileira.

“Eu sei que é difícil pra caramba, mas eu não imaginava que era impossível”, afirmou Ronaldo sobre a candidatura. “O sistema realmente… Ele não deixa ninguém entrar. Tanto que, historicamente, a CBF nunca teve uma eleição com dois candidatos. Quem está no poder se reelege ou elege o sucessor.”

Na última quarta (19), sua esposa, Celina Locks, escreveu em redes sociais que o “Brasil é um país para sentir nojo”.

Campeão mundial nas Copas de 1994 e 2002, o ex-atacante se queixou de não ter conseguido apresentar suas propostas às federações, apesar de ter feito “a politicagem que tinha que ser feita”. Segundo ele, sua campanha enviou carta oficial a todas as federações pedindo uma audiência para expor suas ideias, e recebeu de ao menos 20 delas uma resposta padronizada. “Ah, Ronaldo, pô, muito legal você se interessar em querer ajudar o futebol. Respeitamos muito a sua trajetória, a sua história e tal, mas não podemos te receber, porque estamos alinhados com a excelente gestão do Ednaldo Rodrigues”, contou ao podcast.

Para o ex-jogador, as federações se veem obrigadas a apoiar a atual gestão da CBF sob o risco de verem benefícios cortados, e “faltou [a elas] coragem para mudar o futebol”.

“Tem gente competente pra caramba no Brasil. As pessoas na CBF não conseguem trabalhar, tudo é muito centralizado no Ednaldo, e as pessoas não conseguem trabalhar, as pessoas entram lá e saem, ou ficam escanteados lá, enfim.”

Procurada pela reportagem, a CBF disse que não iria se manifestar.

Apesar da desistência, Ronaldo disse que não pretende guardar suas ideias para si. “Eu não vou abandonar o futebol, não vou tacar pedra. Eu vou continuar expondo as minhas ideias que eu acho que vai melhorar muito o futebol.”

Entre as propostas que detalhou aos entrevistadores Bruno Cantarelli e Beto Jr. estava uma resolução para o debate sobre gramados sintéticos —tema de manifesto recente de jogadores brasileiros— e um plano para os campeonatos estaduais.

Para os campos, a solução envolveria uma negociação coletiva para que todos os principais estádios tivessem gramados como os das arenas do Corinthians e do Internacional-RS. “Juntando 20 [clubes], o preço cai. […] Todo mundo vai gastar menos e vai ter todo mundo o gramado de qualidade”, afirma. Outra parte da equação seria encolher o calendário do esporte para sete meses no ano, liberando clubes e estádios para outras atividades.

Mas o empresário também criticou a programação lotada das chamadas arenas multiúso, que recebem eventos extra-futebol. “Por que estão colocando sintético? Não é só porque o gramado é ruim. É porque eles querem fazer um show na quarta-feira e no sábado querem jogar. E aí é mais fácil.”

Já as disputas estaduais deveriam ter um formato padronizado com menos jogos, disse o ex-jogador eleito três vezes melhor do mundo. “Mas [o estadual] tem que melhorar. […] É muito jogo ruim, que não vale pra nada, só pra manter jogador em atividade. Não, faz o estadual no Brasil inteiro com sete jogos, sistema igual Copa do Mundo.”

Presidente do Valladolid, na Espanha, o ex-dono do Cruzeiro-MG defendeu a ampliação das SAFs (sociedades anônimas do futebol) no Brasil. “Todos os clubes vão ter que fazer em algum momento. Até para trazer mais dinheiro para a indústria, para os clubes se organizarem para pagar as dívidas, e também para serem competitivos.”

O potencial de crescimento financeiro do futebol brasileiro deveria ser um grande atrativo a esse tipo de negócio, de acordo com o empresário. “Hoje a indústria do futebol é 0,7% do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil. Em outros países, a média está em 2,5%, 3% do PIB de cada país. Por exemplo, do [PIB] espanhol, da França, da Inglaterra.”

NEYMAR E ANCELOTTI

Questionado acerca do que pensa sobre o atual momento da seleção brasileira, o ex-jogador afirmou que a equipe sofre com as expectativas elevadas criadas por gerações anteriores, além de um “problema estrutural de liderança da CBF”.

Em um ponto, porém, Ronaldo afirmou concordar com Ednaldo Rodrigues: “Eu teria esperado também o [Carlo] Ancelotti, que nem ele fez”, disse o empresário, para quem está “super na hora” de a seleção ter um técnico estrangeiro. Ele relatou ainda ter ajudado no processo de tentativa de contratação do treinador do Real Madrid para o time nacional, falando diretamente com o italiano. “Não, não foi fantasia.”

Já sobre o atacante Neymar, cortado da equipe de Dorival Júnior na semana passada por causa de uma lesão, Ronaldo disse acreditar que ele pode chegar à próxima Copa do Mundo, em 2026, mas precisa assumir o compromisso, “porque é um sacrifício que vale a pena”. “Ele vai ter que se sacrificar fora de campo, se cuidar, descansar pra caramba. É comer, treinar e dormir, cara”, disse.



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