Fortaleza da Ilha de Araçatuba: conheça 5 curiosidades sobre o monumento histórico no extremo sul de Florianópolis

A bela atração no litoral catarinense já fez parte de estratégia militar utilizada no século 18

Localizada entre a Ponta dos Naufragados, no extremo sul de Florianópolis, e a Ponta do Papagaio, a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha de Araçatuba, em Palhoça, é uma atração turística histórica que chama a atenção de quem transita pelas paisagens da redondeza. À primeira vista, a estrutura parece ser um mausoléu, mas ela carrega consigo quase três séculos de história. Apesar de pequeno, o relevo que emerge das águas verdejantes da Baía Sul já foi utilizado na defesa militar da Ilha em meados do século 18.

As ruínas da fortificação podem ser avistadas das praias do Sonho, Pinheira e de Naufragados. Também há barqueiros nas praias que realizam passeios nas águas próximas a ilha, com valores que variam entre R$50,00 e R$100,00. Um dos itens que mais chama atenção no conjunto arquitetônico é a bateria de artilharia circular, situada no platô da ilha.

Santa Catarina possui ao todo 47 ilhas distribuídas ao longo da costa. Dentre as pequenas, apenas três foram utilizadas como fortaleza: A Ilha de Ratones Grande, onde está a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones, a Ilha de Anhatomirim, com a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim e a Ilha de Araçatuba, que abriga a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição.

A ilha atrai inúmeros turistas ao longo do ano (Foto: Divulgação/Natiele Benincá)

Confira cinco fatos sobre a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição

1. Foi construída há quase três séculos

A fortificação foi projetada pelo primeiro governador da Capitania de Santa Catarina, o brigadeiro português José da Silva Paes, e construída entre 1942 e 1944. A fortaleza foi uma estratégia militar empregada para intensificar a defesa do litoral catarinense, que estava sob domínio português, das investidas de outros países, principalmente dos espanhóis, que tinham forte interesse nas riquezas sul-americanas. Entretanto, no dia 23 de março de 1777, a esquadra espanhola, composta por 117 navios, desembarcou em Canasvieiras. Os inimigos invadiram por terra, para evitar o ataque dos canhões das fortalezas. Com a invasão, a armada portuguesa recuou para o continente. Portugal voltou a ter domínio sobre a Ilha somente após um ano e meio da invasão.

2. A fortificação fazia parte de um sistema defensivo com outras três fortalezas

Inicialmente, o sistema defensivo da Ilha de Florianópolis era composto pelo triângulo da barra da Baía Norte da Ilha, formado pela Fortaleza de Anhatomirim (Governador Celso Ramos), pela Fortaleza de Ratones (Ilha de Ratones) e pela Fortaleza da Ponta Grossa (Praia do Forte). Posteriormente, em 1742, a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha de Araçatuba, foi construída com a função defensiva de proteger a entrada da Baía Sul da Ilha.

3. Atualmente a fortaleza ainda conta com alguns canhões

Segundo levantamento historiográfico, em 1786, a estrutura contava com uma artilharia composta por dez canhões de ferro – quatro de calibre 18 libras, três de 12 libras e três de 8 libras. A armada tinha preferência por canhões de bronze, já que eles podiam ser reutilizados. “O metal [bronze] era derretido e convertido em novos canhões ou em estatuárias. Quando ele perdia sua vida útil depois de um tempo de uso, ele podia ser reutilizado. Já o canhão de ferro não. A tecnologia para reutilizar o canhão de ferro Portugal não dominava, era mais complicado e muito mais caro”, pontua o arquiteto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Roberto Tonera. Devido ao valor arqueológico das peças, os itens de bronze foram recolhidos da ilha, enquanto os canhões de ferro permanecem na fortificação, sendo possível o avistamento ao se aproximar do ilhéu.

Bateria circular de canhões da fortaleza, em 1992 (Foto: Divulgação/Projeto Fortalezas Multimídia/UFSC)

4. O local é fechado para visitação em terra

Atualmente, devido à inexistência de praia e a dificuldade de atracação, somada a falta de serviço ao público na ilha e a depredação praticada por alguns visitantes, o desembarque é restrito por determinação do Ministério do Exército, responsável pela jurisdição da ilha. Entretanto, há várias opções de passeio de barco que circundam a ilha e proporcionam uma contemplação da paisagem e da estrutura, mesmo que de longe.

5. Foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Apesar de não se encontrar em um bom estado de conservação, a Fortaleza de Araçatuba, também conhecida como Ilhéu da Fortaleza, foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1980. De acordo com o acervo do Projeto Fortalezas Multimídias da UFSC, a fortificação foi utilizada em meados do século passado como alvo para exercícios militares, que, somada a degradação natural, contribuiu para o arruinamento da construção. Atualmente a ilha é considerada uma área de preservação.

Segundo o arquiteto Roberto Tonera, a fortaleza teve um projeto de restauração elaborado pela universidade no começo dos anos 2000, quando ainda possuía a tutela da Ilha de Araçatuba, mas que, por problemas operacionais e pela dificuldade de execução, não foi realizada. “Houve também um trabalho de consolidação de ruínas, realizado em 1991 pela UFSC, em que foram feitas algumas intervenções para garantir uma maior conservação do monumento, como o escoramento das muralhas e a substituição do telhado do paiol de pólvora. Mas foram obras de manutenção emergencial, para garantir a sobrevida da fortaleza até o momento em que ela possa ser restaurada”, afirma. Tonera trabalha há quase 40 anos com as fortalezas de Santa Catarina. Ele também é criador e administrador do Banco de Dados Internacional sobre Fortificações e autor do livro As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786.

Vista norte da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba (Foto: Divulgação/Projeto Fortalezas Multimídia/UFSC)

Texto: Mariana Machado (acadêmica de Jornalismo)

 

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