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Os cardeais que viajaram a Roma para eleger o próximo papa no conclave que terá início na quarta-feira (7) às vezes parecem tão polarizados ideologicamente quanto muitos eleitores seculares ao redor do mundo.
À primeira vista, eles parecem se dividir entre os campos esquerda e direita que caracterizam disputas políticas na maioria dos países. Muitos líderes conservadores da Igreja Católica discordaram do papa Francisco, que frequentemente era defendido por progressistas em todo o mundo.
Mas as divisões típicas entre conservadores e progressistas não correspondem tão perfeitamente às batalhas ideológicas dentro do Vaticano e da igreja em geral.
Embora haja algumas exceções entre os cardeais, a questão que mais consistentemente marcou Francisco como progressista —sua feroz defesa dos migrantes e dos pobres— não o afasta necessariamente da norma, uma vez que a Igreja Católica fez da mensagem do Evangelho de abrigar e alimentar estranhos um princípio fundamental.
Em última análise, a escolha dos cardeais equivalerá a um referendo sobre se devem estender o legado de inclusão e abertura de Francisco. “Foi assim que ele deu sentido a viver em uma era altamente polarizada”, diz Anna Rowlands, teóloga política da Universidade de Durham, na Inglaterra.
Mais do que qualquer outro tema, a escolha do próximo pontífice será dominada por uma questão filosófica: quem merece participar das decisões sobre o futuro da Igreja Católica?
Processo decisório
Francisco frequentemente argumentou que católicos praticantes comuns —incluindo mulheres e pessoas LGBTQIA+— deveriam ser consultados sobre a direção da Igreja. Ele convidou leigos para se sentarem com bispos para discutir questões controversas em reuniões do Vaticano chamadas sínodos.
Ele foi contestado por líderes conservadores, que podem estar ansiosos para retornar à tomada de decisões centralizada. “Acho que a conversa terá de seguir as linhas de ‘podemos nos livrar disso?'”, diz Miriam Duignan, diretora executiva do Instituto Wijngaards para Pesquisa Católica em Cambridge, na Inglaterra.
Outra divisão importante é entre aqueles que acreditam que a igreja deve acolher a todos —incluindo pessoas cujas vidas não correspondem aos ensinamentos tradicionais da instituição— e aqueles que pensam que apenas os totalmente comprometidos com a doutrina católica devem ser admitidos.
Mulheres na igreja
Dois anos atrás, Francisco, pela primeira vez, permitiu que mulheres votassem em uma reunião de bispos.
No ano passado, ele adiou uma decisão sobre se as mulheres poderiam ser ordenadas como diaconisas, membros do clero que podem pregar e presidir casamentos, funerais e batismos.
Francisco deixou claro que queria que as mulheres tivessem mais opções além de “coroinhas ou presidente de uma instituição de caridade”, mas resistiu à ideia de que elas precisavam participar da hierarquia da igreja. Em muitos lugares com escassez de padres, as mulheres cada vez mais fazem o trabalho de ministrar aos fiéis.
Os conservadores dizem que permitir que as mulheres sejam diaconisas criaria um caminho para que elas se tornassem sacerdotisas. Eles argumentam que fazer isso violaria 2.000 anos de doutrina, apesar de evidências históricas sugerirem que mulheres atuaram como diaconisas na igreja primitiva.
Padres casados
A igreja tem uma escassez de padres em muitos países. Em 2019, uma cúpula de bispos católicos romanos recomendou que Francisco permitisse que homens casados servissem como padres na remota região amazônica, onde a escassez é particularmente grave.
Um ano depois, Francisco disse que precisava de mais tempo para considerar a proposta histórica, decidindo que a Igreja ainda não estava pronta para suspender sua restrição de aproximadamente mil anos que exige que os padres sejam homens solteiros e celibatários. Muitos de seus apoiadores que esperavam que ele fosse um papa de mudanças radicais se sentiram decepcionados.
Divórcio
Sobre a questão dos católicos divorciados e recasados, Francisco pediu que os padres não os tratem como párias e que os recebam com “portas bem abertas”.
Francisco abriu o debate sobre permitir que católicos divorciados e recasados recebam a comunhão mesmo que não tenham seus casamentos anteriores anulados por um tribunal da igreja.
Mas, no final, ele recuou de qualquer mudança na lei da instituição e simplesmente encorajou os padres a serem acolhedores com católicos divorciados e recasados.
Orientação sexual
Francisco inaugurou uma nova era para católicos LGBT quando, em 2023, permitiu que padres abençoassem casais do mesmo sexo. Ele deixou claro que o casamento estava reservado para relacionamentos entre uma mulher e um homem, mas suas mudanças ainda provocaram a ira dos conservadores, especialmente na África e na América do Norte.
Em países da África e outras regiões onde a homossexualidade é crime, Francisco condenou explicitamente a criminalização, mas permitiu que bispos na África proibissem padres de abençoar casais do mesmo sexo devido ao perigo caso eles fossem expostos.
Abuso sexual
Alguns entre a hierarquia da igreja gostariam de declarar encerrada a crise de abuso sexual por padres católicos. Mas sobreviventes de abuso e ativistas alertam que práticas e a mentalidade nas paróquias locais não mudaram o suficiente para prevenir casos futuros ou lidar com a dor dos existentes.
Uma declaração do gabinete de imprensa do Vaticano na sexta-feira (2) disse que os cardeais estavam discutindo o abuso sexual na igreja como uma “ferida a ser mantida aberta, para que a consciência do problema permaneça viva e caminhos concretos para sua cura possam ser identificados”.
O Sul Global
As maiores áreas de crescimento para a Igreja Católica estão na África e na Ásia. Os cardeais que selecionam o próximo papa certamente estão discutindo se devem escolher alguém de uma dessas regiões.
Quem eles elegerem precisará lidar com a proliferação de culturas e tradições, bem como heranças espirituais, entre novos seguidores. Alguns podem vir com diferentes expectativas sobre qual papel a fé desempenha em suas vidas e como devem acomodar suas regras.
Independentemente de o novo papa vir ou não dessas regiões, ele “deve estar pronto para falar sobre as injustiças que existem” nas relações “entre o Norte Global [nações desenvolvidas] e o Sul Global [países em desenvolvimento] na política internacional”, disse Nora Kofognotera Nonterah, teóloga da Universidade de Ciência e Tecnologia Kwame Nkrumah em Gana. “Um papa não pode fugir disso no século 21.”
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