Pedro David Port, poeta, escreveu até quase o final. Lançou sua última obra, “A Dança da Grou Pernalta”, em 2023. Mesmo debilitado, o lançamento ocorreu na livraria Desterrados, no centro de Florianópolis, em Santa Catarina.
O livro é considerado a sua criação mais extensa e erudita.
“Resultado de anos de elaborações semânticas e refinamento lexical, o texto une mitologia e rigor métrico, conferindo musicalidade às palavras e movimento às ideias, numa coreografia literária virtuosa e vertiginosa de grande maestria”, diz o amigo Remy Fontana, professor universitário aposentado.
Pedrinho, como também era conhecido, nasceu em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, em 1941. Iniciou sua carreira literária em 1964, com dois conterrâneos, Paulo Gouveia e Tupinambá de Azevedo, com a publicação da antologia poética intitulada “Poesia Vezes Três”, que ganhou prefácio de Mario Quintana (1906-1994).
Em 1969, formou-se em filosofia na PUC e trabalhou na imprensa em Porto Alegre como repórter e crítico de cinema.
Após uma prolongada passagem pela cordilheira dos Andes, fixou residência na capital catarinense. Em 1979, publicou “Vento Sul”, pela editora Noa Noa. No mesmo ano, terminou a pós-graduação em literatura brasileira na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e deu curso de estética para professores de literatura. Publicou ainda “Cântaros”, pela editora Athanor.
Por 19 anos, desde 2000, criou cadernos de poesias para continuar divulgando sua produção.
“Ele foi um poeta no sentido clássico da palavra, meio jocoso, meio folclórico, no mundo da lua. Vivia intensamente a condição de poeta, era a vida dele”, afirma Fontana, que, além de amigo, foi vizinho por dez anos no bairro da Lagoa da Conceição.
“Na ditadura estávamos todos juntos. Ele, ativo politicamente em grupos, fazia intervenções culturais, ajudava a programar as propagandas políticas de pequenos partidos de esquerda”, conta.
Franzino, o poeta não se intimidava e vendia seus pequenos livros de mão em mão por Florianópolis.
“Como todo poeta marginal, ele publicou muito livrinhos, que vendia em mesas de restaurantes, bares, para pessoas no bairro da Lagoa da Conceição, que é bem turístico. Ele era muito fraterno, desarmado, muito bem quisto, uma pessoa esplendorosa”, afirma.
Pedrinho não abandonava o cigarro, o que causou problemas respiratórios frequentes. Morreu em 9 de março, em decorrência de uma pneumonia, aos 84 anos.
Deixou Telma Piacentini e Cristina Cabral, ex-esposas, e os filhos, Vicente Piacentini, Felipe Piacentini e Vinicius Cabral, além de muitos amigos e leitores.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missa