A escolha da atriz cisgênero Thainá Duarte para interpretar Geni na adaptação de Geni e o Zepelim causou forte reação da comunidade trans e de artistas LGBTQIA+. A personagem, criada por Chico Buarque, vem sendo lida como travesti através dos anos, e a ausência de uma atriz trans no papel gerou acusações de transfobia e apagamento.
Renata Carvalho,diretora e atriz trans, comentou em suas redes sociais que a decisão é mais um exemplo do apagamento das vivências trans na mídia. Ela afirmou que a escolha de uma atriz cis para esse papel é um reflexo da falta de espaço para pessoas trans no cinema, o que é uma prática recorrente, conhecida como transfake.
Liniker, uma das maiores vozes da música e cultura trans, também se posicionou contra a decisão. Ela destacou em suas redes sociais: “Quando trazemos a reflexão em nossos textos desde que saiu essa matéria e nos posicionamos pelo apagamento, é por espaço e oportunidade que nos colocamos, por termos atrizes trans que poderiam sim dar vida a essa personagem”. Para Liniker, a representação correta seria uma afirmação da visibilidade das pessoas trans, e não o apagamento delas em papéis que são, de fato, sobre suas próprias experiências.
Nas redes sociais, a reação foi intensa. Muitos internautas defendem que a adaptação deveria ter dado espaço a uma atriz trans. Alguns sugeriram que a produção havia perdido uma oportunidade de contribuir para a visibilidade trans no cinema brasileiro.
A diretora Anna Muylaert, responsável pela adaptação, defendeu sua escolha dizendo que a personagem Geni em sua versão cinematográfica seria uma mulher cis amazônida, inspirada na canção de Chico Buarque, mas com uma releitura livre. Ela ressaltou que o filme busca dar uma nova interpretação à história, sem se prender à figura de Geni como uma travesti, inclusive rebatendo as acusações de transfake, afirmando que não é o caso, uma vez que a personagem da adaptação é cis. Mas também disse que está disposta a repensar a escalação.
Essa polêmica reacendeu o debate sobre o que significa a representação autêntica no cinema e como as decisões de casting podem refletir a exclusão de grupos marginalizados. O termo transfake voltou a ser discutido como um reflexo da falta de oportunidade para artistas trans, que continuam a ser excluídas de papéis que, por sua natureza, deveriam ser interpretados por elas.