A Revolta Dos Baby-Boomers (¹): O Tempo Não Espera Por Ninguém

Hoje, estranhamente, acordei por volta de quatro horas. Transpirava por todos os poros. De início, culpei a quente brisa noturna que adentrava pela janela do meu quarto. Porém, de imediato, pensei se não estaria o meu corpo desacostumado ao forte calor do interior de São Paulo nesta época do ano após ter enfrentado, há menos de 30 dias e por seis meses, o intenso frio da região central de Portugal.

À medida em que, gradativamente, eu me refrescava com uma ducha fria e revigorante, percebi que a razão do meu despertar não se relacionava ao calor e sim a uma série de sonhos aparentemente entrecortados. Eles decorriam de mais de dois dias de intensas atividades entre reuniões presenciais e online, na discussão de projetos e à profunda imersão num tema ao qual me dedico há mais de dez anos, a longevidade.

A partir daí, tudo ficou mais claro e os pensamentos começaram a, celeremente, fluir em minha mente.

Assim, numa longa sucessão de imagens apareciam idosos em Portugal e no Brasil. No país europeu, rodas de pessoas de idade avançada bem trajadas e com aparência saudável reunidos no café da tarde nas agradáveis pastelarias, enquanto que, por aqui, destacavam-se as fotografias de idosos miseravelmente vestidos nas intermináveis filas de um hospital público na periferia de grandes cidades.

Uma frase, repetida à exaustão pelo meu amigo e guru, Dr. Alexandre Kalache, médico geriatra e presidente do ILC – International Longevity Center-Brazil, martelava em minha cabeça. Ele diz algo como: “Os países mais desenvolvidos primeiramente enriqueceram para depois envelhecer, enquanto a população brasileira rapidamente envelhece na pobreza”.

Com esse “mantra” de pano de fundo, eu, um Baby-Boomer, estava revoltado. E me via na imagem seguinte, fazendo coro com conhecidos e amigos, homens e mulheres, de idades equivalentes à minha, em pé, postados em um plano superior, vociferando diante de uma plateia formada por pessoas mais jovens, das gerações X à Alpha.

Nós, os Baby-Boomers, estávamos nesse sonho – ou pesadelo – nos rebelando. Essa experiência reflete a nossa realidade. Sim, estamos nos rebelando, mas não contra o mundo, e sim contra a ideia de que envelhecer significa desacelerar, desistir ou aceitar limitações impostas pelo tempo.

Enquanto muitos das gerações mais novas ainda adiam os cuidados com a própria longevidade, essa geração está provando que nunca é tarde para viver mais e melhor.

No entanto, o alerta é claro: o tempo voa. E quando você acordar, pode ser tarde demais para garantir

um envelhecimento ativo e saudável. A boa notícia? Você tem a oportunidade de agir agora.

Para desfrutar plenamente das décadas futuras, não basta querer – é preciso construir a base hoje. E isso, de acordo com o doutor Kalache, envolve quatro capitais fundamentais:

  1. Financeiro. Quem pensa que a aposentadoria está longe pode se surpreender com a velocidade dos anos. Organizar-se financeiramente agora significa liberdade para escolher como viver o futuro.
  2. Saúde. Não adianta ter dinheiro sem vitalidade. Alimentação adequada, exercícios físicos e cuidados preventivos são investimentos que trazem retorno garantido.
  3. Social. O isolamento envelhece. Cultivar amigos, manter conexões e fortalecer laços familiares garantem suporte emocional e bem-estar.
  4. Conhecimento. O cérebro precisa de estímulos constantes. Aprender algo novo, manter-se atualizado e desafiar a mente previnem o declínio cognitivo.

A esses quatro capitais, eu acrescentaria um quinto, dica da psicóloga Edilene Mendonça, entrevistada num dos mais de 100 programas por mim produzidos e apresentados na Rádio Comunitária FM 106,3, de São Pedro, SP. Ela propôs o pilar Crença, com o sentido de que ter fé, seja em uma religião, filosofia ou propósito maior, dá sentido à vida e fortalece a resiliência.

E finalmente, como sempre procuro enfatizar numa luta insana e persistente comigo mesmo, de nada adianta seguir à risca esses capitais deixando-os à deriva do tempo. É preciso estarmos conscientes de que “Não Procrastinar” é a palavra de ordem a ser cumprida. O maior inimigo da longevidade é o “depois eu faço”. O momento de agir é agora – porque o tempo não para.

Fica o chamado às novas gerações. Os Baby-Boomers, em boa parcela deles, entenderam essa equação e estão na dianteira, provando que é possível envelhecer com qualidade. E você? Vai esperar para ver ou vai se juntar a nós nessa revolução da longevidade?

O relógio, em ritmo frenético, está correndo. Sempre é tempo, mas quanto antes, melhor.

(¹) O termo baby-boomer refere-se às pessoas nascidas entre 1946 e 1964, um período marcado pelo crescimento populacional acelerado após a Segunda Guerra Mundial. Essa geração cresceu em um mundo de grandes transformações sociais, políticas e tecnológicas, testemunhou a chegada da televisão, a corrida espacial, os movimentos pelos direitos civis e a ascensão da cultura jovem. Hoje, ao chegarem à fase da maturidade, muitos baby-boomers desafiam estereótipos do envelhecimento e buscam viver essa etapa com qualidade, saúde e propósito.

Autor:

Pedro Aguiar, Relações Públicas, Jornalista, Radialista e Copywriter, há mais de 11 anos é um entusiasta do tema Longevidade

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