“O sistema não deixa ninguém entrar”, diz Ronaldo sobre CBF

O ex-jogador Ronaldo criticou as federações estaduais de futebol, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e Ednaldo Rodrigues, atual presidente da entidade, no Charla Podcast, nesta sexta (21).A entrevista foi a primeira desde que o empresário anunciou, há dez dias, a retirada de sua pré-candidatura à presidência da CBF. Ele ainda detalhou algumas das propostas de sua campanha para os campeonatos estaduais e a questão dos gramados sintéticos, e falou sobre Neymar e a possibilidade de um técnico estrangeiro na seleção brasileira.Conteúdo Relacionado:CBF: após “boicote” de Federações, Ronaldo desiste de candidaturaEdnaldo será candidato único nas eleições da CBFDesfalques obrigam Brasil a mudar jogo para encarar ArgentinaPor que a Seleção Brasileira não consegue ser regular?”Eu sei que é difícil pra caramba, mas eu não imaginava que era impossível”, afirmou Ronaldo sobre a candidatura. “O sistema realmente… Ele não deixa ninguém entrar. Tanto que, historicamente, a CBF nunca teve uma eleição com dois candidatos. Quem está no poder se reelege ou elege o sucessor.”Campeão mundial nas Copas de 1994 e 2002, o ex-atacante se queixou de não ter conseguido apresentar suas propostas às federações, apesar de ter feito “a politicagem que tinha que ser feita”. Segundo ele, sua campanha enviou uma carta oficial a todas as federações pedindo uma audiência para expor suas ideias, e recebeu de ao menos 20 delas uma resposta padronizada. “Ah, Ronaldo, pô, muito legal você se interessar em querer ajudar o futebol. Respeitamos muito a sua trajetória, a sua história e tal, mas não podemos te receber, porque estamos alinhados com a excelente gestão do Ednaldo Rodrigues”, contou ao podcast.

Para o ex-jogador, as federações se veem obrigadas a apoiar a atual gestão da CBF sob o risco de verem benefícios cortados, e “faltou [a elas] coragem para mudar o futebol”.”Tem gente competente pra caramba no Brasil. As pessoas na CBF não conseguem trabalhar, tudo é muito centralizado no Ednaldo, e as pessoas não conseguem trabalhar, as pessoas entram lá e saem, ou ficam escanteadas lá, enfim.”Procurada pela reportagem, a CBF disse que não iria se manifestar.Apesar da desistência, Ronaldo disse que não pretende guardar suas ideias para si. “Eu não vou abandonar o futebol, não vou tacar pedra. Eu vou continuar expondo as minhas ideias que eu acho que vão melhorar muito o futebol.”Entre as propostas que detalhou aos entrevistadores Bruno Cantarelli e Beto Jr. estava uma resolução para o debate sobre gramados sintéticos –tema de manifesto recente de jogadores brasileiros– e um plano para os campeonatos estaduais.Para os campos, a solução envolveria uma negociação coletiva para que todos os principais estádios tivessem gramados como os das arenas do Corinthians e do Internacional-RS. “Juntando 20 [clubes], o preço cai. […] Todo mundo vai gastar menos e vai ter todo mundo o gramado de qualidade”, afirma. Outra parte da equação seria encolher o calendário do esporte para sete meses no ano, liberando clubes e estádios para outras atividades.Mas o empresário também criticou a programação lotada das chamadas arenas multiúso, que recebem eventos extra-futebol. “Por que estão colocando sintético? Não é só porque o gramado é ruim. É porque eles querem fazer um show na quarta-feira e no sábado querem jogar. E aí é mais fácil.”Já as disputas estaduais deveriam ter um formato padronizado com menos jogos, disse o ex-jogador eleito três vezes melhor do mundo. “Mas [o estadual] tem que melhorar. […] É muito jogo ruim, que não vale pra nada, só para manter jogador em atividade. Não, faz o estadual no Brasil inteiro com sete jogos, sistema igual à Copa do Mundo.”Presidente do Valladolid, na Espanha, o ex-dono do Cruzeiro-MG defendeu a ampliação das SAFs (sociedades anônimas do futebol) no Brasil. “Todos os clubes vão ter que fazer em algum momento. Até para trazer mais dinheiro para a indústria, para os clubes se organizarem para pagar as dívidas e também para serem competitivos.”O potencial de crescimento financeiro do futebol brasileiro deveria ser um grande atrativo a esse tipo de negócio, conforme o empresário. “Hoje, a indústria do futebol é 0,7% do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil. Em outros países, a média está em 2,5%, 3% do PIB de cada país. Por exemplo, do [PIB] espanhol, da França, da Inglaterra.”

NEYMAR E ANCELOTTIQuestionado acerca do que pensa sobre o atual momento da seleção brasileira, o ex-jogador afirmou que a equipe sofre com as expectativas elevadas criadas por gerações anteriores, além de um “problema estrutural de liderança da CBF”.Em um ponto, porém, Ronaldo afirmou concordar com Ednaldo Rodrigues: “Eu teria esperado também o [Carlo] Ancelotti, que nem ele fez”, disse o empresário, para quem está “super na hora” de a seleção ter um técnico estrangeiro. Ele relatou ainda ter ajudado no processo de tentativa de contratação do treinador do Real Madrid para o time nacional, falando diretamente com o italiano. “Não, não foi fantasia.”Já sobre o atacante Neymar, cortado da equipe de Dorival Júnior na semana passada devido a uma lesão, Ronaldo disse acreditar que ele pode chegar à próxima Copa do Mundo, em 2026, mas precisa assumir o compromisso, “porque é um sacrifício que vale a pena”. “Ele vai ter que se sacrificar fora de campo, se cuidar, descansar pra caramba. É comer, treinar e dormir, cara”, disse.

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