A dor que divide opiniões: chute nos testículos ou parto normal, qual dói mais?

Quem nunca ouviu aquele velho debate entre homens e mulheres sobre qual dor é mais insuportável: dar à luz ou levar uma pancada nos testículos? Por mais improvável que pareça, a ciência tem algo a dizer sobre isso — e não, não é simples dar um veredito. A dor, afinal, é subjetiva, mas a medicina tem tentado mensurá-la com uma ferramenta bastante conhecida em hospitais e clínicas: a Escala Visual Analógica de Dor, ou simplesmente EVA.

Essa escala vai de 0 a 10, sendo 0 ausência de dor e 10 a pior dor imaginável. Com base nos relatos de pacientes, é possível mapear onde se encaixam algumas das experiências dolorosas mais intensas conhecidas, como o parto normal, fraturas múltiplas e, sim, um chute nos testículos. O que os dados mostram é que todas essas experiências habitam o topo da escala, com pontuações entre 9 e 10. Mas por razões muito diferentes.

Dor aguda, súbita e que pode fazer desmaiar

Quando se trata do trauma testicular, especialistas explicam que, mesmo sendo uma dor de curta duração, os efeitos são violentos, mas mediatos. A dor pode ser tão intensa que provoca reações físicas severas: náuseas, vômitos, suor excessivo, tontura e até desmaios. Há ainda a chamada dor referida, que irradia para o abdômen e até para a cabeça — consequência do fato de que, durante o desenvolvimento embrionário, os testículos se formam no abdômen antes de descerem ao escroto.

“Você sente dor por causa de receptores e nervos”, explica o urologista Nathan Starke, diretor da Clínica de Saúde Masculina do Hospital Metodista de Houston. “E do ponto de vista evolutivo, isso faz sentido. A dor extrema serve como um alerta para proteger os testículos, que são essenciais para a reprodução”, afirma o médico.

De acordo com relatos clínicos e comparações feitas com base na EVA, um chute nos testículos pode atingir nota 9,5 a 10, rivalizando com fraturas múltiplas — como quebrar cinco ossos de uma só vez — ou mesmo um parto duplo sem anestesia. O impacto, mesmo que breve, é suficiente para derrubar uma pessoa, literalmente.

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Pancada nos testículos: a dor pode ser tão intensa que provoca reações físicas severas

Parto: dor prolongada, intensa e cheia de desafios

Do outro lado da discussão, o parto natural é frequentemente citado como uma das experiências mais dolorosas que uma mulher pode enfrentar. A intensidade varia conforme a duração do trabalho de parto, a força das contrações e o uso (ou não) de analgesia. De acordo com especialistas, a média gira entre 5 e 6 na Escala EVA, mas pode facilmente alcançar o nível máximo quando há complicações ou ausência de anestesia.

“O parto humano é especialmente difícil. Somos os únicos primatas que precisam de ajuda para dar à luz”, observa a bioantropóloga Holly Dunsworth, da Universidade de Rhode Island. Segundo ela, o processo é resultado de uma combinação de fatores: bebês com cérebros grandes, quadris estreitos e uma gestação longa. Tudo isso faz do parto uma jornada dolorosa e exaustiva, que pode durar horas — ou até dias.

Durante o trabalho de parto, os músculos do útero se contraem com força extrema, os ossos da pelve são forçados a se mover e o corpo inteiro se mobiliza para dar passagem ao bebê. “Cada contração é como uma cãibra muscular intensa”, descreve Bart Putterman, obstetra do Pavilhão Infantil para Mulheres do Texas.

Mas o que diferencia a dor do parto de um trauma testicular é o fator psicológico. A expectativa, o medo e a ansiedade que cercam o momento do nascimento são tão significativos que deram origem a um termo específico: tokofobia, o medo patológico de dar à luz, que afeta cerca de dois terços das mulheres nos Estados Unidos.

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O parto normal é frequentemente citado como uma das experiências mais dolorosas que uma mulher pode enfrentar em sua vida

Dores diferentes, sofrimentos incomparáveis

Apesar da curiosidade popular e das tentativas de comparar essas dores, médicos e pesquisadores concordam que não há como declarar um “vencedor” nessa disputa. Cada dor tem suas características únicas — enquanto a dor testicular é aguda, repentina e avassaladora, a dor do parto é prolongada, desgastante e cheia de componentes emocionais.

A comparação, no entanto, tem ajudado pesquisadores a entender melhor como o corpo humano responde à dor extrema. Estudos indicam que tanto o parto quanto um trauma testicular podem levar o organismo a seu limite, ativando os mesmos circuitos cerebrais e provocando reações físicas intensas.

De forma curiosa, muitas vezes o empate é dado por outra dor ainda mais cruel: a causada por pedras nos rins, frequentemente citada como uma das piores experiências relatadas por pacientes de ambos os sexos.

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