O que Cecília quer é ser livre. Ser livre é ter responsabilidade, pois estamos condenados a sermos livres. Todavia, tentam moldá-la com falsa liberdade. Liberdade? Liberdade para quem? Para o outro, a liberdade é o consenso: é renunciar a si mesmo para se limitar e se encaixar. Mas, diz ela: eu não quero o consenso, eu quero ser livre!
Luís da Silva não consegue se moldar, pois sua escrita, seu modo de dialogar, sua vida e seus trejeitos são únicos, não conseguindo a devida compreensão do outro. Do mesmo modo, Cecília é como o personagem de Graciliano Ramos. Não se encaixa e não é compreendido, não é o que quer. O que quero? – diz Cecília. Responsabilidade, pois que responsabilidade é liberdade, porquanto estamos condenados a sermos livres – já dizia Jean Paul Sartre.
O outro, no entanto, urge que Cecília siga suas prescrições, sob pena de sanções. Todavia, o consenso atravanca Cecília. Esta não vê opção: precisa descumprir as normas do outro. Este a sanciona negativamente, mas Cecília é indiferente. O que ela quer? Ela quer ser livre, ou melhor, uma condenada a sê-lo.
Liberdade, para Hayek, é suportar as consequências das suas decisões, incluindo seus erros. O que eu quero? – questiona Cecília. “Eu quero errar e suportar o peso da liberdade. Quero poder assumir as rédeas de minha vida, sem o temido consenso: um limite, imposto externamente, pelo outro”. O que é o outro? O outro é externo, coercitivo e também limitante. “Mas o que eu quero, mesmo, é suportar os encargos de ser livre”.
Desse modo, a liberdade requer a responsabilidade de lidar com os encargos de seus próprios atos. Realmente, Sartre estava correto ao dizer que estamos condenados a sermos livres. Cecília não quer ser livre, mas quer ser condenada a de fato sê-lo.
Autor:
Erick Labanca Garcia. Graduando em Direito do 5° Período UNIFAGOC, estagiou no Procon, estagiário da DPMG, escritor de artigos de opinião, ensaios e artigos científicos da área jurídica.
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