Projeto regata peças do lixão têxtil do deserto do Atacama – 24/03/2025 – Mercado


“Não compre. Resgate.” Este é o slogan de um projeto batizado de Atacama Re-Commerce e que pretende enviar para todo o mundo peças de roupas hoje acumuladas no deserto do Atacama, no norte do Chile. Quem se interessar por alguma das peças paga apenas o frete para retirar a roupa do deserto.

Lançado na última segunda-feira, o projeto tem uma equipe que faz a curadoria dos itens, o que garante que estejam em boas condições para revenda. Cada peça é então higienizada, organizada e disponibilizada na plataforma digital.

A primeira leva de roupas foi toda adquirida em apenas cinco horas por pessoas de países como Brasil, França, Reino Unido e China. Outras duas toneladas de roupas já foram higienizadas e devem entrar no site em breve.

Faz anos que parte do deserto chileno foi convertido em um cemitério de lixo têxtil composto pelo descarte sistemático tanto de roupas pós-consumo, ou seja, já usadas, como também de encalhes das mais de 50 coleções que as marcas de fast fashion produzem por ano.

O fenômeno é consequência do modelo de produção acelerado da indústria da moda. Hoje, são produzidas globalmente cerca de 100 bilhões de peças de vestuário por ano —o dobro em relação ao ano 2000. São 12 peças anuais por pessoa. Ou mais de 3.000 peças por segundo.

Tamanha escala de produção gerou custos mais baixos, o que mudou a relação das pessoas com suas roupas, muitas das quais são consideradas como se fossem quase descartáveis. Cada peça de roupa hoje é usada menos vezes do que 15 anos atrás e vai para descarte mais rápido, depois de apenas sete ou oito usos, segundo dados da consultoria McKinsey.

Com isso, o descarte de tecidos escalou, gerando desperdícios e danos ambientais e à saúde, já que 80% dos resíduos têxteis são incinerados, aterrados ou vão parar em lixões e no meio ambiente, segundo dados da Fundação Ellen MacArthur, ONG internacional dedicada à promoção da economia circular.

Estima-se que cerca de 39 mil toneladas de peças sejam despejadas na região anualmente. As montanhas de roupas que tomaram o cenário do deserto chileno viraram um problema ambiental. O projeto Atacama Re-Commerce quer transformar esse desperdício —e os problemas que ele gera— em oportunidade de dar uma segunda vida a essas peças, muitas delas de marcas renomadas como Calvin Kein, Nike, Zara e Adidas.

O projeto foi criado pela empresa de e-commerce VTEX, responsável pela plataforma digital do Re-Commerce, em parceria institucional com a Fashion Revolution, organização brasileira ligada ao ativismo da moda, e a Desierto Vestido, organização sem fins lucrativos dedicada a educar, conscientizar e incentivar a economia circular na indústria têxtil.

“Nossa missão é resgatar esses itens e dar a eles uma nova chance, promovendo um processo de conscientização sobre o consumismo exacerbado promovido pela indústria da moda atualmente”, afirma Mariano Gomide de Faria, CEO da VTEX.

“Nossa iniciativa convida à reflexão sobre os impactos do nosso atual modelo de produção, consumo e descarte desenfreado”, afirma Fernanda Simon, diretora executiva da Fashion Revolution Brasil. “Estamos vivendo uma emergência climática, e a indústria da moda precisa de compromissos mais robustos. Esta ação é uma forma de chamar atenção para o que está por trás das roupas e provocar novas formas de se relacionar com elas.”



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