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Autor de mais de 20 obras de ficção e outras tantas de ensaio e de jornalismo, Mario Vargas Llosa nunca tuitou na vida. Não precisava. Qualquer declaração sua, artigo de opinião e entrevista logo estavam nas redes, provocando admiração ou rechaço. “Um escritor brilhante”, eis o comentário-modelo no dia de sua morte, a que se seguia a ressalva: “Mas um pensador medíocre”.
Um livro pouco badalado —”O Chamado da Tribo”— descreve, em primeira pessoa, a trajetória intelectual do Nobel peruano, o percurso que o levou a virar o disco, do jovem impregnado de marxismo e existencialismo sartreano ao homem maduro empurrado para o liberalismo sob influência de Adam Smith, Ortega y Gasset, Raymond Aron. O que mais pegou, contudo, foram as experiências pessoais, como o fracasso da candidatura à Presidência do Peru.
Antes de romper com Fidel Castro e se afastar de García Márquez, Cortázar e Carlos Fuentes —que com ele formavam o núcleo do chamado boom latino-americano de literatura—, Vargas Llosa viajou a Cuba cinco vezes. Em todas, não gostou do que viu. Lecionando na Universidade de Londres, viveu de perto os onze anos do governo Thatcher e se apaixonou pela Dama de Ferro.
Nos últimos anos apoiou candidatos da extrema direita (Bolsonaro, Milei, José Antonio Kast no Chile, Keiko Fujimori no Peru, filha do presidente corrupto que o derrotou em 1990). Não poupou Lula nem Dilma. Ao mesmo tempo era a favor do aborto e da legalização das drogas. Criticou Putin (“Um ditador sanguinário”) e Trump (“Rebaixou os EUA à condição de país terceiro-mundista”). A palavra populismo lhe causava coceiras e engulhos.
É possível separar o autor da obra? A ideologia sempre prejudica a reflexão literária. É comum ouvir que os primeiros romances de Vargas Llosa —”A Cidade e os Cachorros”, “A Casa Verde”, “Conversa no Catedral”— são superiores àqueles escritos após a guinada à direita. Uma tremenda injustiça com “A Guerra do Fim do Mundo”, “História de Mayta”, “Lituma nos Andes”, “A Festa do Bode”, “O Sonho do Celta”.
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