Histórias em quadrinhos ganham espaço como aliadas da educação no Brasil

As histórias em quadrinhos (HQs) deixaram de ser vistas apenas como entretenimento infantojuvenil. No Brasil, pesquisadores, educadores e instituições de ensino vêm reconhecendo o potencial acadêmico e social desse gênero, destacando sua capacidade de ampliar o acesso ao conhecimento, promover a leitura e contribuir para a democratização da educação. Um dos estudiosos que têm se dedicado a essa discussão é o professor e pesquisador Iramir Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que analisa a importância das HQs como ferramentas pedagógicas e culturais.

Segundo Araújo, as HQs funcionam como uma ponte entre o mundo letrado e os leitores iniciantes, oferecendo uma forma de leitura mais acessível, dinâmica e visual. A combinação de linguagem verbal e não verbal facilita a compreensão de conteúdos complexos e estimula o interesse por temas diversos, desde literatura clássica até questões sociais e científicas. “O quadrinho é uma forma de arte que comunica com diferentes públicos, e tem potencial para despertar o gosto pela leitura em estudantes que, muitas vezes, se sentem distantes do universo literário tradicional”, afirma o pesquisador.

Essa visão dialoga com uma tendência nas escolas públicas e privadas brasileiras, onde professores têm inserido HQs nos projetos pedagógicos como forma de diversificar as práticas de leitura e tornar o aprendizado mais significativo. Obras como Maus, de Art Spiegelman, Vidas Secas em quadrinhos, de Graciliano Ramos adaptado por André Diniz, e produções nacionais como Turma da Mônica Jovem têm sido utilizadas em sala de aula para abordar conteúdos curriculares e temas transversais, como diversidade, direitos humanos e cidadania.

Além do aspecto educacional, Araújo destaca o papel social das HQs, especialmente em contextos marcados pela desigualdade de acesso à cultura e à informação. Ele defende que os quadrinhos podem funcionar como instrumentos de inclusão, ao oferecerem conteúdos atrativos e acessíveis para leitores de diferentes idades, formações e classes sociais. “É uma linguagem que rompe barreiras. Quando um jovem da periferia encontra uma HQ que fala da sua realidade ou traz personagens com os quais ele se identifica, há uma conexão imediata. Isso é potente do ponto de vista educativo e social”, enfatiza.

O impacto também se reflete em pesquisas acadêmicas que analisam suas estruturas narrativas, estéticas e discursivas. Cada vez mais presentes em programas de pós-graduação, os quadrinhos vêm sendo objeto de estudos nas áreas de Letras, Educação, Comunicação e Ciências Sociais. Essa valorização contribui para consolidar as HQs como um campo legítimo de produção de conhecimento e expressão artística.

No entanto, apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem enfrentados, como o preconceito que persiste em parte do meio acadêmico e editorial, que tende a subestimar o valor literário das HQs. Para o pesquisador, é preciso superar essa visão elitista da leitura e reconhecer a diversidade de formas e linguagens que compõem o universo literário contemporâneo. “Literatura não é só o que está nos livros canônicos. O quadrinho também é literatura, também é arte, e também educa”, defende.

Com o crescimento da produção nacional de HQs, o fortalecimento de políticas públicas de incentivo à leitura e a ampliação do acesso às mídias digitais, os quadrinhos se consolidam como um recurso pedagógico cada vez mais relevante. Ao unir linguagem, imagem e narrativa de forma única, eles contribuem para formar leitores mais críticos, criativos e conscientes do seu papel na sociedade.

 

 

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