Lula precisa de educação feminista – 15/04/2025 – Mariliz Pereira Jorge


Fosse a primeira vez que Lula trata mulheres como apêndice da sociedade, acreditaria que, ao chamar a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, de “mulherzinha”, apenas se referia a sua estatura, ainda que ele mesmo não tenha tamanho para esse desdém. O problema não é só o que Lula disse, mas o tom do seu comentário, que evidencia o desprezo pela profissional: “Você nem me conhece, eu não te conheço. Como é que você fala que o Brasil vai crescer 0,8%?” Os passadores de pano de plantão hão de dizer que o presidente fala assim com todos, a mesma justificativa dada pelos bolsonaristas à misoginia crônica do Inelegível.

Lula é reincidente nos episódios de machismo. Não são gafes nem deslizes, muito menos brincadeiras. O presidente não renova suas referências, talvez porque seu entorno siga monocromático como sempre, cheio de muitos homens e muitos homenzinhos. O discurso sobre pluraridade só subiu a rampa para ficar bonito na foto.

Essa visão limítrofe do mundo contemporâneo é generalizada. Num dia, Lula descredibiliza uma autoridade com o rótulo de “mulherzinha”. No outro, Sergio Moro, senador e inimigo mortal do presidente, cobra rigidez do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que para ele age como uma “moça”.

É inadmissível que o feminino seja associado à inferioridade, incompetência ou fragilidade. Lula e Moro reforçam estereótipos embolorados. A diferença entre os dois, além do abismo político, é que o senador fala a um público que não se importa que mulheres sejam retratadas de forma pejorativa. Uma parte da audiência do presidente silencia, apesar do desconforto, enquanto a outra ignora o machismo e ataca quem o critica.

Lula é ótimo exemplo de que faltam políticas públicas que coloquem o homem no foco do letramento feminista. Seu discurso é repleto de clichês ultrapassados, que relacionam vigor à performance sexual, romantizam casamento infantil, menosprezam a capacidade das mulheres, tratam violência como piada. O governo deveria desenvolver cartilhas e treinamento de “feminismo para leigos”, convocar os servidores e chamar o presidente para a aula inaugural.


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