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A maior tentativa de mudança na ordem comercial e geopolítica após a Segunda Guerra Mundial ainda está longe de um desfecho, mas já causa impactos tectônicos no mercado financeiro, produzindo riscos de aumento da inflação e de recessão global.
Há uma semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações e instituiu cobranças adicionais, que chamou de recíprocas, a uma série de países.
Os mais penalizados de início foram a China, com taxa de 54%, e os que servem como etapa intermediária na cadeia de fornecimento chinesa, caso do Vietnã.
A partir daí, instalou-se o caos. A China retaliou com tarifa de 34% sobre produtos americanos; os EUA elevaram as taxas cobradas do gigante asiático para 104%. Nesta quarta (9), Pequim respondeu com 84% e foi retrucada com 125% por Washington.
Trump também adiou por 90 dias a cobrança extra das nações que não adotaram medidas protetivas e que iniciaram negociações para manter acesso ao mercado americano —que representa 30% do consumo mundial. A tarifa mínima geral de 10%, que se aplica ao Brasil, fica mantida.
Por trás das decisões do republicano está a crença de que o comércio internacional não se dá em bases justas, por causa de subsídios e barreiras não tarifárias aplicadas por outros.
Essas seriam as causas do déficit comercial do país (cerca de US$ 1 trilhão anual), que erode a base industrial e os empregos, além de contribui para manter a posição devedora internacional —receita para o enfraquecimento geopolítico no médio prazo.
Trata-se de visão das mais obsoletas. As importações superam as exportações quando um país compra mais do que produz, e nada há de necessariamente errado nisso. Os EUA têm acesso a uma oferta global de artigos, da comida à alta tecnologia, que contribuem para o vigor de sua economia e o bem-estar da sociedade.
Na prática, o efeito do tarifaço é o fechamento dos mercados, que provoca grande perturbação no mecanismo delicado das cadeias mundiais de suprimentos. É difícil antever a amplitude do rearranjo das relações comerciais e políticas nos médio e longo prazos. Por ora, dada a incerteza absoluta, a tendência geral é de retração de investimentos, porta de entrada para uma recessão.
Resta esperar por negociações, mas dificilmente o objetivo principal —impedir a continuidade da consolidação da China como único centro produtivo competitivo— será abandonado, ainda que imponha custos ao mundo e aos próprios EUA.
No Brasil, a balbúrdia se reflete em piora das condições financeiras, volatilidade do câmbio e queda de cotações de produtos exportados, como petróleo, que afetará inclusive a arrecadação federal. Mais do que nunca, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa conter o ímpeto gastador para evitar que inflação e juros não subam ainda mais.
editoriais@grupofolha.com.br
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