Saúde ocular em risco: como o uso excessivo de telas está afetando as crianças

Com as férias chegando e as crianças em casa, muitos pais enfrentam o desafio de equilibrar a diversão com a segurança dos pequenos. No entanto, um fator que tem ganhado cada vez mais atenção é o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celulares e tablets. Durante esse período de descanso, é comum que o tempo de exposição a telas aumente significativamente, o que pode ter consequências sérias para a saúde física, emocional e cognitiva das crianças.

Embora a tecnologia tenha trazido inúmeros benefícios, como o acesso à informação e a possibilidade de comunicação instantânea, os especialistas alertam que o uso desenfreado de dispositivos móveis está trazendo danos irreparáveis para a visão e o comportamento dos mais jovens. O problema se agrava ainda mais em um momento em que, com o aumento do uso das telas, muitas crianças ficam cada vez mais afastadas das atividades ao ar livre, fundamentais para seu desenvolvimento saudável.

A crescente dependência das telas pode parecer inofensiva à primeira vista, mas novos estudos revelam que esse comportamento tem consequências graves. O psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro A Geração Ansiosa, alerta para a relação entre o uso excessivo de smartphones e o aumento de problemas emocionais e comportamentais nas crianças e adolescentes. O estudo, que foi lançado recentemente nos Estados Unidos e no Reino Unido e será publicado em breve no Brasil, sugere uma mudança urgente nas práticas familiares, recomendando um corte radical no acesso às redes sociais e smartphones para crianças abaixo de 16 anos.

De acordo com Haidt, os dispositivos como Instagram, TikTok e outros aplicativos têm sido mais prejudiciais do que benéficos para o desenvolvimento emocional dos mais novos. A recomendação de cortar o acesso à tecnologia, embora controversa, se baseia em dados que mostram uma clara ligação entre o uso excessivo de telas e o aumento da ansiedade e da depressão entre os jovens.

No âmbito da saúde física, um dos maiores riscos que o uso de telas excessivo impõe é o aumento de problemas oculares. A Dra. Mônica Alves, oftalmologista especializada em oftalmopediatria, destaca que o tempo prolongado diante das telas está diminuindo a proteção ocular natural das crianças. “Hoje em dia, as crianças estão perdendo a reserva de proteção ocular que elas nascem, o que antes era mais comum em adolescentes, mas agora é visível em crianças de apenas 2 ou 3 anos”, alerta a especialista.

O avanço da miopia infantil

Entre os problemas mais críticos causados pelo uso excessivo de telas está a miopia, uma condição que tem se tornado cada vez mais comum entre as crianças. De acordo com Fábio Ejzenbaum, coordenador do Grupo de Trabalho de Oftalmologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo prolongado olhando para telas de celulares e tablets está sendo um dos principais fatores responsáveis pelo aumento da miopia. “O grande vilão é a indução de miopia. O excesso de telas e a baixa exposição a atividades externas são fatores que favorecem o aparecimento dessa condição”, afirma Ejzenbaum.

A miopia é uma condição onde a visão de longe fica embaçada, e com a progressão da doença, a criança pode enfrentar dificuldades permanentes de visão. Estudos indicam que crianças que passam muitas horas em atividades digitais, com os olhos fixados a uma tela a uma distância muito curta, têm uma probabilidade maior de desenvolver miopia em uma idade precoce.

A Sociedade Brasileira de Pediatria, em sua publicação mais recente, alerta que já é possível identificar os impactos das telas na visão das crianças, com sintomas que incluem dificuldade de acomodação ocular, olho seco, fadiga ocular e dores de cabeça. Além disso, estudos têm mostrado que 70% dos casos de miopia entre crianças e adolescentes têm aumentado desde o início da pandemia, quando o uso de dispositivos digitais cresceu ainda mais.

A necessidade de limitar o uso de telas

Para conter os efeitos negativos dessa exposição excessiva à tecnologia, especialistas recomendam que os pais estabeleçam limites rigorosos quanto ao tempo de tela, ajustando-o conforme a faixa etária. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que crianças com menos de 2 anos não devem ter nenhum tempo de exposição a telas. Para as crianças entre 2 e 6 anos, o tempo de tela deve ser limitado a uma hora por dia, enquanto para as de 6 a 10 anos, o ideal é no máximo duas horas diárias. Crianças com mais de 11 anos podem ter até três horas diárias de contato com telas, mas sempre com intervalos regulares, evitando o uso contínuo.

De acordo com a Dra. Mônica Alves, é fundamental que os pais incentivem atividades ao ar livre e que promovam pausas a cada 20 ou 30 minutos de exposição a dispositivos digitais. Ela explica que a luz azul emitida pelas telas pode prejudicar o sono, além de forçar o músculo ocular, o que pode levar a dores de cabeça e fadiga ocular.

Desenvolvimento saudável

Com o avanço da tecnologia e a crescente presença dos dispositivos móveis na vida das crianças, é cada vez mais difícil para os pais manter o controle sobre o tempo de tela. Contudo, o alerta dos especialistas não pode ser ignorado. A Dra. Mônica Alves enfatiza que o cuidado com o tempo de exposição digital é essencial para evitar danos permanentes à visão das crianças, e que o uso das telas deve ser sempre intercalado com atividades externas que promovam o desenvolvimento físico e cognitivo.

Embora a tecnologia tenha transformado a sociedade de maneiras inimagináveis, a saúde das futuras gerações não pode ser negligenciada. Para garantir que as crianças cresçam de maneira saudável, é necessário que os pais se envolvam ativamente, monitorando o tempo de uso das telas e incentivando atividades ao ar livre e interações sociais reais. Só assim será possível preservar o desenvolvimento saudável e garantir um futuro melhor para as novas gerações.

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