O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) decidiu suspender a greve de fome que iniciou como forma de protesto contra o processo de cassação do seu mandato, aprovado pela Comissão de Ética da Câmara. O parlamentar anunciou o fim do jejum nesta quinta-feira (17), após firmar um acordo com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), garantindo que a votação do caso no plenário só ocorrerá após um prazo de 60 dias.
Braga permaneceu oito dias em jejum, ingerindo apenas água, soro e isotônicos, enquanto se mantinha acampado no Plenário 5 da Câmara. A greve começou após a comissão decidir, por 13 votos a 5, pela perda do seu mandato. A justificativa foi um episódio ocorrido em abril de 2024, quando ele discutiu e expulsou o militante do Movimento Brasil Livre (MBL), Gabriel Costenaro, das dependências da Câmara.
Glauber Braga ganha tempo para articular sua defesa
O encerramento da greve foi costurado por parlamentares próximos a Braga, como Lindbergh Farias (PT-RJ) e a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que também é sua companheira. Ambos articularam diretamente com Hugo Motta uma forma de garantir tempo hábil para que o deputado consiga montar sua defesa e tentar reverter votos a seu favor no plenário.
Além disso, já está prevista uma reunião com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Paulo Azi (União Brasil-BA), na próxima terça-feira (22), para tratar do recurso que a defesa de Braga pretende apresentar. A CCJ terá até cinco dias para analisar o documento. Se aprovado, o processo retorna ao Conselho de Ética. Caso contrário, segue para votação em plenário.
Apesar da movimentação, a expectativa entre aliados é de que a reversão do processo na CCJ seja improvável. Por isso, a estratégia se concentra agora no convencimento direto dos deputados que participarão da votação final.
A cassação de Braga se tornou também um ponto de tensão entre grupos políticos. O deputado e seus aliados consideram que o processo é uma retaliação por sua atuação contra o chamado “orçamento secreto”. Em 2024, foi ele quem liderou, junto ao PSOL, a ação judicial que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a suspender o uso das emendas parlamentares que, segundo ele, eram distribuídas de forma sigilosa e com fins eleitoreiros.
Durante esse período, Braga chegou a acusar o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de “sequestrar” o orçamento público. Lira, por sua vez, negou qualquer perseguição e declarou que qualquer acusação feita sem provas poderia resultar em medidas judiciais.

A desconfiança quanto à atuação da cúpula da Casa em favor da cassação cresceu após o episódio no dia 9 de abril, quando Hugo Motta convocou a Ordem do Dia — fase em que o plenário passa a deliberar proposições — logo após o encerramento da reunião da Comissão de Ética. Isso impediu que o tema fosse debatido nas demais comissões ainda naquele dia.
Durante os dias de greve, Braga recebeu o apoio de parlamentares e influenciadores alinhados à esquerda, que fizeram vigílias e atos na Câmara em defesa de seu mandato. “Vamos fazer de tudo para não cassarem o mandato de Glauber. Deixar claro que o seu mandato é muito importante, mas mais importante é você com saúde e vivo para cumprir a sua missão”, declarou Sâmia Bomfim durante uma das mobilizações.
A equipe médica que acompanha o deputado elaborou um protocolo de transição alimentar após os dias de jejum. Segundo nota divulgada por sua assessoria, Braga seguirá sob cuidados nos próximos dias para garantir uma recuperação segura.
Em pronunciamento, ele agradeceu o apoio da bancada do PSOL, de assessores e de todos que acompanharam a mobilização. “Vou anunciar a suspensão da greve de fome, mas quero fazer agradecimentos e depois falar da política: onde estamos, quais são as próximas etapas e para onde nós vamos”, afirmou.
Por ora, o caso continua em curso. O recurso à CCJ e a contagem do prazo de 60 dias marcarão os próximos capítulos dessa disputa, que se estende além das paredes da Câmara. Enquanto isso, o deputado afirma que manterá a mobilização e buscará reverter a decisão junto aos colegas parlamentares.
Assista o momento em que Glauber Braga encerra jejum:
Vídeo: reprodução Metrópoles