Em meio a chocolates, vitrines enfeitadas e feriados prolongados, o verdadeiro significado da Páscoa muitas vezes é esquecido. Para muitos, trata-se apenas de um dia de descanso ou de trocas de presentes. No entanto, a Páscoa é, acima de tudo, um convite à reflexão sobre temas profundos — entre eles, o perdão.
Na tradição cristã, a Páscoa representa a ressurreição de Jesus Cristo, símbolo maior de amor, renovação e misericórdia. É impossível ignorar o gesto de Jesus ao perdoar aqueles que o condenaram, mesmo enquanto era crucificado. Esse ato extremo de compaixão nos provoca a pensar: estamos realmente dispostos a perdoar? A deixar para trás o rancor, o orgulho ferido, as mágoas antigas?
Essa mesma reflexão atravessa a literatura universal. Em Anna Karenina, de Liev Tolstói, somos apresentados a personagens que enfrentam dramas morais profundos, muitos deles marcados pela ausência do perdão. Anna, por exemplo, é julgada duramente pela sociedade por ter rompido com as convenções da época, mas o que mais a consome é a falta de perdão a si mesma. Seu destino trágico revela como a culpa e a ausência de reconciliação podem corroer até o mais íntimo do ser humano. Em contrapartida, Levin, outro personagem central da obra, encontra paz quando começa a compreender o valor da fé, da humildade e do perdão como parte da vida.
A Páscoa nos lembra justamente disso: que perdoar não é esquecer, nem aceitar tudo passivamente, mas sim um passo de libertação. É romper com o ciclo da dor e abrir espaço para a esperança e a renovação. Assim como Levin, talvez todos nós estejamos em busca de sentido — e o perdão pode ser um bom começo.
Portanto, nesta Páscoa, que tal ir além dos ovos e do feriado? Que tal refletir sobre os laços que precisam ser restaurados, sobre as culpas que precisam ser aliviadas, sobre os recomeços possíveis? O verdadeiro espírito pascal não está nas vitrines, mas na coragem de perdoar — aos outros e a nós mesmos.
Autora:
Sonele Fábia Silva Santos
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