Algumas pessoas têm uma única carreira ao longo da vida e nela se aposentam, como o juiz Ado, 75 anos de idade, 48 na magistratura. Outros, como encrenqueiro Abuhz Ado, irmão do juiz, encerram as atividades precocemente. Assassino serial preso aos 29 anos de idade, ele se suicidou na cadeia, com 3 facadas nas costas.
Mas a maioria das pessoas transita por diversas carreiras ao longo da vida profissional. Os multitarefas não terminam nada no prazo, outros mais faltam do que trabalham e tem ainda os que não param em emprego algum. Muitos nem se aposentam.
Ítalo Prado se encaixa nessa categoria. É ex garçom, ex confeiteiro, estelionatário e ex quase tudo. Cursou o ensino técnico dos 19 aos 26 anos. Iniciou vários cursos, mas não se formou em nada. Dizia que ainda não tinha encontrado a carreira certa. Tentou várias atividades: corretor zoológico (bicheiro), harmonizador facial, coach de depilação axilar, animador de asilo etc. Por onde passou, deu vexame. Quando inventaram o serviço de “marido de aluguel”, interessou-se pelo trabalho e pôs anúncio no jornal. Porém, entendeu mal o espírito da coisa e até hoje responde processos por assédio.
Ítalo Prado é inteligente, mas muito atrapalhado. Conseguiu emprego num Cartório através de indicação política. O Auxiliar do Oficial de Casamentos equivocou-se com a papelada, trocou o nome do noivo pelo do pai (esqueceu-se do Júnior), confundiu-se com o nome da noiva e casou o pai do noivo com a amante. A mãe do noivo teve infarto fulminante, a amante foi promovida a esposa e o pai arrumou outra amante para substituí-la. Shakespeare dizia que tudo vai bem se acaba bem. Tudo acabou bem, menos para a mãe do noivo.
Depois de outras tentativas, Ítalo Prado estabeleceu-se como planejador de eventos: noivados, casamentos, inaugurações pomposas etc. Centralizador, não confia em ninguém e quer fazer tudo sozinho, mas as tarefas se acumulam e a coisa sai do controle. Com vários eventos simultâneos, escalou strippers para animar a quermesse e instalou Pau de Sebo num bufê infantil. Maridos e crianças amaram.
A tia avó o contratou para organizar a cerimônia de ingresso das noviças no Convento que ela apoia. No mesmo dia, um amigo se casava com a sobrinha de um Bispo ultraconservador e na véspera, surgiu um velório inusitado que pagava muito bem. Velórios são sempre “em cima da hora” e este era de um ricaço, playboy e bon vivant, cujo último desejo era cerimônia ao melhor estilo New Orleans.
Ele quis atender a tia avó, garantir a festa do amigo e caprichar no velório do ricaço, novo campo de trabalho. Nada poderia dar errado. À exceção do velório, que não é programado com antecedência, ele pesquisou sobre a iniciação de noviças e casamentos conservadores. Daria tudo certo, não fosse pelos endereços desses eventos. A cerimônia das Noviças era próxima à estação Metrô Conceição; o velório na Vila Nova Cachoeirinha e o casamento na Vila Nova Conceição. Duas Vila Nova e duas Conceição. Na hora de despachar os veículos de serviço, a logística se complicou.
A noiva checou a despedida de solteiro na rede social do noivo, decidiu abandoná-lo e fugiu com o motorista da limusine. As dançarinas do Mardi Gras, carnaval de New Orleans, deveriam animar o velório, mas foram mandadas para o casamento. Arrasaram chegando ao som de “Na Boquinha da Garrafa”. O noivo, demitido via WhatsApp, aproveitou a oportunidade e casou-se com a madrinha da bateria.
O coral de Canto Gregoriano agradou a viúva e abreviou a cerimônia fúnebre, para alívio geral. As noviças receberam os arranjos florais que eram para o velório, com a inscrição “Nunca te esqueceremos. Dos seus parceiros de orgia”. A Madre Superiora só se acalmou quando lhe entregaram um lindo jarro dourado recheado com ervas aromáticas que deram toque especial às refeições do Convento. E foi assim que se esclareceu o sumiço das cinzas do falecido.
Ítalo Prado abandonou a área de eventos e procurava o que fazer quando a viúva do ricaço, amante de um influente Senador, nomeou-o para assumir um cargo na Comissão de Orçamento do Congresso. Ele tem o perfil ideal e experiência para o cargo. Vida que segue!
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