Vladimir Putin ofereceu interromper sua invasão à Ucrânia na linha de frente atual como parte de negociações de paz com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
Durante uma reunião em São Petersburgo no início deste mês, o presidente da Rússia disse ao enviado especial de Trump, Steve Witkoff, que Moscou poderia renunciar às suas reivindicações sobre áreas de quatro regiões ucranianas parcialmente ocupadas que permanecem sob controle de Kiev, disseram três informantes.
Os EUA desde então teriam sugerido ideias para um possível acordo que inclui Washington reconhecendo a propriedade russa da península da Crimeia da Ucrânia, anexada desde 2014, bem como pelo menos reconhecendo o controle de fato do Kremlin sobre as partes das quatro regiões que atualmente detém.
A proposta é a primeira indicação formal que Putin deu desde os primeiros meses da guerra há três anos de que a Rússia poderia recuar de suas demandas radicais para encerrar a invasão. Mas autoridades europeias informadas sobre os esforços dos EUA para encerrar a guerra alertaram que Putin provavelmente usaria a aparente concessão como isca para atrair Trump a aceitar outras demandas da Rússia e forçá-las sobre a Ucrânia como um fato consumado.
“Há muita pressão sobre Kiev agora para desistir de coisas para que Trump possa reivindicar vitória”, disse uma autoridade sob anonimato.
Autoridades ucranianas devem se reunir com representantes europeus e americanos em Londres nesta quarta-feira (23) para discutir as últimas propostas. No entanto, Witkoff e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, cancelaram suas participações na reunião, de acordo com autoridades americanas e europeias. O enviado da Ucrânia, Keith Kellogg, ainda deve comparecer.
O conselheiro de política externa de Putin disse nesta terça-feira (22) que Witkoff visitaria Moscou ainda esta semana, de acordo com agências de notícias russas.
Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, disse ao Financial Times: “Um trabalho tenso está em andamento. Estamos conversando com os americanos. O trabalho é difícil e leva muito tempo, então é difícil esperar resultados imediatos, e o trabalho não pode ser feito em público.”
Trump postou nas redes sociais no domingo (20) que esperava que Ucrânia e Rússia “fechassem um acordo esta semana” e então “começassem a fazer negócios com os EUA, que estão prosperando, e fazer uma fortuna!”
Os EUA sugeriram ideias que a Casa Branca espera que possam formar os contornos de um possível acordo em uma reunião em Paris na semana passada com autoridades europeias e ucranianas.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse nesta terça que não recebeu uma proposta de Trump delineando passos específicos para encerrar a guerra da Rússia. Mas ele disse que, uma vez que um cessar-fogo estivesse em vigor, ele estaria pronto para conversas diretas com Putin. “Há sinais, ideias, discussões, mas não é uma proposição oficial”, disse Zelenski. Se tal proposição oficial surgisse, acrescentou, “nós responderemos”.
Autoridades ucranianas de alto escalão disseram ao FT que estavam receptivas a algumas das ideias sugeridas por Trump e sua equipe sem especificar quais em particular. As propostas dos EUA incluem o envio de um contingente de paz europeu à Ucrânia, bem como uma força militar separada, não pertencente à Otan, para ajudar a monitorar um cessar-fogo ao longo de uma zona desmilitarizada que abrange toda a linha de frente de mais de mil quilômetros.
A força trabalharia em conjunto com as forças ucranianas e russas monitorando o armistício em seus respectivos lados da chamada linha de contato. Em um possível acordo, a Ucrânia se comprometeria a não retomar territórios ocupados pela Rússia à força, enquanto a Rússia concordaria em interromper o avanço lento de seu Exército.
Não está claro se Trump pediu formalmente à Ucrânia que reconhecesse a anexação da Crimeia pela Rússia. Mas Zelenski reiterou sua posição sobre a península do mar Negro nesta terça, dizendo: “A Ucrânia não reconhecerá a ocupação da Crimeia. É nosso território, o território do povo da Ucrânia, não há nada a discutir aqui.”
A Rússia também rejeitou algumas das sugestões dos EUA, incluindo uma presença militar de países da Otan na Ucrânia.
Mas pessoas familiarizadas com o assunto disseram que Putin estaria potencialmente disposto a ceder em sua demanda anterior por controle total sobre as quatro regiões ucranianas na linha de frente – Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia —se os EUA fizessem concessões geopolíticas mais amplas a Moscou, como reconhecer seu controle da Crimeia e impedir a Ucrânia de ingressar na Otan.
