Bolsonaro não chegará ao seu fim se for encarcerado – 05/04/2025 – Ricardo Araújo Pereira


Quando a Folha perguntou a Bolsonaro se uma eventual prisão seria o fim da sua carreira política, o ex-presidente respondeu: “É o fim da minha vida. Eu já estou com 70 anos.”

Fiquei surpreso com este drama exagerado. Me parece evidente que, se for preso, Bolsonaro conseguirá resistir. Pelo seu histórico de atleta, acredito que, caso fosse encarcerado, não precisaria se preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, afetado por uma gripezinha ou resfriadinho.

Ao longo do tempo, muita gente já foi presa, e é preciso enfrentar a prisão como homem, pô, não como moleque. Aliás, mantendo claro o que é a vida, e que todos nós vamos morrer um dia.

Além disso, chegaram boas notícias para Bolsonaro: a sua amiga Marine Le Pen foi condenada à prisão por desvio de verbas públicas e impedida de se candidatar à Presidência da República, o que é um escândalo. Bolsonaro tem um método para distinguir as decisões de tribunal que condenam políticos a penas de prisão e os proíbem de se candidatar à Presidência.

É um sofisticado sommelier de sentenças. Prova cada uma, com o seu apurado palato judicial e decide de acordo com o seguinte critério: se o político condenado é seu adversário, a sentença é justa; se o político condenado é seu aliado, a sentença é um escândalo.

Ao contrário daquelas pessoas mais rústicas, para as quais um réu deve ser condenado ou absolvido conforme gostem ou não da cara dele, Bolsonaro faz uma avaliação mais séria e profunda.

Que modelo de sociedade defende o bandido? Se seguirmos a ideologia de Bolsonaro, é um excelente bandido —e como a expressão “excelente bandido” é um oxímoro, ele deve ser absolvido.

Se o bandido é excelente, como pode ser um bandido? Os críticos do sistema judicial que Bolsonaro propõe dizem que ele é arbitrário, o que é completamente falso. Uma das características fundamentais do direito é a previsibilidade, e não há nada mais previsível do que isto.

Nenhum cidadão pode dizer que foi apanhado de surpresa. Sob a égide deste modelo de justiça, quaisquer réus terão direito à defesa. E a absolvição dependerá do seu engenho de demonstrar, perante o juiz, que, apesar de terem roubado, violado e/ou matado, concordam com Bolsonaro no essencial da ação política. Alguns nem terão de se esforçar muito.


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