Muitas vezes os primeiros sinais do TEA são sutis e podem passar despercebidos por familiares. Em muitos casos, pais e cuidadores percebem algo diferente no desenvolvimento da criança por meio de sua comunicação e da forma como ela reage aos sons, por exemplo: falta de resposta ao chamado do nome, sensibilidade exagerada a certos ruídos ou interação inadequada, estes sinais podem ser indicativos de que algo precisa ser investigado.
Outro ponto importante é que a perda auditiva é mais prevalente em crianças com TEA do que na população geral, o que pode impactar diretamente seu desenvolvimento. Por isso, a avaliação auditiva é um passo importante para o diagnóstico diferencial.
“O otorrinolaringologista é muitas vezes um dos primeiros especialistas a identificar sinais sugestivos do TEA, pois muitos pais buscam avaliações auditivas quando percebem que a criança não responde ao chamado do nome ou tem atraso na linguagem”, explica a Dra. Vanessa Magosso Franchi, otorrinolaringologista e presidente do Departamento de Foniatria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
Uma abordagem multidisciplinar para um diagnóstico preciso
Como o TEA é uma condição complexa, que afeta diferentes áreas do desenvolvimento, uma abordagem multidisciplinar é essencial para garantir um diagnóstico correto e um plano terapêutico adequado. O otorrinolaringologista e o foniatra colabora com neurologistas, fonoaudiólogos e psicólogos na exclusão de causas auditivas dos sintomas e no manejo de questões sensoriais, como hipersensibilidade auditiva e distúrbios do sono.
A médica reforça, ainda, que a identificação precoce do TEA permite intervenções mais eficazes e melhor qualidade de vida para a criança e sua família. Assim, a avaliação auditiva conduzida pelo otorrinolaringologista se torna uma etapa essencial no caminho para um desenvolvimento mais pleno. A indicação assertiva do melhor exame de audição a ser realizado de acordo com a idade e desenvolvimento de cada criança é expertise do otorrinolaringologista e foniatra, sendo fundamental para determinar se a criança tem algum grau de perda auditiva que pode impactar seu comportamento, socialização e desenvolvimento de fala e linguagem.
Sinais auditivos e de linguagem que podem fazer parte do quadro clínico do TEA
Muitas crianças com TEA apresentam alterações na forma como processam e respondem aos estímulos. A seguir, a especialista lista algumas características que podem indicar a necessidade de investigação:
- Respostas inconsistentes a sons: não atender quando chamado pelo nome, apesar de apresentar audição normal em exames (10 a 12 meses);
- Hiper-reatividade ou hipo-reatividade a sons específicos: reações exageradas a barulhos cotidianos (aspirador, liquidificador) ou, ao contrário, aparente indiferença a sons intensos. Algumas crianças podem parecer “seletivamente surdas”, ignorando certos estímulos enquanto reagem a outros;
- Fascínio por sons repetitivos: bater objetos repetidamente ou produzir ecos.
- Contato visual inconsistente;
- Falta de gestos comunicativos: apontar para compartilhar o interesse por algo (por volta dos 12 a 14 meses);
- Não responder ao sorriso ou à voz dos pais;
- Ausência de balbucio antes dos 12 meses;
- Atraso no surgimento das primeiras palavras, que geralmente ocorrem ao redor de 12 a 16 meses;
- Repetição de frases ou palavras sem contexto aparente, muitas vezes retiradas de desenhos ou conversas anteriores;
- Uso de “roteiros” de vídeos ou histórias para se comunicar, em vez de diálogos espontâneos;
“É fundamental entender que esses sinais devem ser interpretados em conjunto com avaliação multidisciplinar, ou seja, a presença deles não significa que a criança tem o diagnóstico”, conclui a doutora.
Sobre a ABORL-CCF
Com mais de 70 anos de atuação entre Federação, Sociedade e Associação, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Médica Brasileira (AMB), promove o desenvolvimento da especialidade por meio de seus cursos, congressos, projetos de educação médica e intercâmbios científicos entre outras entidades nacionais e internacionais. Busca também a defesa da especialidade e luta por melhores formas para uma remuneração justa em prol dos mais de 8.500 otorrinolaringologistas em todo o país.
¹Demopoulos, C., & Lewine, J. D. (2016). “Hearing Loss in Children with Autism Spectrum Disorder”. Laryngoscope, 126(1), 236 243. https://doi.org/10.1002/lary.25835
Kancherla, V., et al. (2022). “Autism Spectrum Disorder and Hearing Loss”. Journal of Autism and Developmental Disorders, 52(4), 1489-1502.
Autora:
Beatriz Felicio
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