Pernambuco enfrenta crise ambiental com aumento de microplásticos nas praias

Os resultados mostraram que foram encontradas 1.406 partículas de microplásticos nas praias a partir das amostras analisadas. Todas as praias examinadas apresentaram a presença desses micropoluentes, com a praia do Paiva sendo a mais impactada, mesmo não tendo um alto fluxo de pessoas.

João Pedro Souza | Redação PE


BRASIL – O litoral de Pernambuco, conhecido por suas praias como Porto de Galinhas, Tamandaré e Praia do Paiva, enfrenta uma ameaça grave que compromete não apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública e a economia local: a contaminação por microplásticos. Estes fragmentos plásticos minúsculos, com dimensões inferiores a cinco milímetros, estão disseminados em larga escala nas areias e nas águas, resultado de décadas de negligência ambiental e exploração desenfreada dos recursos naturais.

Pesquisas revelam crise ambiental

Estudos recentes do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) revelam um aumento alarmante na presença de microplásticos nas praias de Pernambuco. A coleta das amostras começou em 2022 e apontou que a Praia do Paiva, localizada no Cabo de Santo Agostinho, apresenta 695 fragmentos por amostra de 200ml de sedimento.

Em Porto de Galinhas, uma das praias mais famosas do Brasil, foram encontrados 320 fragmentos por amostra. A Praia de Tamandaré registrou 300 fragmentos por amostra demonstrada. Esses números são particularmente preocupantes em regiões onde a fiscalização ambiental é deficiente e a conscientização pública sobre os perigos do plástico ainda é limitada.

Os resultados mostraram que foram encontradas 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com o nylon azul destacando-se como o mais prevalente, representando 63% do total. Todas as praias examinadas apresentaram a presença desses micropoluentes, com a praia do Paiva sendo a mais impactada, mesmo não tendo um alto fluxo de pessoas.

Além de contaminar a água e a areia, os microplásticos entram na cadeia alimentar e são consumidos por peixes e outras formas de vida marinha. Estes animais são, em última análise, ingeridos pelos seres humanos, havendo implicações para a saúde pública que ainda não são totalmente compreendidas.

Investigações preliminares da Universidade do Novo México sugerem que a ingestão de microplásticos pode afetar tecidos dos rins, do fígado e até do cérebro. Outros estudos detectaram fragmentos de microplásticos no coração, no sistema sanguíneo e em fetos humanos. Portanto, o que começou como um problema ambiental tem o potencial de se transformar em uma crise de saúde global, exacerbada pela globalização do sistema capitalista.

O capitalismo prioriza o lucro

Impulsionada por um modelo de produção orientado pelo lucro, a indústria dos plásticos tem sido um dos principais contribuintes para a poluição que afeta os ecossistemas marinhos em todo o mundo. Em nome da conveniência e do consumo desenfreado, o plástico tornou-se onipresente, desde simples embalagens até itens de uso diário. O verdadeiro custo desta “conveniência” é mascarado e transferido para o ambiente e, portanto, para as gerações futuras. O sistema capitalista dá prioridade ao lucro sobre qualquer valor ambiental, perpetuando assim uma economia de resíduos que incentiva a eliminação enquanto a responsabilidade pelo impacto ecológico é sistematicamente ignorada.

A resposta dos governos a essa crise tem sido insuficiente. As regulamentações ambientais, quando existem, são frequentemente flexibilizadas para atender aos interesses das grandes corporações que buscam o lobby com as prefeituras em detrimento de mais espaço para usufruírem de isenções fiscais sem nenhuma contrapartida.

As iniciativas de reciclagem e de redução da utilização de plástico, embora importantes, não são suficientes para resolver a escala do problema. Em muitos casos, a reciclagem é um processo ineficiente e economicamente inviável, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. 

Para resolver verdadeiramente a crise dos microplásticos e, por extensão, a crise ambiental global, é necessária uma mudança radical na forma como produzimos e consumimos. É necessário romper com a lógica capitalista, no qual torna o meio ambiente como um recurso infinito a ser explorado dando prioridade aos lucros em detrimento das vidas. A prioridade é uma transição para uma economia planejada que minimize os resíduos e utilize os recursos de forma eficiente e regenerativa, além de priorizar um trabalho de conscientização coletiva.

A conscientização coletiva e a mobilização social são fundamentais para impulsionar mudanças nas políticas públicas em defesa do meio ambiente. Para proteger nossas praias, nossos oceanos e nossa saúde, é preciso reimaginar nossa relação com o planeta e adotar um modelo de desenvolvimento que seja verdadeiramente sustentável e equitativo.

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