Chile: Por que a eleição terá tantos candidatos de direita – 22/03/2025 – Sylvia Colombo


Esqueça a festa que houve quando se comemorou o fim da Constituição de Pinochet, numa noite de outubro de 2020, com um esmagador 78,22% dos eleitores pedindo uma substituição da Carta Magna filha da ditadura. Ficou pouco nas lembranças a praça Baquedano, depois ponto de encontros que terminaram num acordo para levar o esquerdista Gabriel Boric ao poder. Outra festa que levou milhares às ruas a celebrar sua vitória, em 2022.

Agora, o mais provável é que os chilenos se encontrem diante das urnas, em outubro deste ano, com uma esquerda desarticulada. Mais grave, com uma extrema direita em ascensão.

Descontentamento com as políticas antimigratórias, que muitos chilenos consideram permissiva, aumento da violência (ainda que em cifras reduzidas na comparação com outros países da região), além das derrotas em aprovar suas reformas no Parlamento conservador, deixam o legado de Boric com uma sensação de que as vitórias —que existiram— não superaram as derrotas.

Antes de apresentar essa extrema direita que vai ao pleito em distintas variações, vale lembrar-se de um nome importante da centro-esquerda que aparentemente postulará ao cargo.

Trata-se de Carolina Tohá, ministra do Interior e principal peça do governo Boric, que acaba de se afastar do cargo para disputar a eleição.

Ela é filha de José Tohá González, um histórico advogado socialista que ocupou dois ministérios no governo de Salvador Allende.

Tohá pretende amealhar todos votos que não são de extrema direita e repetir o sucesso eleitoral de Boric na votação anterior.

Do lado conservador e ultraconservador estão, por exemplo, Evelyn Matthei, economista de 71 anos, da coalizão Chile Vamos. Ela vem tentando se apresentar com a direita democrática e de bons modos —a Economist já a vende assim, como a direita boazinha. Mas nunca é demais lembrar que seu pai cerrou filas com Pinochet e apoiou o golpe de Estado de 1973, e que ela o apoiou.

Por outro lado, corre José Antonio Kast, líder do Partido Republicano que encabeçou com sucesso a campanha contra uma nova Constituição. Kast, como já vem lembrando os perfis sobre ele de eleições passadas, é um admirador aberto do pinochetismo e um inimigo de um Chile mais inclusivo.

Partiu dele a forte campanha para que o 12% da população indigena não seja reconhecida como tal, assim como seus idiomas. Mais, é favorável a uma política linha-dura contra aqueles que são mais radicalizados e promovem ataques aos proprietários de terra do Sul do Chile. Os grupos mapuche mais radicais, longe de serem maioria, pregam tomar essas terras com violência.

E eis que surge alguém à direita de Kast. Trata-se de Johannes Kaiser, do partido Nacional Libertario (sempre tem a palavra libertário no meio), e que vem deslocando Kast nas pesquisas.

Kaiser, 59, sem diploma universitário, seria o “outsider” do pleito.

Em 2022 ganhou um posto de deputado no Congresso. Desde então, começou sua guinada à ultradireita. Assim como Javier Milei, fala de “casta política”, não perde a chance de aparecer em shows de TV sem dizer que é “preciso limpar” tudo o que está aí e reagir à “retórica woke”. Entre seus apoiadores, estão os que se acostumaram a chamar a direita dialoguista de “derechista cobarde” (direitista covarde).

As eleições ainda estão longe, mas as principais jogadas para ver como fica do tabuleiro já começaram.


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