Bancada goiana reage a atentado na Praças dos Três Poderes

Por Francisco Costa

Ainda abalados, deputados federais lamentaram ao O Hoje o atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, com a explosão de bombas, na noite de quarta-feira (13). Eles citaram questões como cultura da paz, saúde mental, extremismo e defesa da democracia. Alguns deles estavam no prédio do Congresso, quando ocorreu a violência.

Ao O Hoje, o deputado federal por Goiás Ismael Alexandrino (PSD) disse que o que aconteceu é “uma sandice com motivação política que ultrapassou todos os limites”. Para o congressista, “a exacerbação política está deixando as pessoas doentes mentais, descoladas do que importa no dia a dia e fazendo as relações humanas serem doentias e violentas”.

Ele defende que a cultura de paz precisa ser defendida no Brasil e nas famílias a todo instante. “Se isso não acontecer de forma consciente e reiterada, cada vez mais as pessoas e instituições estarão ameaçadas, a sociedade estará animalizada e o que reinará será o instinto primitivo de sobrevivência, descolado de qualquer atributo humano desenvolvido.”

Já a deputada Silvye Alves (União Brasil) afirmou que este atentado evidencia o quanto a segurança é falha. Ela lembra que muitas pessoas passam pelo local, inclusive políticos. “E também pessoas em busca de ajuda, por exemplo. Eu passo por aquele mesmo local onde houve as explosões no carro todo dia. Foi em frente ao anexo do meu gabinete”, cita.

Conforme Silvye, o ocorrido é um alerta para que a sociedade pense na saúde mental das pessoas. “Muitas estão adoecidas e exaltando isso no extremismo político. Triste chegarmos a uma situação como essa”, lamenta e lembra que estava na Câmara no momento das explosões. “Tivemos que esperar muito tempo para sair. Só depois da varredura nas proximidades permitiram a saída.”

Também ao veículo de comunicação, a deputada Adriana Accorsi (PT) declarou que o ato “muito grave” demonstra o perigo dos extremistas hoje no Brasil. “Não é um ato isolado e sim uma consequência da política de ódio do [ex-presidente] Bolsonaro e aliados, que esbravejam ódio ao STF em manifestações – que até o governador de Goiás participou – e que falam em precisar ‘dar a vida’ pelo País e contra o presidente Lula.”

Para ela, ainda é muito grave existir um assunto como a defesa da anistia para terroristas. Atualmente, existe uma comissão que analisa anistiar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “Há um ano, tentaram explodir um caminhão de bombas no aeroporto, lembra? É uma política do ódio.”

Seu colega de partido, o deputado Rubens Otoni foi na esteira. Ele considerou que esse é um resquício de um pensamento autoritário que não respeita os poderes da república e a democracia. “É consequência das ações irresponsáveis de janeiro do ano passado com atos de vandalismo e violência. O importante é que mais uma vez o Brasil demonstra que tem uma democracia sólida e que não se rebaixa a atos desta natureza.” 

Pelas redes sociais, o deputado José Nelto (PP) também se manifestou. Ele repudiou o “ato terrorista” e afirmou que “a democracia não será insultada pelos extremistas”. A congressista Marussa Boldrin (MDB), por sua vez, classificou o ato como “um triste capítulo na nossa história”. E ainda: “Ver episódios assim demonstram que está faltando civilidade. A mudança que queremos precisa vir da vontade e da conscientização do povo, não por meio da violência”.

Caiado culpa Lula

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) utilizou as redes sociais, após o atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para criticar o governo federal. “Fraco e apático”, escreveu na rede X. Segundo o gestor estadual, “as explosões ocorridas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, constituem o retrato de um País que está à deriva”. “É o que tenho dito há alguns meses: com a falta de comando no País, na ausência de um líder forte, o extremismo e o crime organizado avançam.”

O governador é pré-candidato à presidência da República. Ele, que tenta se viabilizar como nome da direita na disputa ao Palácio do Planalto, não tem poupado críticas à gestão federal.

Ainda nas redes sociais, ele citou que “faccionados se acham no direito de assassinar à luz do dia em pleno Aeroporto Internacional de Guarulhos” e que, três dias depois, ocorre um atentado “contra a vida e a ordem, em atos terroristas na Suprema Corte e no Congresso Nacional”.

“A verdade é que temos um Governo Federal fraco e apático, que se omite diante dos problemas mais graves que afligem o povo brasileiro e se ajoelha diante do avanço do crime organizado e do extremismo. É preciso agir de forma dura e enérgica, sob pena de nos transformarmos num País comandado pelo crime organizado e pela desordem”, concluiu.

Atentado

Na noite desta quarta-feira, um carro explodiu em frente aos prédios governamentais do Brasil. Outra explosão ocorreu nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O incidente resultou na morte de uma pessoa. A vítima foi encontrada em frente ao prédio do STF.

Trata-se de Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França. Ele foi o responsável pela explosão. Ex-candidato a vereador em Rio do Sul (SC) pelo Partido Liberal (PL) em 2020, ele anunciou previamente o ato em suas redes sociais e explicou a escolha da data: “Eu não gosto do número 13”.

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Tiü França compartilhou prints de mensagens enviadas a si próprio no WhatsApp, onde detalhava seu plano de explosão e criticava políticos de esquerda, chamando-os de “comunistas”. Em uma das mensagens, ele afirmou que a data, além de representar uma aversão pessoal, tinha, para ele, um significado sombrio: “Tem cheiro de carniça igual cachorro quando morre”.

Além disso, o homem, que era conhecido por suas críticas ferozes a figuras políticas, atacou, entre outros, o vice-governador Geraldo Alckmin (PSB), os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, e o jornalista William Bonner, apresentador do Jornal Nacional em publicações.

Testemunhas

Por volta das 19h30 de quarta, testemunhas relataram estrondos intensos, vindos de diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios. Logo em seguida, equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal foram acionadas para conter um incêndio em um carro carregado de fogos de artifício, que explodiu no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados. A situação mobilizou forças de segurança, que isolaram a área para prevenir novos riscos.

Em nota, a assessoria de imprensa do STF informou que, ao final da sessão desta quarta-feira, dois estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados em segurança. “Os servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela. Mais informações sobre as investigações devem aguardar o desenrolar dos fatos. A segurança do STF colabora com as autoridades policiais do DF”, destacou a nota.

Uma testemunha afirmou ter presenciado o momento em que um homem explodiu nas proximidades do STF. Laiana Costa, funcionária do Tribunal de Contas da União (TCU), relatou: “A gente ouviu a primeira explosão, depois da segunda explosão eu olhei para as pessoas e aí simplesmente os seguranças do STF vinham (em direção ao homem), quando ele jogou novamente (os explosivos), o cara já caiu e eles (seguranças) se afastaram”.

Atos antidemocráticos

Para delegados da Polícia Federal, a explosão de duas bombas nas cercanias do Supremo e da Câmara dos Deputados tem relação com o “inquérito dos Atos Antidemocráticos”. Por causa disso, deve caber ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, relatar o processo de investigação do caso.

Essa investigação deve esclarecer se Francisco Wanderley Luiz agiu sozinho ou teve ajuda para preparar e realizar o crime. O homem-bomba era filiado ao PL de Santa Catarina desde 2020. Ele chegou a criticar tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro quanto o presidente Lula (PT) em mensagem. (Especial para O Hoje)

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