Festivais reivindicam papel da literatura diante da encruzilhada global


Momento de escolha

O ciclo se encerra na Flitabira, entre os dias 29 de outubro a 2 de novembro. O evento será marcado pela entrega do prêmio Juca Pato, das mãos de Conceição Evaristo e Miriam Leitão, as vencedoras dos últimos dois anos.

Neste caso, a literatura e encruzilhada têm um encontro marcado com Carlos Drummond de Andrade e seu poema “Máquina do Mundo”.

“Era o começo da década de 1950, quando Drummond publicou “Claro Enigma”, o volume que nos trouxe “A Máquina do Mundo”, conta Abranches. “Um tempo de muitas transformações no Brasil e no mundo, desenvolvimento, reconstrução do após-guerra, mundo bipolar. Ela se abriu para o poeta naquele momento em que havia muita perplexidade, insegurança “e a esperança mais mínima”, diz.

O curador destaca que hoje vivemos novos tempos de mudanças muito radicais, digitalização, avanço da tecnologia sobre as atividades humanas, algoritmos selecionando o que devemos ver nas plataformas de troca de informações, avanços autoritários, perplexidade, insegurança e, novamente, a esperança mais mínima.

“Uma encruzilhada, com alguma luz, com caminhos a escolher onde “a treva mais estrita” ainda pousa”, diz.

“É como se Drummond dialogasse conosco para a escolha do tema deste 5º Flitabira”, avalia Abranches. “A literatura é nosso centro, nossa periferia, nosso norte, nosso sul, nossa encruzilhada. É o espaço da liberdade que nos permite escrever como quisermos e o que quisermos. Drummond fazia isto”, constata.

Para ele, a literatura precisa ser ambiciosa e buscar essa “total explicação da vida” de que o poeta nos fala nesse poema. “É o que a cada um busca fazer em suas circunstâncias singulares”, diz.

“A máquina do mundo está se abrindo para nós e a literatura está ajudando a nos mostrar a encruzilhada que ela representa. A encruzilhada é o ponto da escolha, nela ainda há luz e “a mínima esperança” e temos que escolher um novo caminho, quando todos eles ainda estão ainda sob “”a treva mais estrita””, destaca.

Abranches aponta que o poeta nos alerta que seria em vão repetirmos o passado, “os mesmos sem roteiro tristes périplos”. “A máquina do mundo nos convida a inovar, buscar novas respostas e, até novas perguntas”, diz.

“A máquina do mundo, que “se entreabriu (?) majestosa e circunspecta é uma metáfora para a imagem que muitas culturas fazem da encruzilhada, um ponto de renovação, em que se abrem vários caminhos”, afirma o curador.

“É um momento de escolha”, completa Abranches.





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