Estreia de ‘Vale Tudo’ é 100% fiel à original – 31/03/2025 – Thiago Stivaletti


São Paulo

A Globo não foi boba. O primeiro capítulo de “Vale Tudo” foi 100% fiel à original, com diálogos idênticos aos da primeira versão. As redes sociais e os grupos de zap ferveram com uma temperatura que a emissora não via desde pelo menos “Pantanal”. E o jogo já virou para Bella Campos. A atriz que vive Maria de Fátima foi a mais criticada nas chamadas da novela, mas já na estreia colheu muito mais elogios do que críticas nas redes.

Não adianta: o brasileiro pode ter ficado mais de 30 anos sem ver novela. Mas foi só ouvir Gal Costa cantando “Brasil”, com aquele mosaico de imagens plurais e contraditórias que tentam dar conta do nosso imenso país, que todo mundo se arrepiou. As imagens da melhor abertura da melhor novela que a Globo já produziu agora incluem os evangélicos, o candomblé e o funkeiro ostentação – tudo abençoado pela imagem da própria Gal ao final. De arrepiar.

CHUVA DE BOLETOS

Voltando à novela: depois de muitos anos de histórias descoladas da realidade, como foi bom ver de novo um texto de Gilberto Braga mostrando a nossa classe média eternamente no sufoco com boletos para pagar, mensalidade de escola de filho aumentando, desemprego, inflação, enfim, a nossa eterna crise. E um jeitinho brasileiro que passa por cima de princípios básicos, representado por Maria de Fátima e César, que nunca nos abandonou pra valer.

O trabalho de mais de um ano de escalação do elenco já mostrou a que veio na estreia. Taís Araújo sabe defender uma mocinha como ninguém, e já começou a comer o pão que o diabo amassou nas mãos da filha (pena que o merchan da Vivo que ela estrelou logo antes da novela começar mostra que os tempos são os outros, e o patrocinador manda muito mais hoje do que em 1988). Cauã Reymond está no shape e na idade perfeita para viver o decadente César. Renato Góes parece que vai jogar na retranca como Ivan; difícil substituir Antonio Fagundes, mas não impossível.

E ficou faltando muita gente para entrar amanhã: a ex-bêbada agora alcoolista Heleninha, o corrupto Marco Aurélio, a generosa tia Celina, o mordomo Eugênio, a dupla cômica Aldeíde e Consuelo, o gentil Poliana. Apesar do bombardeio das chamadas, que dava a entender aos desavisados que Odete Roitman chega logo, será preciso esperar o capítulo 21, na quarta semana de novela. Se a Globo segurar o público até lá, vai ser difícil dar razão a quem ainda diz que a emissora não devia investir em remakes. A nostalgia, quando bem direcionada, pode dar uma imensa audiência.

Foto de Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow)



Source link

Adicionar aos favoritos o Link permanente.