Confissão de pastor faz evangélicos debaterem abuso espiritual – 31/03/2025 – Juliano Spyer


Um pastor confessou na semana passada ter cometido um pecado e anunciou que, por esse motivo, estava deixando a igreja que ele criou e tornou famosa. Desde então, evangélicos não falam de outro assunto. Por quê?

Ainda sabemos pouco sobre o que o ex-pastor Paulo Junior fez. Mas, aparentemente, seu pecado não tem a ver com sexo fora do casamento, com beber ou usar drogas nem com roubar a congregação. Seu “crime” foi tratar mal as pessoas de sua igreja.

Em vez de algoz, Paulo Junior vem sendo tratado como vítima por parte das pessoas que acompanham o debate —como se a cultura woke e o vitimismo da geração Z tivessem abatido um “guerreiro do Evangelho”. No Instagram, o número de seguidores dele continua aumentando.

Mas Paulo Junior é polêmico, conhecido por apontar publicamente o pecado dos outros. Por causa dessa postura, o pastor Silas Malafaia —que tem fama de julgar e criticar— profetizou que ele perderia seu ministério.

Paulo Junior é uma estrela no nicho calvinista do país —uma turma teologicamente mais intelectualizada, puritana e tradicionalista. Também é descrito como um desequilibrado emocionalmente, que não foi treinado em seminário para atuar como pastor.

Relatos de vítimas do ex-pastor nas redes sociais mencionam situações de humilhação pública. Por exemplo, mandar alguém trocar de roupa por achar a vestimenta imoral ou obrigar quem erra a comunicar a falta e pedir perdão a outros líderes da igreja.

O nome dado a esse pecado é “abuso espiritual”. É parecido ao assédio moral, agravado pela posição do pastor —alguém que fala e age em nome de Deus. A vítima se resigna diante da perspectiva de ser excluída do emaranhado de afetos constituído na igreja e pela culpa de contradizer a vontade de Deus.

Diferente da agressão física ou sexual, o abuso espiritual não deixa marcas visíveis. Os efeitos ficam dentro, não fora do corpo.

Livros populares entre evangélicos, como “Uma Igreja Chamada Tov” e “Jesus e John Wayne”, expõem práticas de assédio espiritual. Algumas vezes aparecem associadas à aproximação entre política e religião, à promoção de valores masculinos no estilo “cowboy” e à defesa da submissão das mulheres aos maridos.

O caso atual deve energizar evangélicos que sofrem ou sofreram abusos. Em comentário ao artigo do pastor Kenner Terra sobre o episódio, um leitor desabafa: “Eu costumava frequentar a Assembleia de Deus Brás 20 anos atrás, e só eu sei os abusos eclesiásticos que vi ali… Hoje nutro completa ojeriza por líderes religiosos”.

Essas práticas não acontecem em todas as igrejas nem são exclusividade do campo evangélico. Igrejas são frequentemente espaços de acolhimento para quem está no “lixão das almas”, descartado pela sociedade. Em tempos de polarização irracional, generalizar este caso provavelmente fortalecerá a liderança radicalizada.

Comentaristas influentes no campo, como Victor Fontana e Yago Martins, afirmaram que Paulo Junior errou, que as vítimas devem ser ouvidas e acolhidas e que pastores e suas comunidades devem repensar suas posturas. Isso é positivo.


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