Na semana passada, instado a comentar o esforço do bolsonarismo para votar a anistia a toque de caixa, Motta declarou que a Câmara não poderia virar “Casa de uma pauta só.” Falou em “pacificação”. Acenou para o Judiciário e o Executivo. Parecia buscar um grande acordo.
Discutir no âmbito do Supremo Tribunal Federal o tamanho das penas é uma coisa. Perdoar a turba que desceu do acampamento no QG do Exército para produzir na Praça dos Três Poderes um caos capaz de anular as urnas é coisa bem diferente. É como confundir clemência com amnésia.
Nesta terça-feira, Motta postou nas redes que discutirá a anistia com os líderes, pois numa democracia “ninguém tem o direito de decidir nada sozinho.” Realçou a necessidade de levar em conta “as instituições” e “a população brasileira”.
As instituições merecem respeito. A sociedade informa por meio das pesquisas que deseja a aplicação da lei, não a clemência. Diz-se que a anistia beneficia apenas os bagrinhos do 8 de janeiro. Conversa mole.
O texto contém brechas para o perdão de Bolsonaro e seus cúmplices graúdos —os fardados e os paisanos. Anistiar quem ainda não foi condenado é como desfritar um ovo que nem foi à frigideira. É um golpe dentro do golpe.
O pedido de urgência do PL não obriga Hugo Motta a levar o perdão aos golpistas para o plenário. Há na fila outros 1.136 requerimentos pedindo a votação de propostas em ritmo emergencial.